terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Arma-se Aí um "31"



Em 31 de Janeiro de 1891 e na sequência da capitulação perante o Ultimato Inglês, um Grupo de militares de baixa patente (oficiais subalternos, sargentos e praças) - no que parece ser a sina das Revoluções Portuguesas, pelo menos das "boas", os generais só aparecem (ou vão buscá-los) depois das vitórias - e civis, proclamou a República da varanda da Câmara Municipal do Porto. A coisa durou pouco pois o plano tinha sido mal gizado, muitos dos apoios prometidos ficaram-se, como de costume (depois das batalhas há sempre muitos "heróis"), nas "covas", e o próprio Directório do Partido Republicano achava a ideia "aventureirista". A Guarda Municipal que era esperado ser sublevada, não foi nisso e reprimiu fragorosamente o ensaio revolucionário com mortos, feridos, prisioneiros, desterrados e alguns fugitivos que tiveram de exilar-se. O sucesso só ocorreria mais de dezanove anos depois, desta feita em Lisboa, também com muitos percalços, mas em condições mais maduras e com o campo republicano unido e o adversário minado por dentro; o que prova que a sorte ajuda os audazes, sobretudo quando estes fazem por isso.
A partir do malogro da "República do Porto" a expressão "31" passou a significar "sarilho", "confusão", "bernarda".
Então não se arma para aí um "31" ?!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Direita Que Se Precate. Não Vão Ser "Favas Contadas"!!!



Manuel Carvalho da Silva passou o testemunho da liderança da CGTP, ficando assim livre para outras iniciativas. A que me ocorre (e com certeza que não só a mim) é uma candidatura à Presidência da República em 2016. Terá todas as condições para isso, a idade, ainda relativamente jovem e em conformidade com o alto cargo, o vigor que tem mostrado ao longo da sua vida e carreira, a extrema capacidade e abertura para o diálogo aliada a uma grande firmeza de convicções, a flexibilidade sem pusilanimidade que o caracteriza e faz dele um homem íntegro, sério, responsável e coerente, respeitado até pelos adversários. Se o sectarismo e o oportunismo não se sobrepuserem e não fizerem aparecer nenhum "coelho da cartola", nem nenhum Alto Comissário "Retornado", poderá fazer o pleno do apoio da Esquerda (PCP, Bloco e PS - ou uma parte significativa, assim como assim já vai sendo hábito, e muita, muita gente sem partido, mas com vontade de real mudança).
A Direita estará desfalcada e descredibilizada, certamente não terá muitas mais alternativas senão entre um "Tristão das Damas" em fase serôdia (Santana Lopes) e o "Fugitivo" e mordomo de Bush, Blair e Aznar (José Manuel "forget about the Durão" Barroso).
Sem ser "Lula de imitação", o contexto é todo outro, Cavalho da Silva constitui uma esperança renovada para o povo português de ter em Belém uma figura marcada pela probidade e pelo sentido de Justiça, que sem nascer fidalgo, se tornou um aristocrata do Trabalho; que sabe o que é a vida, começou a trabalhar cedo, foi à Guerra Colonial, se enriqueceu intelectualmente fazendo, em idade madura, um percurso académico credível; que sempre se mostrou razoável e moderado sem ser troca-tintas e é, sem sombra de dúvida, um homem de Bom Senso e de Boa Vontade.
Carvalho da Silva à Presidência. Vamos a isso!!!!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Crise




Acaba por ser engraçado ver os economistas-comentadores,
paineleiros oficiais do regime, próceres do pensamento único neo-liberal (doutrina Juche dos Kim Il Sungs do capitalismo de casino) embatucados com a falta de resultados das receitas instantâneas, como o pudim flan, que tanto têm incensado.
Afinal e in spite of the austeridade, tão "necessária para a confiança dos mercados", a notação das agências "amigas" vai de "lixo" para underdog e os juros vão subindo até à "stratosfear".
Só me saem "Duques"...

