quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Salazarizar (mas em pior:..)





Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. É óbvio que está em curso uma tentativa de "salazarização" do país, traduzida por uma cascata de medidas, ou anunciadas medidas. Muitas vezes, de acordo com a linguagem do Primeiro-ministro,  para testar a sua possível "aderência à realidade" (quer dizer: atirar barro à parede, para ver se pega). Desta vez é o novo "conceito estratégico de segurança e defesa nacional" que, invocando uma pretensa "racionalização de meios", mais não visa do que operar uma regressão histórica de, pelo menos, quarenta anos e esvaziar a PSP de competências de segurança interna para as entregar à GNR. Assim, a PSP ficaria reduzida a pouco mais que uma "polícia de giro", enquanto a GNR teria o monopólio do Corpo de Intervenção, da luta antiterrorista e do controlo de manifestações, por exemplo. Ora, esta pretensão, no actual contexto, nada terá de "inocente", a juntar ao empobrecimento galopante, ao regresso da "caridadezinha", com o coro afinado de "ulrichs" e "jonets", entre os "ai aguenta, aguenta" e os "bifes", já só faltava o retorno, rapidamente e em força, do esplendor da GNR aos seus "tempos de glória".
Estão a juntar-se os ingredientes para a neo-salarização, por minagem e desmantelamento progressivo dos mecanismos da democracia que julgávamos consolidada. Agora sem o "cimento ideológico" que caracterizou o "original" dos anos 30. O "mestre" afirmava saber bem o queria e para onde ia. Estes fracos discípulos, sabem o que querem, mas não sabem para onde, nem como, hão-de ir. Arriscamo-nos a, no fim desta louca aventura, não restar pedra sobre pedra. Afinal estamos na era do "pensamento débil"... É o Passos sem metafísica.
A "Europa" não é estranha a este propósito. À boleia das assimetrias económico-financeiras entre o "Norte" e o "Sul" regressam as velhas assimetrias políticas que durante décadas "justificaram" que Portugal, Espanha e Grécia estivessem, ao contrário dos países desenvolvidos do continente, sujeitos a férreas ditaduras para as quais a "Europa" de então se esteve a "borrifar" (para não dizer algo mais vernáculo"), pois no ver "iluminado" dessas mesmas potências, não estávamos "preparados" para a democracia. Agora, por obra da "crise", parece que voltamos a não estar.
Mas, para voltar à GNR, mesmo  querendo ser optimista (nem "piegas", nem "velho do restelo", longe vá o agoiro) e concordando com a vetusta sageza de Heráclito de Éfeso quando afirma que "tudo muda", talvez influenciado pela memória de ter vivido numa terra (o Barreiro) ocupada e mantida manu militari pela GNR até ao 25 de Abril de 74, temo que a tradição pretoriana possa voltar a ser o que era e acorde velhos demónios.
Afinal basta recordarmos onde se refugiou Marcelo Caetano e alguns dos seus mais próximos nesse preciso dia...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Polícias e Ladrões (Parabéns Manoel de Oliveira)



"Aniki-bébé / Aniki-bóbó / Passarinho Tótó / Berimbau, Cavaquinho / Salomão, Sacristão / Tu és Polícia, Tu és Ladrão". 

Manoel de Oliveira,  que completa hoje 104 anos (Parabéns Mestre !!!), rodou Aniki-Bobó em 1942. Nessa altura os putos usavam o anexim que serve de título à fita para determinar quem, na brincadeira, fazia de "polícia" (os "bons") e quem faria de "ladrão" (os "maus"). É claro que a lenga-lenga era em geral "mafiada" para atribuir os  melhores papéis (que lhes permitiam "caçar" os outros) a quem estava na "liderança" do grupo e aos seus comparsas.  Já e de forma mui contrária à  teoria da "inocência", a razão da força se costumava sobrepor à força da razão. Os putos ficavam "chateados" quando lhes cabia o papel de ladrão (também ninguém queria ser "índio", toda a gente preferia ser "cowboy).
Hoje e dado o contexto, ladrões é o que por aí há mais,  parece  até que já ninguém se "chateia", antes pelo contrário.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Pr'ós Cus de Judas



