domingo, 31 de julho de 2011

Utoya (quase Utopia)




Oslo é, desde 1901, a capital da Paz. Cenário do único Prémio Nobel lá entregue, precisamente o da Paz. Cidade pacata, capital de um país próspero e civilizado onde no dizer dos próprios habitantes e ao contrário do que se possa pensar, afinal também há Verão. O ano passado parece que foi a uma terça-feira.
Este ano na cidade da Paz e na ilha de Utoya (quase Utopia) um só indivíduo, ao que aparenta ter sido, matou, primeiro no centro político da cidade, à bomba e depois na ilha, à queima-roupa, perto de uma centena de pessoas na sua esmagadora maioria jovens auditores de um evento político do Partido Trabalhista local (actualmente no Poder).
Ao que parece um só homem, Anders Behring Breivik, de 32 anos que não quis ser mártir (ao contrário dos terroristas islâmicos e este afirma-se "cristão"), apenas quis ser "herói". Após esta carnificina arriscamo-nos a tê-lo de volta perto dos 50 anos, pois sendo a pena máxima na Noruega de 21 anos de prisão, um pouco como por cá, só que lá parece que ninguém é "suicidado" nas prisões.
Mais uma vez urge desfazer uma velha e grande confusão e, para isso, nada como recorrer aos velhos e grandes Mestres:

"A inteligência (...) e outros talentos do espírito (...), ou até mesmo a coragem, a decisão, a perseverança, enquanto qualidades do temperamento, são sem dúvida, em muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; mas estes dons da natureza podem também tornar-se extremamente maus e funestos se a vontade que deles vier a fazer uso, e cujas disposições particulares são, a justo título, denominadas carácter, não for boa."

Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,I


Anders Breivik acusou ainda vários líderes europeus de "traidores" rendidos ao "multiculturalismo" e o homem parece que não é "nazi". Aliás, diz admirar Churchill e execrar Hitler.
Um dos que qualifica como "perigoso marxista" é o actual Presidente da Comissão Europeia, José Manuel "forget about the Durão" Barroso.
Equivocado?! Atrasado 37 anos?!
Nada disso. Apenas um fanático ignorante do "camaleonismo".
Mais uma vez as denominadas qualidades de carácter nada dizem acerca desse mesmo carácter e vêm provar que no espelho de certas "virtudes" se pode reflectir, realizado, o horror.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Voto pelo Seguro