O Regresso do Visitador




Segundo foi hoje noticiado, um dos tais "Grupos de Trabalho" que o Governo (este e os outros, sobretudo o anterior quando já estava nas "encolhas") costuma nomear para "estudos" e "pareceres", desta feita para a área da Justiça - a táctica é sempre a mesma, o Relatório Final anuncia uma hecatombe (amputar a perna gangrenada) para se ficar por umas aparadelas (uns "haircuts", como agora se diz, em que basta amputar um dedinho e o "doente" ainda agradece) - elaborou uma Recomendação que consiste em suprimir cerca de quarenta e sete tribunais, alterando o número de comarcas de duzentas e trinta e uma para vinte ("megacomarcas") o que deixará "pendurados" cerca de trezentos juízes, mais uns oitenta magistrados do Ministério Público e à volta de quatrocentos funcionários judiciais.
Os juízes passarão à condição de "itinerantes", dos outros desconhece-se ainda a que "condição" passarão, os Magistrados talvez sejam também postos a "itinerar", mas os funcionários se calhar vão ser postos a "andar" (pelo menos a intenção deve ser essa).
Em suma, vamos ter o regresso do "Visitador" e do "Juiz de Fora", já que "ouvidores" e "bufos" nunca faltaram.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Império Contra-Ataca




A querela dos Feriados, ou melhor da sua supressão, tem-se centrado da parte da generalidade dos seus protagonistas, mesmo dos "críticos", em pressupostos se não erróneos, pelo menos não reveladores da profundidade e extensão do que está em causa. A alegação da "produtividade" e da "competitividade" do País já se viu ser boçal demais para ser tomada por séria, não passando de pura fantasia conveniente. Está demonstrado à saciedade que os principais factores do deficit competitivo nacional estão a milhas de terem por causa primeira a exiguidade da jornada de trabalho ou sequer o número anual de dias "úteis" (conceito que não deixa de implicar uma questão de perspectiva do tipo do copo "meio cheio" ou "meio vazio"), a questão é toda outra. Tais argumentos são meros álibis cínicos para promover uma das maiores cruzadas revanchistas de todos os tempos - a direita dos interesses achou chegada a hora de mandar o 25 de Abril às urtigas e de reinstalar a ditadura do Capital.
Quem tem criticado a medida tem-se ficado pela "epiderme" da questão, pela mera "desvalorização salarial", mas a coisa é mais profunda e aqui ninguém é assim tão tolo que não saiba da ineficiência económica da decisão, que é de carácter meramente "disciplinar". Trata-se de impor uma outra ordem, trata-se de uma reconfiguração terrorista da relações laborais e mais do que isso, das próprias relações sociais. É uma questão de mostrar quem manda e quem tem de obedecer sob pena de "morte" económica e social, paga com o preço da própria dignidade.
Trata-se de utilizar o veneno e a miséria de um auto-propalado "pragmatismo" para esconder (mal) opções ideológicas deliberadas e nada ingénuas de atacar a simbólica histórica da identidade nacional e dos anseios de progresso. Ora atacar os símbolos é promover o seu esvaziamento, atacar a memória é sempre um acto de manipulação da vivência, e não colhe a falácia da ignorância - do género: "ninguém" sabe o que foi o 1º de Dezembro - ou "ninguém" comemora o 5 de Outubro - porque também "ninguém" sabe que Nova Iorque e o Rio de Janeiro não são as capitais dos Estados Unidos ou do Brasil e isso não deixa de as legitimar enquanto tal.
Passa pela cabeça de alguém que os Estados Unidos suprimam o feriado de 4 de Julho ou que a França suprima o dia da Tomada da Bastilha?!
Para além dos, mais modernos, feriados cívicos ou políticos, os feriados religiosos serviram para morigerar o trabalho duro num tempo em que o Estado de Direito nem era sequer uma miragem, uma vez instituído o novo contrato social social passaram a ser sua parte consuetudinária, mas a ideia peregrina de obter o agrément da Igreja Católica para suprimir feriados configura uma "esperteza saloia" da parte de um Poder infestado de arrivistas que são "não praticantes" profissionais a não ser da "religião" de quem lhes paga. Claro que a Igreja, apesar de atónita, não consegue resistir a responder a um sinal (ainda que hipócrita) de reconhecimento político de antigos privilégios, entretanto caídos em desuso, e está montada a mascarada. Estes que fingem buscar a unção eclesiástica para uma arremetida contra a memória e os direitos históricos dos povos, no afã de quererem ficar bem com "Deus" e com o "diabo", são guiados unicamente pela "fé" no "bezerro de ouro".
Oxalá (In shaa'Allah = Queira Deus) tenham batido à porta errada e o povo português, cioso da sua História, lhes dê a resposta que merecem!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Alvaradas"



O "Álvaro" é de facto impagável. Depois da "descoberta" do potencial económico do pastel de nata ("descoberta" que os pastéis de Belém e muitas mais confeitarias, quer por cá, quer no estrangeiro - talvez não tenha ainda chegado ao campus de Vancouver, mas aqui fica uma ideia empresarial para ele próprio "empreender" quando regressar - já tinham feito, nalguns casos literalmente, há séculos), foi a vez de, figurando como porta-voz do Governo (com Passos a dar-lhe visibilidade, num esforço de "tem-te, não caias"), declarar que a supressão dos feriados do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro em nada beliscaria o dever patriótico de os comemorar com o mesmo fervor, mas em horário pós-laboral.
Uma "Alvarada" é assim uma espécie de "alvará" para dizer "bacoradas".
Se não existisse, teria mesmo de ter sido inventado...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Manda Quem Pode...