Nunca como agora esteve tão adequado à realidade o título de uma das primeiras e melhores obras de António Lobo Antunes - "Os Cus de Judas". É para lá que estão a mandar os Serviços Públicos (Saúde, Justiça, etc.), isto quando os mandam para alguma parte sem ser "aquela".
Vão encerrar a Maternidade Alfredo da Costa sem estar construído o Hospital de Todos-os-Santos que a deveria substituir. A opção clara pelas periferias, para além de ser uma operação de estímulo à especulação imobiliária, quer no espaço que fica disponível, quer no local para onde os serviços são transferidos, representa mais um passo para a desertificação funcional das cidades e uma penalização para os utentes mais desprotegidos (pobres, idosos) por serem de mais difícil acessibilidade e de mais caros e raros transportes.
Enfim, mais um passo para o "Conhecimento do Inferno" cuja chave só poderá ser desvendada na "Explicação dos Pássaros".

domingo, 2 de dezembro de 2012

O PCP Nas Suas Sete "UCPs" (Dizer "Quintas" é Muito Burguês)






Jerónimo de Sousa abriu o XIX Congresso do PCP (em 91 anos, é só comparar com os partidos "burgueses") com, pelo menos na hora inicial, um brilhante e vibrante discurso. O PCP está, neste contexto económico - afinal a instância "determinante" (e ainda dizem que Marx está "morto"), social e político como Mao Tsé-Tung( (ou Zedong) disse que deve estar o revolucionário, "como peixe na água" ou, mais à portuguesa (trata-se de um partido, agora,  patriótico), nas suas sete UCPs (Unidades Colectivas de Produção, que isso das "Quintas" cheira a burguesia com pretensões afidalgadas).
Na velha tradição bolchevique dos discursos longos, mas sem serem intermináveis como os de Fidel Castro e do seu mais recente émulo, Hugo Chávez, Jerónimo de Sousa, a quem apelidaram de exemplo mais rematado do "comunismo de  sociedade recreativa", é natural, lá será sempre muito bem entendido) desta vez não ficou afónico e chamou os bois pelos nomes elencando a série de desmandos, patifarias e asneiras criminosas que os detentores do Poder têm vindo a praticar desde a "nossa" adesão à CEE (o PCP só não tem as mãos absolutamente limpas devido ao seu forte sector autárquico. Neste domínio nenhuma força política marca, entre nós, pela diferença, havendo, é  certo, um ou outro autarca, ou executivo, que se destaca sem que isso decorra da sua filiação partidária) - a destruição do aparelho produtivo nacional, trocado pela ilusão da "vida fácil" da "terciarização" da economia; a quimera do Euro; a subordinação aos interesses económicos, políticos e geoestratégicos das "grandes potências" europeias e do "tio" da América (que nos paga com a "evasão" da Base das Lajes), a apropriação dos recursos públicos por cliques e o aboletamento  devorista dos  grandes interesses instalados (Banca e oligopólios) sempre em prejuízo do Trabalho e das camadas populares.
Afinal a Queda do Muro de Berlim e o consequente desmoronar do Bloco de Leste não foram, ao contrário do esperado e do propalado na altura, lá  muito boas novas e acabaram por constituir das maiores tragédias da História Contemporânea. Não que os regimes do "socialismo real" fossem flores que se cheirassem, toda a gente, com um mínimo de honestidade intelectual, sabe o que eram, e no tempo da Guerra Fria  a jovem  esquerda procurava uma alternativa entre o "quotidiano da miséria" e a "miséria do quotidiano". O fim da URSS, fruto do cerco propagandístico, do colapso económico,  mas também de colossais desvios ao projecto socialista em favor da chamada "natureza humana" (ganância, corrupção e abuso de poder) tornou possível a consequente recuperação do velho sonho do capitalismo plutocrático - uma nova (des)ordem mundial do saque e da exploração que o "papão" soviético tinha travado por setenta anos, estava agora aí outra vez na "democrática" ordem do dia - uma síntese "perfeita" dos dois tipos de miséria. Uma nova Idade Média, em versão "high tech", aproxima-se a galope. A "dialéctica" é o que é, e a História está, ao contrário do que propalaram alguns vendedores de banha-da-cobra, longe da consumação. Parafraseando o título/tema da excelente obra do "camarada" Mário de Carvalho, sem chegar a imitar o Dr. Joel Strosse, "era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto".
É comum dizer-se que o nível de vida do País está a regredir (outros, que não vêem com bons olhos que a "plebe" possa "comer bifes todos os dias",  dizem até que "tem que regressar") aos índices dos anos 60/70. Pois bem, que assim seja em tudo, principalmente na Política. Perspectiva que não lhes deverá agradar, nesses tempos a sociedade era muito menos amorfa, sendo certo que, os hoje inexplicavelmente (ou talvez não) esquecidos "mecanismos de alienação" (ou "aparelhos ideológicos") também eram muito menos eficazes. Apesar disso e para utilizar o jargão da época, as "condições objectivas" estão a concretizar-se e, à medida que as "massas" forem sentindo na pele os efeitos do grande embuste em que foram enroladas, as "condições subjectivas" amadurecerão necessariamente .
O PCP está pois, em pleno, nas suas sete UCPs. 
Avante camaradas!

