sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O que eu , socialista, não perdoo a este Governo e à sua direcção política

A propósito dos recentes acontecimentos de crise motivados pela Avaliação de Professores, devo começar por declarar interesses:
Sou professor do Ensino Público desde 76/77, sou também militante do Partido Socialista, tendo mesmo fundado a sua Secção do Barreiro quatro dias depois da Revolução de Abril e sou desde 1989, membro da Assembleia Municipal do Barreiro eleito nas listas do PS, tenho sido também um votante persistente no PS em todos os actos eleitorais, mesmo naqueles como as últimas Legislativas, em que tinha já uma “pontinha” de desconfiança, infelizmente confirmada, acerca do que iria passar-se a seguir num contexto de maioria absoluta que ajudei a concretizar e até me pareceu necessária, apesar de todas as minhas, a posteriori confirmadas, reservas.
Sou por opção e consciência, um militante indisciplinado ou seja, estou no Partido Socialista porque a sua tradição republicana e libertária, a sua cultura fundacional, abre espaço, ou eu pensava que abria, a que pessoas como eu se possam lá sentir como agora se diz “confortáveis”, como não sou nem nunca fui a “voz do dono” ou como muito bem diz um meu grande amigo de Vila Viçosa, “peão de brega” de ninguém. Honro, porém, os meus compromissos e portanto em tudo o que está estabelecido como essencial para a acção política do Partido nos órgãos em que o represento sou solidário com as decisões da maioria ou peço escusa de me pronunciar (Orçamentos, Grandes Opções, etc.), sem nunca hipotecar o meu sentido crítico e a minha ética pessoal e política.
Mesmo quando discordo, nunca o faço anonimamente e procuro fundamentar em argumentos as razões do posicionamento que assumo e nunca por critérios de mero seguidismo e autoridade, se este recorrente registo do “sim porque sim”, ou “não porque não” e porque o chefe de turno acha que sim ou acha que não, tivesse persistido, ainda "saberíamos" ser o Sol a girar em torno da Terra.
No entanto, respeito a autoridade legítima e o meu percurso pessoal é disso demonstrativo: fui aluno, estive no serviço militar e estou na profissão, sem nunca ter tido nenhum incidente de desrespeito para com as hierarquias legitimamente constituídas, e digo legitimamente constituídas, porque protagonizei um incidente político de certa gravidade em 1972, ainda estudante do Liceu D. João de Castro e fui sancionado pela ilegítima autoridade repressiva do Estado fascista e nisso tenho muita honra.
Após esta declaração de interesses passarei à substância do que enuncio em epígrafe, o que eu enquanto socialista, logo homem de esquerda com 52 anos e um passado que o atesta, não perdoo e não apenas nem principalmente, por ter sido directamente atingido pelos efeitos negativos da acção deste Governo que ajudei a eleger.
Não tenho, obviamente, a concepção "mercantilista" de que um Governo eleito deva fazer uma política agradável para os seus eleitores, é claro que o interesse geral e circunstâncias muitas vezes ditadas por conjunturas adversas poderão eventualmente falar mais alto que os cálculos de satisfação de todos os segmentos do eleitorado e bem sei que é impossível contentar toda a gente.
O que não é impossível é governar com verdade, o que não é impossível é assumir claramente a responsabilidade de ousar medidas verdadeiramente reformadoras, e não apenas “reformistas”, sem procurar lastrá-las na demagogia populista do circo do ressentimento social, explorando a mesquinhez típica da incompreensão e da hostilidade mútuas que sempre caracterizaram a nossa (e não apenas a nossa) sociedade, mas que entre nós decorre de uma relativa pequenez em recursos para distribuir, e de uma estrutura social já velha que sempre acarretou injustiças profundas (ainda hoje Portugal é um dos países mais injustos da União Europeia e da própria OCDE).
Concordo em absoluto que devem ser atacadas as razões estruturais do nosso deficit não apenas orçamental, mas de produtividade global dos nossos sistemas públicos e até do aparelho produtivo em geral, cujos indicadores face ao investimento realizado deixam muito a desejar, evidenciando graves distorções a exigir eficaz correcção.
Se isto é verdade para a Economia, também o é para os serviços públicos como a Educação, mas também a Saúde, a Justiça e os Sistemas Fiscal, Militar e de Segurança.
Vamos à Educação: esta tem sido palco de uma espécie de “teatro trágico” pelo menos desde a reforma Veiga Simão que data do início dos anos 70, sendo portanto anterior ao próprio 25 de Abril, e cujo desenvolvimento, mais sobressalto, menos sobressalto, não foi no fundamental, por este interrompido.
Houve uma fase inicial de enorme expansão do Sistema Educativo correspondendo às necessidades de desenvolvimento que a própria tecnocracia marcelista, que hoje continua bem representada no Poder, iniciou e que foi acompanhada e sustentada por uma expansão demográfica típica dos períodos históricos de alguma descompressão e prosperidade.
Essa situação obrigou à contratação e posterior integração nos Quadros de um enorme força de trabalho docente, a que acresce a multiplicação das disciplinas dos nossos muito extensos curricula, um pouco ao sabor de modas pedagógicas, de lobbies formativos e até de escape para o, agora incontornável, desemprego de licenciados.
Paulatinamente foi-se criando um “monstro” burocrático e organizacional, aliás, em concomitância com o que ocorreu nos outros subsistemas públicos (a Saúde, a Justiça, as Forças de Segurança, as Forças Armadas), sem que os ganhos de eficácia e de qualidade de serviço, na verdade correspondessem a esse sobredimensionamento.
Veio depois a quebra demográfica e o envelhecimento populacional típico dos chamados países ricos em que Portugal, sem o ser verdadeiramente, se integrou acumulando o pior de dois mundos: os défices típicos do subdesenvolvimento (iliteracias e carências estruturais várias) com os “malefícios” de uma pretensa e frágil “abundância” (consumismo exarcebado, alto nível de endividamento geral, excesso de motorização, erros alimentares crassos, excessos de vária ordem). E o Sistema Educativo foi sistematicamente abalado por “Reformas” e “Contra-Reformas” incoerentes, inconsistentes e incompletas (na verdade não passaram em geral de meros “remendos”e ensaios “experimentalistas”, mas muito mais para o lado do erro).
Este Governo do Partido de que sou militante e em quem votei, propôs-se intervir para alterar para melhor a situação, mas tem, desde o início, vindo a denunciar bastante, pelo menos, inabilidade política, quer quanto ao método, quer quanto à substância.