Não sei se repararam, mas hoje durante o debate na AR, o Primeiro-ministro mandou calar a Presidente do Parlamento.
Assunção Esteves avisou:
- "Senhor Primeiro-ministro terminou o seu tempo!"
Passos Coelho semi-voltou a cabeça para trás dizendo:
- "Para que não digam que fujo às questões, deixe-me responder. Obrigado!"- e, acto contínuo, sem esperar pela anuência da Presidente, continuou a sua intervenção.
É a prova provada que isto das "hierarquias" do Estado é "música para camaleões".
No fim de contas manda quem pode e obedece quem deve, sobretudo se dever o lugar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Quadriga



Acaba de ser firmado entre o Governo, o Patronato e uma Central Sindical - que parece existir apenas para isso, afinal os "amigos" são para as ocasiões - um acordo de "concertação" social que deixa os trabalhadores muitíssimo desconcertados. É uma espécie de retorno à escravatura por via legislativa, numa "janela de oportunidade" induzida pela "crise" do capitalismo de casino, nas cinzas recentes da sua propedêutica: o legado de Sócrates e da sua desastrosa governação de "esquerda" ("vai lá, vai"...).
Este "acordo" visa formalizar um retrocesso civilizacional de dimensões ciclópicas em termos sociais, uma vez que as medidas de natureza "económica" não passam de um mero álibi, os custos do trabalho não são dos que mais pesam na efectiva falta de produtividade, são-no sim a deficiente gestão, a desorganização, a falta de formação, sobretudo dos "patrões", os altíssimos custos da energia e dos combustíveis, a corrupção, as "habilidades" e o "chico-espertismo", para além de outros encargos que irão ainda agravar-se. A verdade é que era preciso pôr o "pagode" na ordem, nesta "nova" ordem que é idêntica, mas em versão sonsa (toma lá que é "democrático"), à que vigorou antes da "primavera" marcelista ("o respeitinho é muito bonito"). Trata-se de medidas de carácter "disciplinar" - é preciso mostrar "quem manda" e quem tem de ir "comer à mão" de quem. São, portanto, vexatórias e de condicionamento só do lado do "pau", a crueza dos tempos dá para dispensar a "cenoura" e destinam-se a deixar aberta uma imensa "zona de conforto" em exclusivo para o Capital através da pilhagem dos salários e de todo o tipo de direitos, o que se traduz na precarização das relações contratuais até ao nível da "praça de jorna", desta feita em versão electrónica.
Vai tudo a eito - o que foi arduamente conquistado - as férias, os feriados, os sábados, os fins-de-semana, as horas extraordinárias (que em grande parte já foram), um mínimo de segurança e estabilidade (que também já era), tornando os trabalhadores absolutamente descartáveis. Tudo isto com algumas "originalidades" pícaras como aquela do Estado (ou quem o representa, neste caso o Governo) negociar com a Igreja os feriados a suprimir e terem acordado no fifty-fifty (dois para cada lado, entre os quais o 15 de Agosto, como se sabe, um mês muito "produtivo"). Agora que o "Acordo" fala na possibilidade de serem "apenas" três, a Igreja "ameaça" não "ceder" nenhum.
Confesso que já sabia que o Governo não mandava em Portugal, mas estava convencido que era a "Troika", nunca pensei que fosse uma "Quadriga".
Cá para mim, a avaliar pelas provas dadas na estranja pela excelente mão-de-obra portuguesa, enquanto por cá uns continuarem a fingir que pagam, os outros hão-de continuar a fingir que trabalham.
O meu pai, que veio de Torres Novas para Lisboa em meados dos anos 40, contou-me que um Ministro das Corporações, de ideias mais "arejadas", falou a Salazar na possibilidade da introdução da "semana inglesa" (não trabalhar nas tardes de sábado, a "semana americana" é a folga total). O homem de Santa Comba terá respondido:
- "Folga só ao domingo e mesmo assim - de manhã missa, à tarde futebol"!
Apesar de ambas as "semanas" terem vindo, à vez, a acontecer, nalguns casos até antes do 25 de Abril, e para desconsolo da Igreja, neste "filme" em reprise só deverá ter viabilidade o "programa" da parte da tarde.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Pudenda