domingo, 25 de novembro de 2012

Para Ler o Pato Donald (ou alguns "subsídios", sem custos para o erário público, para que entendamos melhor os discursos tipo Ulrich/Jonet com um cheirinho a Cavaco)







Na minha  "revolucionária" juventude foi muito popular entre o "estudantariado" de esquerda uma obra de Ariel Dorfman e Armand Mattelart intitulada "Para Ler o Pato Donald" em que é feita uma exegese das histórias de quadradinhos da Disney enquanto veículos ideológicos do Capitalismo. Também por essa altura o psiquiatra Bruno Bettelheim  publicou a "Psicanálise dos Contos de Fadas" defendendo que são, na verdade, contos de uma palavra bastante parecida, em que só muda uma vogal. Ora, um método semelhante pode ser utilizado para fazer a hermenêutica do discurso ideológico de certos figurões bem escorados no "establishment", quando peroram, em termos moralistas, sobre as "virtudes perdidas" e a "valia redentora" dos sacrifícios (Obviamente para os outros. Mesmo quando dizem "temos que empobrecer", esse "temos" é apenas figurativo e estão bem conscientes disso, embora, no calor da abnegação discursiva,  possam episodicamente  "esquecê-lo").
É comum entre as "elites" nacionais (apesar de muitos dos apelidos o não serem) a divulgada opinião que os portugueses "têm vivido acima das suas possibilidades". Como se os portugueses vivessem todos da mesma maneira e como se isso, a ser verdade para o País considerado como um todo estatístico, não tivesse decorrido de uma espécie de "enriquecimento" sem causa, sobretudo sem base de sustentabilidade, promovido precisamente pelos mesmos que agora vêm dizer "Ai aguenta, aguenta" sobre a austeridade com que os seus interesses continuam a lucrar (o Banco do dr. Ulrich, por exemplo, é um dos que foi buscar financiamento ao "bolo" da Troika e o que vai para ele é o que não vai para as funções sociais do Estado). De facto se os bancos não tivessem lucrado com o festim do "crédito fácil" (esta do "fácil" é como a outra que foi a julgamento acusada de ser uma mulher da "vida fácil" e perguntou ao juiz, se era assim tão fácil, porque não experimentava ele próprio?!). Foram os interesses "económicos" e financeiros que estimularam o consumismo e abriram hipermercados e centros comerciais por todo o lado; foram os bancos que "avocaram"; com o indispensável beneplácito dos governos, o totalitário crédito à habitação eclipsando o mercado de arrendamento; foram os bancos que instalaram caixas ATM (vulgo multibanco) a uma das mais altas taxas por número de habitantes do mundo para estimular o despesismo; foram os interesses bancários que "fabricaram" dinheiro através do crédito sem garantias reais, criando "descobertos" autorizados e estimulando "bolhas"; foi toda uma "cultura" ilusionista, com pés de barro, dada como irreversível, que favoreceu nos sectores que hoje verberam a sua própria obra através da culpabilização das "presas" (afinal com papas e bolos se enganam os tolos), nisto semelhando aqueles roceiros coloniais que montavam tabancas à saída das plantações por onde os "contratados" tinham obrigatoriamente que passar para regressar aos "alojamentos", de modo a que a escassa "féria" que tinham recebido ficasse logo lá, "derretida" em álcool e bugigangas. 
Foi isto que aconteceu no Portugal do "oásis" nos últimos vinte e muitos anos, desde o consulado do cavalheiro "amnésico" que enquanto Presidente da República anda a propugnar a "reindustrialização" do País, e o "regresso ao mar" e à agricultura, quando, como Primeiro-ministro, promoveu o desmantelamento da Indústria, da Agricultura, das Pescas, a destruição da via-férrea e a "terciarização" do País, ou seja a ilusão da "vida-fácil".
Como a outra senhora deve ter saudades de ir a Marrocos e ouvir, entre regateios, a ladina adulação dos comerciantes dos "souks":
- "J'aime beaucoup les portugais, parce qu'ils sont pauvres comme nous".