Quanto ao método, porque manda algum módico de ética republicana., demais a mais, num Governo apoiado no Parlamento por um Partido que se afirma de “esquerda” (“moderna” ou ”antiga", para o caso é secundário) que uma reforma qualquer que seja, conte com, senão a aceitação integral, pelo menos a compreensão da sua racionalidade intrínseca por parte daqueles que irão ser, pela lógica das coisas, os seus principais agentes, neste caso, os professores.
Manda também um mínimo de decência política que as medidas de fundo, o que nem sequer é o caso, sejam tomadas pelos decisores com independência de espírito, autonomia e sentido de responsabilidade e autoridade (no sentido de autoria), sem necessidade de recorrer a truques de baixa política demagógica e populista como a promoção de campanhas vexatórias de “assassínio” de carácter e o denegrir de imagem pública contra grupos profissionais como a que foi levada a cabo, escusada e contraproducentemente, por este Governo, contra os professores com evidente desonestidade política e intelectual. (É certo que só se pode exigir honestidade intelectual a quem tem “intelecto”, o que não tem sido evidente).
Este Executivo com um ME sem política autónoma, com uma equipa que aceitou o, nada dignificante, papel de “rosto” de um conjunto de directivas vindas de fora, manifestando evidente desconhecimento do meio, muitíssima falta de tacto, muita arrogância e prepotência, evidenciando uma total ausência de espírito democrático e um aventureirismo insensato mascarado de “coragem” com recurso constante a ameaças, insinuações e mentiras, reiterando declarações caluniosas como “ as Escolas são um caos organizativo” (a este propósito, não eram, agora mercê da tal “política educativa” aproximam-se perigosamente dessa situação) e “os professores mais antigos estão numa espécie de pré-reforma “ e outros chorrilhos afrontosos e semeadores da cizânia social como a de que “perdi os professores, mas ganhei os pais” e ameaças mais ou menos veladas, como perante a pergunta de jornalista sobre “o que irá acontecer aos professores dos últimos escalões que não concorrerem a Professor Titular”, a resposta foi: “ Por enquanto nada”, afrontas ao Provedor de Justiça, ao Procurador-Geral da República e aos Tribunais como aquando da afirmação de que os Açores não eram “território nacional”, alguma brejeirice indigna à mistura como quando a Sr.ª Ministra disse no “Prós E Prós” da RTP a uma professora de cabelo claro que “não era loura” e ainda recentemente ao acusar os professores de “chantagem” e um sem número de exemplos de cinismo, sarcasmo e truculência dos dois Secretários de Estado (Lemos e Pedreira), a utilização sistemática de um “pai” vitalício, o senhor Albino, que sendo um parceiro negocial como os outros, surge publicamente como que integrado no staff ministerial, destilando veneno e ódio sobre os professores e instigando publicamente a perseguição dos “hereges”, o “papismo” de sinistras personagens como a Directora da DREN (ex-sindicalista radical com o excesso de zelo típico dos recém-convertidos) em perseguições ad hominem a adversários políticos e falo do famigerado caso do dr. Charrua (ex-deputado do PSD), a visitas da PSP, desconhecendo-se a mando de quem, a sedes de Sindicatos nas vésperas de grandes manifestações, onde por duas vezes no mesmo ano mais de 100000 professores na primeira e mais de 120000 na segunda, três quartos da classe, certamente todos incompetentes, mandriões e calaceiros, desfilaram ao sábado em Lisboa.
Quanto à substância: Instaurando nas Escolas um inaudito clima de mal-estar, como nem nos tempos da outra senhora, pondo a funcionar a bufaria do costume e aliciando os Conselhos Executivos com os cargos de futuro Director, para que ainda assim sem coragem para assumir a nomeação directa, se recorre a um enviesamento legislativo muito “à PS”.
E como “entradas de leão” costumam originar “saídas de camaleão”, a cereja no cimo do bolo foi o tristemente célebre modelo de Avaliação de Desempenho Docente, que sendo um “monstro”burocrático e inútil, que não se destina a avaliar seriamente o que quer que seja, se a intenção fosse essa seria exequível e não comportaria “apenas” 190 (cento e noventa) descritores e que parece destinado a rebentar com toda e qualquer séria e necessária avaliação possível.
Por toda esta trapalhada que afogou na irrelevância as, aparentemente positivas, intenções iniciais: escola a tempo inteiro, Informática e Inglês para todos, generalização do uso dos meios informáticos, sendo dispensáveis as patéticas facécias de marketing ligadas à distribuição do “Magalhães, e até as aulas de substituição que se converteram em meras funções de custódia propangandística sem praticamente nenhum papel formativo.
O alargamento do horário dos docentes que ficam confinados a permanecer nas Escolas que não estão equipadas, nem sequer no espaço físico para isso, sem objectivamente estarem a fazer o que quer que seja de útil, tendo depois que consumir o seu tempo privado nas tarefas que são necessárias ( prepração de aulas, correcção de testes, registos de Direcção de Turma, etc.) a degradação das condições de trabalho nas escolas, cada vez com menos condições físicas e operacionais de funcionamento (degradação dos espaços, falta de pessoal auxiliar, penúria orçamental para despesas correntes) tudo gato escondido com o rabo de fora com a nuvem de fumo da “guerra” às “corporações”, quando as verdadeiras corporações provocam crises mundiais de dimensões imprevisíveis e é o dinheiro dos contribuintes que serve para tentar apagar o fogo que vigaristas encartados e pelos vistos, bem sucedidos, atearam.
Não, José Régio (José dos Reis Pereira), António Gedeão (Rómulo de Carvalho), Joel Serrão e Vergílio Ferreira que, entre tantos outros, foram professores do Ensino Secundário não se reveriam nesta “política educativa” e se calhar seriam avaliados com “Insuficiente” ou “Regular”neste modelo de (pseudo) avaliação.
Eu pela minha parte e considerando que depois das patéticas declarações de ontem, 20 de Novembro, em que a Sr.ª Ministra sempre tutelada pelo “sombra” Silva Pereira (ou pelo “eco” Santos Silva), veio com toda a “candura” reconhecer, aquilo que toda a gente menos os apparatchiks do costume e o set propagandístico da alarvidade (o “bichano”, porque filho do “tareco”, Sousa Tavares, Emídio “The Black and Decker Master” Rangel, Vital ”The Renegade” Moreira e tutti quanti) desconheciam, que o processo tem “erros teóricos de concepção “ e “extremas dificuldades de ser posto em prática” que, como ia dizendo, ontem acabou por reconhecer a própria Professora Maria de Lurdes Rodrigues que com certeza, ainda não avaliou bem o grau de anomia e de entropia que ela e sua equipa foram capazes de introduzir no Sistema e que neste momento constitui um “cadáver” político, entenda-se, adiado.
Mas como diz um colega e amigo arquitecto:
- “Há duas matérias em que toda a gente é “especialista”: Educação e Urbanismo, isto porque mais ou menos toda a gente andou na escola e mais ou menos toda a gente, mora numa casa”!
Ora nem mais!!!

