sábado, 8 de agosto de 2009

Os Degraus do Parnaso

Soube pelos jornais de fim-de-semana nos "obituários" que morreu MS Lourenço, meu distinto professor de Lógica na Faculdade de Letras de Lisboa em 75/76.
Lembro-me bem daquele Outono de 75, em pleno agudizar do PREC, de uma espécie de John Lennon de cabelo pelos ombros, óculos redondos de aros de metal, "jardineira" de ganga toda cheia de "smiles" e "Snoopies" e sandálias que chegava a descalçar. Mesmo naqueles "revolucionários" tempos a sua figura estava longe de ser a do típico professor universitário.
Mas mais "surrealistas" do que a sua figura foram, certamente, as suas aulas e recordo em particular uma, diríamos, "inenarrável":
MS Lourenço dava aulas de costas para os alunos e escrevia freneticamente no quadro preto extensas demonstrações (do Teorema de Godel, por exemplo) e quando o quadro acabava continuava pela parede fora, com um "pequeno" senão, a parede era amarela-ocre e o giz branco não se via.
Ora, um dia, um colega mais afoito solicitou ao Professor MS Lourenço o esclarecimento de uma dúvida. Este, perante a interpelação do aluno, virou-se (estava, como de costume, de costas) e reagiu azedamente:
"- Ó homem, está a fazer barulho, não me interrompa, deixe-me trabalhar!!! Sabe que mais, vá à merda! Vá bardamerda, bardamerda!!!"
Naquele período, também o Primeiro-ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo , outra figura "castiça", mas sem nada de "intelectual", tinha mandado manifestantes para a mesma parte. Mas nem por isso, muito pelo contrário, foram tempos de "merda"!!!
O MS, parece que estou a vê-lo, deve estar agora a subir, vagarosa e distraidamente, os Degraus do Parnaso.

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