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Orçamento e a Dúvida Metódica - Algumas Observações Praxiológicas




O dr. Paulo Rangel tem uma página semanal no "Público" (às terças) de que sou frequentador assíduo (o mesmo digo em relação às de Correia de Campos e Francisco Assis), é no meu modesto entendimento, demais a mais sendo político no activo, um dos mais profícuos pensadores políticos num certo deserto de ideias do nosso panorama caseiro que prefere, obviamente, os auto-alegados "doers" aos "thinkers". Na última terça, 20 de Novembro, o seu texto intitulou-se "O Orçamento e a dúvida metódica" e nele pretendeu e conseguiu, tendo em conta o tema, dar uma no cravo e outra na ferradura. Para esse circunlóquio moderadamente "paracrítico" (uma espécie de "quasicoisa" um pouco ao estilo "1x2" do também eloquente Professor Marcelo), que acaba por ser "simpático" para o Orçamento de Estado deste governo, perante o qual, diga-se de passagem, não se tem eximido de assumir posicionamentos em tom de "crítica construtiva", argumenta com "ressuscitar Descartes do mofo e do bolor dos livros que já ninguém lê".
Em primeiro lugar, não vou ao ponto de lhe recomendar que fale por si, pois entendo a hipérbole do "já ninguém lê" na sua função estilística, acrescento para o informar, caso não esteja ao corrente, que no Ensino Secundário (os actuais "liceus") deixou de ser contemplada a sua leitura obrigatória (como aliás, na disciplina de Filosofia, a de qualquer texto completo, tudo ficando pelo fragmentário) . De facto muito pouca gente há-de fazê-lo. Mas já que o  tornou a ler e se socorre desse precioso texto do velho mestre francês que é "O Discurso do Método", poderia tê-lo feito de maneira mais cuidada e menos "habilidosa" mesmo com o denunciado objectivo de apoiar, ainda que de modo "crítico", o Orçamento de Estado do governo de coligação em que o seu partido (o PSD) é o parceiro maior. Assim quando pretende que a dúvida como método que, em consonância com o atrás exposto, prefere à dúvida céptica, tem como fim encontrar "terra firme" ou seja encontrar um "ponto de partida", não poderá elidir que esse ponto de partida seguro é o "cogito" isto é a intelecção de uma evidência racional que permita estabelecer um percurso heurístico em direcção a uma verdade, passe a  redundância,  tornada segura pela intuição intelectual (a tal "evidência"). Ora, no caso vertente (e de "vertente" muito inclinada para baixo), o do Orçamento, não me parece que esse ponto de partida racional "claro e distinto" tenha sido estabelecido com um mínimo de segurança.
Na verdade para construir uma "moral definitiva" e enquanto estiver na fase de "work in progress", será, para Descartes, necessário deitar mão a uma "moral provisória" que permita guiar os nossos actos, durante o tal "interim", para que não se produza um hiato de princípios que poderia constituir um interregno da razão susceptível de tolher toda e qualquer iniciativa. Tal como se deverá estar "comodamente instalado" enquanto avança a construção de uma casa nova. Ora aqui é a porca torce o rabo, não me parece que começar por destruir a casa seja um bom princípio e permita um mínimo de "comodidade". Também na mesma obra (II Parte) escreve o mestre : "Porém, como um homem que caminha sozinho e nas trevas, resolvi seguir tão lentamente e usar de tanta circunspecção em todas as coisas, que, muito embora avançasse pouquíssimo, evitaria, pelo menos cair".
Parece que a estratégia subjacente ao Orçamento é tão rapidamente e em força dar o passo final para o abismo, que de todo em todo contraria esta precaução.
Descartes tomou de empréstimo ao senso comum uma, assaz conformista, "moral provisória" para não permanecer "irresoluto nas acções" enquanto não ultimava uma prometida "moral definitiva" a construir de acordo com os princípios da Razão.  Temo que a cómoda analogia do Orçamento por recurso ao Método, se venha a verificar como não válida. Afinal de contas o único ponto de semelhança entre o procedimento de Descartes e o Orçamento de Estado que o douto Paulo Rangel tenta acomodar intelectualmente na sua provisoriedade, é que Descartes nunca cumpriu esta promessa e a tal "moral definitiva" nunca viu a luz do dia.          
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ó Senhores de Matosinhos, Ó Senhoras da Boa Hora...