Post-Scriptum:
1 - Adorei ver a “ensaboadela” que o “jota” style Marcos Perestrelo (ou Perestello, não sei, nem particularmente me interessa) levou na RTP1 do Mário Nogueira, mesmo olhando para a cábula e tartamudeando o “argumentário” levou um grande “bailarico”, é caso para dizer: “metem-se com homens”!!!
2 - Estão a abandonar o Sistema cerca de 12 professores por dia, por reforma antecipada mesmo com penalizações pecuniárias que chegam aos 40%, se este era uns dos objectivos do Governo, então parabéns, na "mouche" !!! É claro que são os mais experientes e, em muitos casos, os melhores que estão a "abandonar o barco", mas que importância tem isso para a concepção que esta "seita" tem de Educação. Para fazer o que pretendem que seja feito, isto é perto de nada e mais uns "cocós", qualquer um serve, sem refilar e a ganhar muito menos.
3 - O novo ECD com o "concurso" para Professor Titular foi das maiores "moscambilhas " que vi na vida (e não falo por despeito, pois fui provido e sou Professor Titular), mas foi uma lotaria atrabiliária para o que contaram apenas os últimos 7 anosde carreira, daí que em muitos casos, houve mais de 30 que, como por magia, se eclipsaram, se calhar foram "engolidos" por algum "buraco negro". Teria sido mais honesto abrirem verdadeiros concursos curriculares para novas categorias com designações decentes e republicanas ( que não cheirem a "Fado do Embuçado" - "de uma vez que eu fui cantar ao salão de um Titular"), tais como e por exemplo : Professor Coordenador e Professor Supervisor (mas isso dava muito trabalho).
4 - Na facécia de"auto-crítica" pública da Srª. Ministra, ela "deixou cair"as "Aulas Assistidas", afinal o mais fundamental e o elemento por excelência de uma qualquer séria Avaliação de Desempenho Docente e como em Modelos de Formação anteriores se caíu no mesmo erro (mais concretamente na mesma "preguiça") e foram dispensados da assistência a aulas professores com 6 ou mais anos de serviço, continuaremos a ter professores que durante toda a carreira nunca tiveram uma aula supervisionada, prova provada de que o "monstro" quer apenas e só "papel" e mais "papel" e nada mais do que "papel"!!!