"Pintelhos" foi como Eduardo Catroga classificou os pomos da discórdia da negociação com o Governo Sócrates II, sabendo de antemão que tudo não passava de conversa fiada para ficar bem na fotografia e que piores tempos viriam. Dada a volta eleitoral e estando em fase de constituição o novo Governo de centro-direita, que isto do "centro" é como a "Geni" e acaba por "dar para qualquer um", o "Avô Cantigas Catroga", ao declinar o convite para Ministro das Finanças de Passos, denunciou ter na manga a "Garganta Funda", uma das "Three Gorges", da EDP e a presidência do seu Conselho de Supervisão com um salário anual de mais de 600 mil euros. Nada mau para tempos de crise. Adiantando até que não sabe, nem quer saber, como lá foram parar Celeste Cardona e quejandos.
Afinal parece que não são "pintelhos", mas, na grafia correcta (ainda não à brasileira) - "pentelhos".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Estratégia da Aranha



Maquiavel aconselhou o "Príncipe" a fazer o mal todo de uma vez só; de forma não menos "maquiavélica", mas ao contrário, o Governo Passos/Portas, através do seu ectoplasma financeiro, o "Gasparzinho", ora ameaça, ora nega a "necessidade" absoluta de mais "medidas de austeridade" - quer dizer: mais impostos, mais cortes salariais e de pensões e outras malfeitorias, sempre e só sobre os mesmos do costume (que acontece serem os que menos responsabilidades terão no empreendimento a que se chegou, a "Portugal Jungle, SA").
Maquiavel não escreveu para "democracias", por isso os estrategas "troikanos" dão a volta ao texto e vão envolvendo o nobre, mas estupefacto, povo lusitano numa laboriosa teia de ditos e desmentidos "a capella" ou com música, a solo ou em coro, afinado ou dissonante, em que vão cantando a "canção do bandido". Registe-se o muito recente caso em que um "ajudante", um Secretário de Estado no já vetusto vocabulário "cavaquês", veio anunciar a Revisão (para baixo, claro) da Tabela Salarial da Função Pública (o actual e conveniente "bombo da festa") e o Ministro, o tal fantasminha gentil, veio desdizê-lo no dia seguinte.
Tudo isto para criar lastro mediático para a "inevitabilidade" de mais e maiores traquibérnias, que farão dos próximos tempos um autêntico jogo de "mata-mata":
Ou "morres" pela miséria induzida pelo desemprego e pela falta de liquidez para honrar os compromissos que contraíste de boa-fé e ficas sem casa, sem pertences e vais para debaixo da Ponte, que entretanto ficou por fazer; ou vives exclusivamente para pagar os impostos e os aumentos de taxas e preços. A menos que sejas "catrogável" e te salpique algum "pingo doce".