Fundei com um grande amigo, o António Cabós, a Secção, na altura dizia-se Núcleo, do PS do Barreiro na primeira segunda-feira a seguir ao 25 de Abril, no dia 29 de Abril de 1974. É fácil de avaliar as circunstâncias em que o fizemos e pelo que passámos a seguir, numa terra com o lastro político do Barreiro
Nos meses que seguiram, com os meus perto de vinte anos e um corpo avantajado, hoje está mais, mas por motivos diferentes, tive muitas vezes como tarefa fazer entrar e fazer sair de Salões de Bombeiros e Praças de Toiros, insignes camaradas como Mário Soares, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia e Lopes Cardoso entre outros. Confesso que era mais difícil protegê-los dos “amigos” que dos outros, pois todos queriam um abraço, uma “festinha” ou um aperto de mão. Tive a honra de conviver no quotidiano com grandes figuras como Manuel Cabanas e outros que já cá não estão, mas também com muitos jovens como eu era na altura e que encontraram no PS a alternativa política face à asfixia dos extremos que então fazia, por cá, escola.
Nesse tempo lançaram-se as bases do Partido Socialista como um Partido do povo e para o povo, como um partido interclassista virado para a defesa dos trabalhadores num quadro de liberdades cívicas e afluência económica e social. Criou-se uma tradição na senda dos valores da República, caldeados com os da Modernidade Democrática e essa tradição passou a constituir uma Esperança para a nossa sociedade.
Serve este texto não para deixar elogios, se bem que ache que os mereça, mas para falar de política, que é o que tem faltado no Partido, alienado pela volúpia do poder, que como a vida (onde é que já ouvimos isto) sempre, a mais ou menos breve trecho, se esfuma.
Tenho pois experiência na vida e no Partido para lhe pedir que no Novo Ciclo que se propõe iniciar, se lembre para não repetirmos erros recentes:
Se é certo que não se deve governar para interesses ou corporações, não é menos certo que os legítimos interesses de quem trabalha devem ser mais acarinhados do que os grandes interesses dos Bancos e dos grupos financeiros; esses já têm a Direita para olhar por eles, não precisam do nosso desvelo para nada.
Se também é certo que não se deve governar para determinados sectores da sociedade, mais certo é não ser legítimo invocar o interesse geral para justificar meras “cortinas de fumo”. Um Partido não se faz contra a sua base social de apoio, senão reflictamos no passado recente, o que é diferente de ceder a chantagens ou reivindicações ilegítimas ou impossíveis de sustentar. A política deve fazer-se com verdade e com realidade, não com tacticismos cínicos, venda de ilusões e empolamento de fracturas sociais. É absolutamente errado lançar sectores da sociedade às feras, só para conquistar a adesão de outros. Deve cultivar-se a afluência, nunca o ressentimento, até porque quem com ferros mata, com ferros costuma morrer.
Diálogo pois, honrando as tradições do nosso grande Partido, em vez de afrontamentos contraproducentes e suicidários, como, aliás, se viu.
Ler as circunstâncias não é ser circunstancialista e abusar delas, até porque o carteiro, quando toca fá-lo sempre, pelo menos, duas vezes.
É preciso ser firme, mas firmeza não ser pode confundir-se com arrogância.
Quanto à vida interna do Partido é preciso “descaciquizá-la”, é preciso acabar com os apartamentos de três assoalhadas em que “residem” trinta militantes e com os becos de cinquenta metros onde “moram” mais de cento e cinquenta. É preciso acabar com o espectáculo deprimente e degradante das quotas pagas a granel. É preciso acabar com o clima de fratricídio interno e de suspeição permanente, para deixarmos de corroborar a indicação de Churchill ao sobrinho (temo não ser fácil) acerca da diferença de lugares entre o adversário (que está na outra bancada) e o “inimigo” (que costuma sentar-se ao nosso lado).
É preciso devolver de facto a iniciativa aos militantes e abrir o Partido à Sociedade, sem no entanto o descaracterizar. O Partido Socialista sempre foi e deve continuar a ser um Partido de militantes e não apenas de eleitores. O Partido Socialista é um Partido das bases e não de quaisquer “nomenklaturas” dessas que costumam ver esticados para trinta e mais minutos os três regimentais dos Congressos, não basta apregoar a tão decantada Ética Republicana é preciso praticá-la.
É preciso entrar num Novo Ciclo com um regresso às origens do socialismo democrático e dos seus valores fundacionais e afirmá-lo desta maneira simples e directa, sem complicações pseudo-originais, até porque a força das ideias não está em serem tão “avançadas”, tão “avançadas” que deixem o povo “a ver navios”, transformando-se as pretensas “vanguardas” em apenas “vãs”. E mesmo em certos domínios quando há ideias que se apresentam como boas e originais corre-se o risco das originais não serem boas e das boas não serem originais. Com todo o respeito pelo direito de todos a exprimir as suas não vejo o que ganharia o PS em copiar os “caucuses” dos Partidos americanos. Entre duvidosas cópias e comprovados originais, estes são sempre de preferir.
Liberdade – Igualdade – Fraternidade.
Entre ser socialista e não ser, não há terceiras vias.
Para isso vou, não formoso, que já lá vai o tempo, e com a elevada estima e a muita consideração que me merece o outro candidato, seguro, votar Seguro!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

The Moody`s Blues II ( e siga o Baile)



Non te petto, piscem petto.

As eleições de 5 de Junho foram úteis enquanto "benzina" para remover a "nódoa" Sócrates, mas, como era de esperar, não resolveram o problema com os "mercados", a prova é que a Moody`s volta à carga degradando a notação do Estado português para "lixo".
Ao q´isto chegou - agências privadas tituladas pelos grandes interesses financeiros "globais" (quer dizer norte-americanos), que notaram com triple A +, ou coisa que o valha, as vigarices do Lehman Brothers e quejandos nos "tóxicos" e nos "derivados" do subprime, a notar Estados que até ao presente e salvo uns quantos interregnos, se entendiam como soberanos.
Assistimos, porém, ao esperado espectáculo dos "advogados" da "ajuda externa" e incensadores da troika começarem a utilizar, perante a insensibilidade dos "mercados", isto é dos especuladores internacionais, os mesmos adjectivos de que faziam pública chacota quando usados pelos próceres do anterior Governo - "insensato" - "imoral" - "infeliz" - "terrorista".
Desta vez parece que o Governo já nem tem "culpa" nenhuma, afinal foi empossado há quinze dias e (por agora) ainda só ofereceu em "holocausto" aos deuses do casino 50% do subsídio de Natal, apenas e só (como iremos ver) de quem trabalha ou trabalhou.
Quando passares este portão é melhor abandonares as mais ténues esperanças.
Afinal, não chega, os vampiros querem mais!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um Doutor entre os meninos (ou de como nem tudo o que parece é)