António José Ferreira (Professor, Socialista e tudo)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A condição "Socialista"

Ouvi há pouco, na TSF, e este tipo de adjectivação vem sendo muito vulgar na Comunicação Social, aludir às declarações do "socialista" António Vitorino, assim como se "socialista" fosse uma espécie de profissão. Deste modo haveriam pedreiros, médicos, canalizadores, engenheiros e "socialistas".
Esta merece uma versão aggiornata de uma velha anedota, ainda por cima tendo sido para comentar publicamente um tema controverso (no caso a "Avaliação de Professores" ) que dá, pouquíssimo tempo depois, lugar a "esclarecimentos" por parte dos próprios.
Os últimos foram os "socialistas" António Costa e António Vitorino, que vieram, assim tipo "sopas depois de almoço", servir de "actos de contrição" por lhes ter "fugido a boca para a verdade", certamente depois de terem ouvido algo como "Quando o Telefone Toca".
Um cavalheiro de meia-idade, depois de consumado um engate, troca impressões com uma mulher mais jovem num qualquer quarto de hotel manhoso :
- "A menina deve ser manicure" !
- "Como é que descobriu" ? - exclama a "piquena".
- "É que tem as unhas muito bem arranjadas" ! - tornou o "cavalheiro".
- " E você deve ser socialista" !
- "Então porquê" ?
- "É que quando está por baixo farta-se de gemer, mas quando está por cima faz tudo ao contrário" !!!

domingo, 16 de novembro de 2008

Já chegámos à Madeira ?! (ou Um País, Três Sistemas)