Pelos vistos as "bases" do PS de Matosinhos continuam a dirimir as candidaturas autárquicas pelo método da "peixeirada". Não basta  a responsabilidade moral pela morte de Sousa Franco, em 2004, no termo de uma campanha  para as Europeias em que se transfigurou, revelando um dinamismo  no "terreno" até ai insuspeito na sua figura de recatado académico, precipitada pelo choque violento de "hostes" a que não estava habituado e, por isso, lhe terá sido fatal. 
Desta vez as turbas intervenientes nesta "caldeirada" foram as dos "apoiantes" de Guilherme Pinto (actual Presidente da Câmara), "claque" repetente, pois já se tinha estreado em 2004 nos supracitados incidentes de que resultou a morte do Professor Sousa Franco (nessa altura defrontando na Lota os "hooligans" "apoiantes" de Narciso Miranda) e a dos "apoiantes" de António Parada, actual Presidente de Junta, que quer fazer um "upgrade" político a si mesmo e ser Presidente da Câmara, correndo de lá com o Pinto (tudo isto entre "camaradas", claro). Nesta guerra pelo "tacho", há que reconhecer que se aprimoraram nas "artes marciais", desta feita e repetindo a dose, especializando-se  no "vale-tudo".
Razão tinha Churchill quando disse a um sobrinho de visita ao Parlamento que do outro lado não costuma sentar-se o "inimigo", mas tão só o "adversário". O "inimigo" costuma sentar-se na cadeira ao nosso lado.
Enfim , "banalidades" das "bases" ou não fosse o PS, o partido mais "plural" que por cá existe.