Não posso assegurar qual irá ser a minha posição como cidadão e, ainda por cima, parte muito directamente interessada (professor do Ensino Público, pai) face à política do novo Ministro da Educação, Nuno Crato. Para além de ter lido o seu livro: «O "Eduquês" em Discurso Directo - Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista» - muitas das suas crónicas, algumas entrevistas e de ter participado nalguns debates em que interveio, não resisto também a contar um episódio em que esteve em "efígie" e para "queimar". No início do consulado Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues fui, enquanto militante do PS e dirigente Sindical da Fenprof (SPGL), convidado/convocado para uma reunião no Salão Nobre do Rato com a então Ministra da Educação que começou crispada e acabou com a senhora aos gritos, brandindo um livro e perguntando para a "geral":
- É isto que querem? Parece que querem a Direita?!!!
O livro era o de Nuno Crato, recém saído.
Não só, mas também por isto, comecei a simpatizar com ele. E é claro que o PS nunca mais organizou "Encontros" abertos destes. Os próximos já só incluíram três elementos de cada Concelho indicados pelas Distritais e os outros subsequentes foram abertos a militantes em geral e nunca mais contaram com a senhora, mas apenas com o "bulldozer" Lemos que tentava acirrar os ânimos dos "leigos" contra os "malandros" dos professores (um tipo "escolhido a dedo" que veio do CDS e até perdeu o mandato de vereador por faltas). Depois foram anos de posições públicas em que da parte de Nuno Crato imperou a clarividência e o bom senso face a muitos dos disparates, manipulações e embustes levados a cabo pelos governos suicidários Sócrates I com a "Bruxa" Maria de Lurdes Rodrigues e Sócrates II com a "Fada" Isabel Alçada. A diferença está em que uma "Bruxa" é uma "Fada" Má e uma "Fada" é uma "Bruxa" Boazinha.
Não sei, portanto, se vou simpatizar com todas as iniciativas do novo Ministro da Educação e até dou de barato que no actual estado de coisas (Memorando da "Troika"/Bancarrota eminente) a que os defensores estrénuos do Estado Social nos conduziram, não tenha grande margem de manobra. Uma coisa é certa - teve um início auspicioso enquanto político, ele que veio de "fora" acabou por deixar mudos no Parlamento uns jovens deputados do PCP e do Bloco que se esquecem que o laxismo nada tem a ver com a esquerda, ao referir o nome de Bento de Jesus Caraça. Poderia ter referido o de muitos mais, até o do próprio Álvaro Cunhal, mas também Rómulo de Carvalho, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Joel Serrão, Óscar Lopes, Luís Simões Gomes e tantos outros que fizeram do rigor (não do falso, do de "trinta e um de boca", mas do verdadeiro) e da exigência correlatos sérios da Mestria.
Também os esclareceu quanto à falaciosa opinião de que a pouca exigência (ou nula como na generalidade das Novas Oportunidades - e não vale a pena virem com tretas, pois sei bem do que estou a falar) beneficia os mais pobres.
A este propósito proponho um simples exercício estatístico: compare-se a proveniência económica e social dos jovens que entraram em Medicina em 2010 e, por exemplo, em 1973 ou 1975 (pouco antes e pouco depois do 25 de Abril). Teríamos pela certa, face ao comum das ideias feitas, uma grande surpresa.
Em 1975, em pleno PREC, no Bar da Cantina Velha da Cidade Universitária onde o "estudantariado" se juntava depois do jantar para umas guitarradas revolucionárias e as pessoas falavam abertamente de tudo (uma das coisas belas que, pelo menos durante um certo período encantatório, costumam ter as Revoluções), uma das empregadas da copa desabafou dizendo que, ao contrário dos "meninos", não tinha vindo para Lisboa estudar, mas trabalhar, porque os pais tinham lá para Trás-os-Montes umas "quintas", mas "aquilo não dava para nada".
Um castiço quintanista de Santa Maria respondeu de imediato:
Pois olhe menina, os meus nem "quintas", nem "quartas" !