Perante a pergunta “clássica”, entretanto caída em desuso: ”Já chegámos à Madeira”? – Convirá dizer que estamos perto e se os desmandos de Jardim e dos seus “boys” já enjoam e nada trazem de novo, nem sequer a impunidade com que são praticados perante a complacência dos poderes públicos nacionais, que tão lestos costumam ser a verberar actos de muito menor gravidade do que os ocorridos no Parlamento Regional do Funchal por exemplo.
É estranho que ninguém pareça dar conta da bizarra situação que ocorre quanto a substantivas diferenças legislativas que acarretam situações de profunda desigualdade entre os cidadãos do Continente e os das duas Regiões Autónomas e que à pala da Autonomia Regional, transformam o todo nacional numa espécie de China, malgrado a incomensurável desproporção territorial e populacional entre o nosso país e aqueloutro.
Assim, e se na China é seguido o princípio de “um país dois sistemas” para acomodar as actividades menos “ortodoxas” de Macau e Hong Kong desde que regressaram ao seio da “Grande Pátria”, já entre nós ocorre o fenómeno de “um país, três sistemas”: o “sistema” continental, o “sistema” madeirense e o “sistema” açoriano.
Este facto foi particularmente patente no modo como Jardim, do alto da sua auto-suficiência política, “matou” por este ano lectivo na Região Autónoma da Madeira, o problema da Avaliação de Professores mandando atribuir administrativamente a menção de “Bom” a toda a gente.
Tem piada (e Jardim tem sempre imensa piada, aliás Graham Greene em “Os Comediantes” disseca este tipo de “humor”), que as justificações de Jardim para tão inusitado acto são razoáveis (a “trapalhada “ da “papelada” e a total improdutividade contraproducente de horas e horas de reuniões a que juntou a indesejabilidade dos “comissários políticos”), mas estão, obviamente, longe de o tornar aceitável e não será certamente isso que a esmagadora maioria dos professores portugueses quer em relação à avaliação do seu desempenho profissional.
Quererão certamente um modelo em que a realidade não seja substituída por uma ficção burocrática em que o ”papel” tem o primado sobre os actos, quererão um modelo em que a aula seja o fulcro do trabalho a avaliar através da mobilização dos recursos, da realização de aprendizagens sérias e seriamente verificáveis, materializadas em resultados objectivos e não de paródias folclóricas (lá estão, de novo, os “comediantes”). Os professores querem ser avaliados por parâmetros justos e equitativos e não por variações em “dó menor” arbitrárias e discricionárias, querem ser avaliados pela assiduidade mas sem exageros desumanos de não se poder sequer enterrar os pais; os professores não querem ser culpabilizados pelo “insucesso” e pelo “abandono” escolares causados por chagas sociais, como o desemprego e a desestruturação que assola as famílias e em que a sua capacidade de intervenção é nula. Os professores não aceitam ser o bode expiatório de mais de três décadas de políticas educativas incoerentes, inconsistentes, erráticas e até asnáticas que não foram por eles estabelecidas. Os professores não querem ser agentes da promoção estatística de um pseudo sucesso. Os professores não querem e não aceitam ser vendedores de “banha-da-cobra”, promotores de computadores ou delegados de vendas das editoras no chorudo negócio dos manuais escolares e respectivos anexos ( CDs, DVDs, etc.). Os professores recusam-se a deixar confundir os meios (TICs, Portáteis, Quadros Interactivos etc.,a que obviamente ninguém no seu perfeito, e até mesmo imperfeito, juízo contestará o lugar enquanto instrumentos) com os fins (as aprendizagens e os saberes fundamentais capazes de resistir a todos os “apagões”). Os professores recusam-se a substituir o conhecimento por “brinquedos” e “brincadeiras” em que tudo se resume ao “lúdico”, pois como bem sabemos como adultos responsáveis, a vida está longe de ser meramente lúdica e a conjuntura não está para brincadeiras, sendo tarefa da Escola preparar para a vida “real” e não propriamente para uma “festa”permanente que, de facto, não existe.
Mas tem que preparar para a vida cidadãos capazes de nela intervir e não meros autómatos que se limitem a repetir mecanicamente os passos de rotinas cegas e estupidificantes e tem que integrar a “festa” na vida como contraponto necessário do trabalho que lhe dá sentido e recusar uma”Escola”em que se fabricam resultados através da chantagem profissional sobre os professores.
Mas os abencerragens do poder não querem entender isto; aliás eles primam por não querer entender nada, não sabem, não querem saber e têm raiva a quem sabe.
Tudo na sua “vidinha” se relaciona com reflexos pavlovianos e perante as histéricas reacções de quem não argumenta, nem sequer comenta a mensagem mas decide enxovalhar e até ameaçar o mensageiro, não posso deixar de recordar o nome de um restaurante na Travessa dos Fiéis de Deus, ao Bairro Alto em Lisboa, que resume a atitude destes “malacuecos “, chama-se “Fiéis ao Tacho” e tacho real consolidado ou tacho virtual em expectativa é a única fidelidade que conhecem.
Pois para esta nova PIDE ao serviço de uma nova “União Nacional” que quando o PS está no poder sempre emerge, visto que é um Partido de funcionários públicos( ou de aspirantes a sê-lo), com muitos daqueles que acham que os outros é que estão a mais, mas não tratam de trabalhar, tratam é de “bufar” e de intrigar; para estes, coisas como esta feitas à medida do compadrio e do amiguismo, vêm mesmo a calhar.
Estou, como devem calcular a tremer de medo de processos disciplinares no Partido. Com franqueza, deixem-me rir!!!
Quanto a perseguições de carácter profissional aí “fia mais fino” e sempre quero ver quem se vai atrever a tal. Se fosse eu, não me metia nisso!!!
Tenho dito (tudo o mais, farei, podem ter a certeza)!!!