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Frei Tomás




Do meu ponto de vista e sob todos os pontos de vista, Sócrates não é flor que se cheire. Agravado por isso, mas não só, também por "inerência" de funções, foi, dadas as suas evidentes falhas de carácter, muito mais atacado pela perspectiva moral do que em termos puramente (se é que isso existe) políticos. Ora, uma das personalidades que mais se evidenciou nessas invectivas foi um dos merceeiros-mores da República, o empresário Alexandre Soares dos Santos. Talvez por ser de uma geração, que, tal como a minha, não conheceu outra, utilizou até uma linguagem "esquerdista" para o censurar com grande aspereza (tal como o "economês" neo-liberal está eivado de conceitos marxistas, também no comentário crítico, mesmo de direita, abunda o jargão esquerdista. Não esquecer que a linguagem radical direitista não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial).
Parecerá a uma primeira vista, por isso, estranho que tão alto moralista e auto-proclamado patriota venha agora pôr os seus interesses a recato do país das tulipas, dotado de um regime fiscal mais conveniente para os cordões da sua bolsa. Tais incongruências são por cá "uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer": Champalimaud, depois de arengar patrioticamente sobre "centros de decisão em território nacional", vendeu o Totta aos espanhóis do Santander; Vaz Guedes, depois de fundar um movimento de empresários "nacionalistas", alienou a Somague aos "nuestros hermanos" da Sacyr Vallehermoso e agora o "camarada" Soares dos Santos (como, aliás já fizeram, sem tanto alarde - mas "cá se fazem, cá se pagam" - muitas outras empresas "nacionais" mais ou menos "achinesadas"), patrão do Pingo Doce, muda os réditos para os Países Baixos onde os impostos também o são.
Por causa de um monumental equívoco histórico habituámo-nos a fazer equivaler a verdade e a virtude, esse equívoco radica no outro Sócrates que, tendo pouco em comum com o "nosso", foi consagrado pela tradição platónica como caução pelo exemplo dessa equivalência clássica. Só mais tarde vingou e ainda assim, mais na tradição protestante, que isso pode não ser bem dessa maneira e que a Razão raramente é "Pura" mesmo quando a sua "Metafísica" nos impele para o Bem, que será, por natureza, absolutamente desinteressado. Já o mero "entendimento" (uma modalidade mais "pragmática" de raciocinar) trata de nos ensinar a fazer cálculos, medir e ponderar vantagens e desvantagens a frio, sem moralidades. Como a única "Teodiceia" viva é a do Capital e ainda assim já destituída da versão salvífica que ostentava antes da "Crise", pois migrou do "Éden" para o "Olímpia", substituindo a promessa de "Redenção" pelo "hardcore" pornográfico do terrorismo social, é muito normal que o senhor Soares dos Santos se tenha posto a fazer contas e tivesse mandado o patriotismo para aquelas plantas cuja água é muito adequada para lavar o fiofó.
Quando era miúdo tinha uma tia rica, que tal como um primo na Guerra Colonial, um morto em acidente de viação (então e ainda hoje) ou, agora, alguém da família no desemprego, era algo que toda a gente tinha. Essa minha tia rica, tia do meu pai, todos os Natais convidava os parentes "pobres" e "remediados" (o que não nos dava, nem dá, quase nenhum remédio) a ir lá para os Estoris a um bodo numa grande mesa cheia de hierática etiqueta, obrigados a comer muito moderada e cuidadosamente, transidos de temor à autoridade de quem manda porque pode, aterrorizados com o que poderia "parecer mal" e ouvir os sermões da senhora nossa tia, que nunca em dias da sua vida tinha trabalhado, sobre os "calões" e os "madraços" dos trabalhadores e os "gulosos" que eles eram. Escusado será dizer que chegado à idade de decisão, mais do que da razão, nunca mais lá pus os pés, porque me incluo naquela, quero crer que grande maioria das pessoas que mesmo sendo pobres, não toleram ter que fazer figura de "pobrezinhos".
Com o Sr. Santos também mais uma vez se confirma o aforismo da pregação de Frei Tomás e o "eterno" desacerto entre o que ele diz e o que ele faz.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Sem Moralizar



Saqueiem mas, por favor, não moralizem.
Entramos no ano da (des)graça de 2012 perante um coro, já insuportável, de "moralistas" que nos querem fazer crer que estamos a pagar o justo preço da expiação de uma qualquer "culpa", que terá sido termos "vivido acima das nossas possibilidades" durante os últimos 40 ou 50 anos. Mas quem jubilosamente vai bolsando tais atoardas, sempre viveu acima das nossas possibilidades e nunca soube o "que a vida custa", como disse, há pouco, um político que ainda disso se lembra.
É absolutamente escabroso termos que aturar gajos destes, "moralistas" sem moral, mercenários ideológicos da treta, políticos que nunca trabalharam e cujo curriculum deixa muito a desejar de todo e qualquer ponto de vista.
Como pode esta canalha exigir o que nunca fez, ou sequer alegá-lo?
Assim vai o capitalismo da roleta russa, recuperando afanosamente do "contratempo" que foram os 70 anos de União Soviética, muito melhor para os povos do Ocidente do que para os próprios, dando à fornalha de Baal as conquistas de uma humanidade não tão recente como isso, através da "armadilha" da globalização (só, claro, para o que interessa).
Os "mercados", os bancos, as agências de rating, os governos vendidos, os media "encostados" (não sei se já repararam, mas a Líbia e a Grécia eclipsaram-se) e o tittytainment, encarregam-se de fazer perdurar uma desordem que só poderá dar mau resultado e terminar em hecatombe. Este "redesenhar" da sociedade pela destruição dos seus traços benignos vai mesmo dar raia, ainda que estranhamente falte um "cimento" teórico crítico que sobrou durante as décadas em que menos fazia falta.
Nada que, entretanto, não possa resolver-se.