António José Ferreira

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Avaliação de Professores: um exemplo de Social-Fascismo (do verdadeiro, do legítimo)


O termo “social-fascismo” foi usado a torto e a direito nos idos do PREC para acusar de práticas totalitárias principalmente o PCP. Foi usado um pouco a despropósito jogando mais com o impacto da palavra do que com o rigor do significado. Foi sobretudo usado por grupos radicais da chamada “extrema-esquerda” de tonalidade maoísta (“m-l”, como se dizia na altura), um dos mais aguerridos desses grupos era o MRPP, outro mais moderado era a “velha” UDP.
Destes dois grupos e de outros como o MES e os movimentos trotskistas são oriundos muitos dos homens e mulheres de poder e influência hoje em dia:
Não o actual Primeiro-Ministro que era da JSD, mas Durão Barroso, Maria José Morgado, José Luís Saldanha Sanches, Jorge Coelho, Pacheco Pereira, Santos Silva, Ana Gomes e tantos outros. Também havia alguns que eram do PCP, quando “estava a dar” e como não são “burros” , trataram de “mudar de ideias” assim que a oportunidade surgiu: Zita Seabra, José Magalhães, Mário Lino, Pina Moura, Vital Moreira (a este que me incluiu numa suposta “manada”- ver http://www.causa-nossa.blogspot.com/_ como aliás, a Manuela Ferreira Leite, não me esquecerei de em consonância com tal douta opinião, quando com ele me cruzar, e não perderá pela demora, lhe dar uma grande marrada) e muitos mais.
Alguns destes manifestaram durante o PREC e até algum tempo depois, um extraordinário afã inquisitorial que trouxeram intacto para o serviço da nova causa, normalmente a “esquerda mais à mão”( ou mais à “mãozinha”), o PS.
Mas a designação ao tempo carecia de fundamento histórico e não passava de uma analogia deslocada, uma vez que o termo “social-fascistas” originalmente designava os governantes alemães do SPD (social-democratas) que em 1919 mandaram assassinar os dirigentes da Liga Spartacus, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
Agora poderemos usar o termo com propriedade para classificar o comportamento governamental de uma espécie de Bando dos Quatro: a troika do Ministério da Educação, com “Chiang Ching” M.L.Rodrigues à cabeça, acolitada por Lemos, Pedreira e pelo “eterno” pai, Albino, obedecendo aos ditames da “linha justa” do Partido amordaçado do Grande Timoneiro, “Pol Pot” Sócrates, na cruzada contra os “privilegiados” de que os professores são o Grupo mais tenebroso e portanto a abater, os autênticos “inimigos do povo”.
Esta “cruzada” contra as “corporações” começou por “morder as canelas” aos magistrados e aos farmacêuticos, passando depois aos médicos e aos polícias, chamuscando em seguida os militares, que assim que “mostraram os dentes”, fizeram engolir a famosa “coragem” socrática aos “valentões” do Governo, até se fixar nos professores.
Entende-se porquê: os professores são um grupo socioprofissional muito numeroso, logo muito “caro” e muito heterogéneo, ou seja, uma “corporação” muito pouco corporativa, em grande parte descartável pelo menos na concepção minimal‑mecanicista que este homo magalanicus vulgaris linei tem de “Educação”, com um exército de desempregados disponível muito grande (e quem disse que Marx está morto?!), que são capazes de fazer aquilo que o Politburo quer que seja feito, isto é, realmente nada, por metade do preço (e digo realmente nada porque é lixo, papelada, papelada para encobrir a vacuidade); quando se pretende apenas martelar estatísticas sem que rigorosamente nada mude para melhor a não ser o conformismo e a subordinação do novo proletariado docente e discente a que esta tropa fandanga de aventureiros semi‑analfabetos que nos (des)governa, nos quer reduzir e cujo único objectivo é reproduzir a cartilha e adestrar na acefalia acrítica os operadores da máquina que convém ao sistema idealizado pelas verdadeiras corporações, as dos interesses económico-financeiros que não hesitam com as suas gananciosas traquibérnias em atirar para a miséria ou para a extrema fragilidade, que acarreta a dependência, milhões e milhões, perante a sonolência complacente dos supervisores-mores .
Ora, a Avaliação é indispensável para o Sistema Educativo se conhecer e ser conhecido, para os contribuintes que o pagam, como aliás pagam todos os serviços públicos, dele poderem ter prestação de contas, aliás como deviam ter prestação de contas da Saúde, da Justiça, das Obras Públicas, da Economia, das Finanças, etc., etc.
Mas infelizmente não é com este Sistema de Avaliação de Professores, que não são os únicos actores do Sistema Educativo, não nos esqueçamos da legião de burocratas da imensa máquina do ME, dos Programas inexequíveis, da ”inovação” que nada inova e do constante tropel legislativo, frenético e incoerente que mais não faz do que corroborar a velha máxima de que:” É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma”, ou pior, acrescento eu!!!
Que sistema de avaliação seja do que for, empresa, banco, seguradora, multinacional, existirá que contenha dezasseis fichas e não apenas uma como candidamente mentiu, aliás como já é infelizmente costume, a senhora ministra e perto de cento e cinquenta, leram bem, cento e cinquenta, itens?
Que sistema de avaliação se destina a ser “em vez de”, como na velha piada dos cigarros como método anticoncepcional, em que à pergunta: “Antes de … ou depois de…? Se respondia também candidamente: “ Em vez de …”.
Um qualquer sistema de Avaliação de Desempenho tem que avaliar o desempenho normal do serviço em causa e não um desempenho unicamente dirigido e orientado para essa avaliação, senão o que estará a ser avaliado não será o que era para ser, mas um mero simulacro, uma fraude ou perto disso, destinada a impressionar o avaliador e a preencher artificialmente as “grelhas” em questão.
A isto chama-se falta dos critérios essenciais de que qualquer constructo racional metodologicamente consistente tem que estar dotado: validade e fiabilidade, sem os quais não se atingirão os objectivos a que supostamente se propõe e de modo algum se medirá com rigor o que quer que seja, a não ser lixo, que é o que as resmas de papel dos incensados e infantilizantes portefólios, irão ser em breve.
Estaríamos pois condenados a ser medidos pela famigerada régua de borracha que tendo um metro de comprimento, tanto permite ser esticada e medir metro e meio, como encolhida e medir cinquenta centímetros, tal é o conceito de "rigor" desta gente – trata-se de dar ao sistema os resultados que ele pretende, só, mais nada!!!
De facto, não estão sequer previstos no modelo mecanismos sérios de controlo do processo e isso é um claro indicador de que os seus reais e não confessados intentos são na verdade a generalização do facilitismo e a inflação de classificações a que este absurdo sistema irá compelir os professores e, perversamente, penalizar os profissionais de maior rigor, porque os outros farão o que sempre fizeram para não terem chatices.
Até há dois, três anos, um professor que atribuísse cem por cento de classificações positivas teria certamente uma inspecção a quem teria de justificar documentalmente os resultados; pois doravante irá passar (se deixarmos, claro) a acontecer exactamente o contrário, quem não atingir essa miraculosa marca será penalizado na sua carreira profissional.
As aulas, no fundo, aquilo em que consiste o essencial da tarefa do professor, são deixadas para a elaboração de extensas planificações para que não estão previstos quaisquer meios de verificação da sua execução e para a observação de três, leu bem três aulas em mais de cem dadas por ano lectivo; claro está que essas aulas irão estar soberbamente encenadas e ser muito, muito ensaiadas e se numa se usarem portáteis, noutra quadros interactivos e na última se fizer um role play por exemplo, tudo estará no “melhor dos mundos”.
Mais, se o objectivo de toda esta confusão tivesse sido, pura e simplesmente pagar menos aos professores e impedi-los de progredir na carreira, bastaria ter dito a verdade e pôr o problema com frontalidade e clareza, explicando que o erário público não o permite (é claro que também não deveria permitir intervencionar Bancos que vigaristas premiados levaram à falência). Mas não, o objectivo concomitante foi para lá da retórica justicialista, vexar, vergar e desmotivar todo um grupo profissional, minando-lhe a auto-estima e o amor-próprio reduzi-lo à condição de meros amanuenses que enquanto perdem tempo com a papelada e os gadgets tecnológicos usados sobretudo a despropósito e como fuga para a frente, menos disponibilidade e energia lhes sobra para avaliar as disposições falaciosas de que são obrigados a ser agentes.
O timbre deste modo de fazer política não é o da verdade, mas o da propaganda oca e o da retórica balofa, afinal das velhas e relhas tácticas que denunciam a total falta de estratégia e consistem no circo, sobretudo quando falta o pão e na venda de ilusões dando à populaça o sangue que esta reclama, utilizando a velha técnica do “salame” que consiste em dividir a sociedade às fatias, isolar algumas e pô-las umas contra as outras, cobardemente, sem assumir claras responsabilidades e iniciativas que não venham embrulhadas no ressentimento social típico de um país velho e desde sempre marcado pela mesquinhez da inveja e da subserviência.
Vai-se ao ponto de distribuir pelas distritais do PS, “argumentários”, ou seja cábulas, para serem utilizadas por gente que à falta de argumentos e contaminada pelo ódio ao pensamento e à liberdade, as vai repisar canhestra e acriticamente olhando para o papel, que isso do teleponto é só para o “Zé, à espera que, como teorizou o sinistro Goebbels, o repisar da mentira a converta em “verdade”.
E chega a ser patético ver na televisão, em debates, “jovens turcos” e outros já menos jovens, que eles sim, nunca fizeram nada na vida a não ser as figuras que andam a fazer, a insultar e a caluniar gente séria, em troca do “prato de lentilhas” do costume.
Um último apontamento: se os Sindicatos de Professores foram empurrados pelo movimento visceral e espontâneo dos profissionais para denunciar o famigerado “Memorando de Entendimento” que em má hora subscreveram dando assim ao set governamental “pano para mangas”; também não é menos verdade que o ME não cumpriu minimamente a sua parte, voltando exactamente ao lugar de origem, tendo sido este episódio apenas uma trégua que muito “à portuguesa” deixou tudo em “águas de bacalhau”.
Mais uma e calo-me já!
Existe na Europa desenvolvida algo de semelhante?
Não, não existe, nem na Finlândia, onde o Presidente Sampaio viu os professores mais de cinquenta horas nas Escolas (tem piada que nessa altura, por coincidência, estava uma delegação de professores finlandeses na escola em que trabalho e logo o desmentiram), nem na Irlanda, nem na Alemanha, nem na Suiça; o modelo foi completamente copiado do Chile (!!!) e mesmo assim mal copiado, pois lá está completo e vai até ao enunciar dos descritores, por cá ficou-se pelos habituais enunciados de intenção e deixa-se à tão propalada “autonomia” das Escolas (só para o que convém) e pondo a competir entre si avaliadores, que são parte interessada, o que certamente nem sequer será legal, e avaliados, a magna tarefa de nos trucidarmos uns aos outros!
Mas a exemplo do "velho" proletariado, sejamos "um osso duro de roer"!







António José Carvalho Ferreira
Professor Titular de Filosofia
Na Escola Pública desde 76/77
Membro do Conselho Pedagógico (Coordenador do Departamento de Ciências Sociais e Humanas) e do Conselho Geral Transitório da Escola Secundária de Santo André – Barreiro
Membro da Direcção Central do SPGL
Co-fundador da Secção do Barreiro do Partido Socialista em Abril de 1974
Membro Efectivo da Assembleia Municipal do Barreiro

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Falta de Pessoal

Uma das queixas cronicamente mais ouvidas nos sectores de regulação e inspecção da Administração Pública é a da "falta de pessoal" o que, na esmagadora maioria dos casos, corresponde à verdade, mas também acaba por dar um certo jeito a entidades negligentes ou mesmo "comprometidas".
Parece que estou a ouvir o Constâncio dizer para o chefe dos inspectores do Banco de Portugal, quando toda a gente, menos alegadamente ele próprio, começou a ouvir rumores sobre as moscambilhas do BPN:
- "Eh pá é melhor não mandar lá ninguém, não se vá dar o caso de ser verdade" !

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Até os Americanos se Fartaram ou da Importância do Simbólico

Até os norte-americanos, que em regra, não são conhecidos pelo seu discernimento político-cultural, digamos assim, conseguiram fartar-se do "clima" de uma das mais asnáticas administrações da História: o ticket "Feiticeiro de Oz".
Assim chamado porque um (Bush), não tem cabeça e o outro (Cheney), não tem coração e é, segundo o Vice-Presidente eleito, Joe Biden, "um dos homens mais perigosos do Mundo".
Ele certamente sabe o que está a dizer e o "Mundo" já teve ocasião de o verificar.
E fartaram-se tanto, que foram capazes de ultrapassar a enorme barreira do preconceito e eleger um não-branco, cujo primeiro nome não é Ted, ou Jack, ou Jim e o segundo é o do inimigo abatido (Hussein), para Presidente.
E foi bonita a festa pá !
Ver o "povão" negro, hispânico e branco pobre a chorar de alegria por Obama - o novo Cavaleiro da Esperança.
Mesmo que não seja, e não será certamente, a Revolução; é, seguramente, uma grande reviravolta!

domingo, 2 de novembro de 2008

Pagamentos em Espécie

O Código do Trabalho/Sócrates admite a possibilidade de pagamentos em espécie.
Imagine-se o que vai ser nos Bares de Alterne !!!

sábado, 1 de novembro de 2008

Falha Multicultural

A repórter da RTP Márcia Rodrigues, a tal que pôs um tchador para entrevistar o Embaixador do Irão, desta vez esqueceu-se de pôr, ao menos, uma pena na cabeça para entrevistar o Grande Chefe dos Índios Navajos no Novo Mèxico, a propósito das eleições americanas.
E, já agora, que raio de crise económica é esta em que não há na comunicação social portuguesa, " cão nem gato", que não seja enviado aos States para "cobrir" as Eleições.
Já dizia o meu pai que, nestas coisas, " a Ordem é rica e os frades são poucos", só que neste caso, são mesmo muitos e não deve haver "Ordem" que aguente.
Mas nós já estamos habituados a esta " Desordem criativa" e para alguns, bastante lucrativa.