sábado, 17 de novembro de 2012

Cães de Fila, Cães de Palha e Um Momento Jonet







Na passada quarta-feira, dia 14 de Novembro, vi, em reprise, um velho filme que me fez lembrar os "saudosos" tempos da Polícia de Choque do capitão Maltez Soares. Um pequeno grupo de embuçados tratou de mimosear o Corpo de Intervenção da PSP de plantão no  sítio do costume, a escadaria de S. Bento, com umas tímidas pedradas estilo ping pong, que não sei se por fastio ou falta de convicção, desmentiam a evidência de se estar perante homens e também, pelo que vi, algumas mulheres, na flor da idade visto aparentarem não ter, ou não quererem ter, força e jeito para arremessar pedras da calçada a mais de uns escassos dois metros (se calhar é porque não comem bifes todos os dias). Nisto os gregos, os espanhóis, os italianos e até os britânicos e alemães (já para não falar dos japoneses e dessas máquinas de luta urbana que são os sul-coreanos de armas idênticas às da polícia, são muito mais "profissionais"). Estivemos então perante uma estranha coreografia em que uns quantos arruaceiros, numa espécie de linha de montagem, arrancavam pedras do chão e iam municiando alguns, muito fracos, "artilheiros" (no "meu" tempo - quem pensa que a situação é inédita é porque ou é muito novo, ou muito esquecido - utilizava-se uma "cunha"  ou um "pé de cabra" e levantada a primeira pedra, as outras vinham por arrasto) que as atiravam contra os escudos da Polícia, parecendo esta vir preparada para isso, uma vez que trazia os escudos longos e não os habituais circulares, o que lhe permitia fazer a "tartaruga" defensiva com total eficácia).
A Polícia estranhamente (ou talvez não) demorou imenso (quase duas horas) a intervir - a ordem nunca mais vinha - numa espécie de exercício de "estoicismo" para passar nas televisões,   deixando adivinhar uma reacção muito violenta, assim como que a criar "lastro" para a justificar. Esgotados os avisos da praxe inicia-se a contra-ofensiva policial e nesse momento assiste-se a um fenómeno que só é insólito para quem passou os últimos quarenta anos na "lua": um conjunto de "manifestantes radicais" muda de campo e passa para o outro lado da "barricada", veste os coletes que sinalizam "Polícia" e segue a "varredura" geral, no encalço de alguns dos manifestantes que momentos antes, enquanto infiltrados, tinha referenciado, enquanto o grosso da coluna se entretém a distribuir bordoada indiscriminada e generalizadamente às centenas de circunstantes cujo único "crime" foi lá terem estado. Toma lá que é para aprenderes, pedimos desculpa por esta interrupção, a democracia segue dentro de momentos.
Na sequência destes incidentes, que sinalizam o princípio do fim dos alardeados "brandos costumes" e que sobrepujaram mediaticamente a Greve Geral, aliás nem poderia ser de outra maneira, dado que, passe o pleonasmo, os "acontecimentos" aconteceram. Deixando um "cheiro" (a pólvora) na insinuada relação com a mesma (ainda que pretextando o contrário), o Ministro do Interior (ou da Administração Interna ou lá o que é) que qual virgem ofendida, negou veementemente o que esteve bem à vista;  o Primeiro-ministro; o Presidente da República (avisando não ter visto as "imagens") e o próprio "leader" da Oposição (deve ser para mostrar o tal "sentido de Estado" que dizem faltar-lhe), numa cascata de aparições televisivas, vieram prontamente louvar a "corajosa", "atempada" e "adequada" intervenção policial. 
A mais do que  evidente estratégia intimidatória das "autoridades" só estará "bem montada" para quem gosta de se deixar "montar" - "a mim não me enganas tu, a panela ao lume e o arroz está cru". 
A este confronto entre cães de palha e cães de fila juntou-se, pelo menos, um momento Jonet: o do respeitável Professor Anes do Observatório para a Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (mais um), ao declarar que o pessoal das pedradas eram "jovens dos subúrbios".
Os da Lapa só atiram "pedras" para dentro...
Na sequência dos "confrontos" fizeram-se perseguições, identificações, detenções, agressões,  denegações de assistência médica, familiar e jurídica, que chegaram a mais de um quilómetro do foco de origem (Cais do Sodré e Baixa) arbitrárias e atrabiliárias em que "pagou o justo pelo pecador" parecendo ter sido mesmo essa a intenção (a famigerada "estratégia da aranha").
Enfim as linhas tortas de um Estado cada vez menos de Direito, a ficar demasiado encostado à direita.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Greve Geral - Uma Questão Moral



Fazer a Greve Geral é o mínimo moral ao nosso alcance imediato. É mesmo uma questão de decência.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Bardamerkel !!!



É uma Doutorada em Física na RDA, a mulher do Ceausescu dizia-se "Doutorada em Química" (embora esta, a avaliar pela foto, seja também muito dada à transubstanciação), mas era na Roménia, logo menos fiável - a latinidade sempre dada à trafulhice. Enquanto na terra dos "Kaisers" e dos "Hitlers", que só por acaso era austríaco, mas tratou logo do "Anschluss", a coisa é mais séria (enfim são apanhados uns ministros com teses plagiadas, mas vá lá, vá lá...ao contrário dos Relvas, são corridos).
Não procura popularidade, nem elogios mediáticos. Só se for fora de casa, pois lá estimula e vive do populismo mais rasteiro e xenófobo e "albarda o burro à vontade do dono".
Se trabalham assim tanto, nem sei de onde virão esses "crustáceos" vermelhuscos que por aí andam o ano inteiro, de dia ao sol e de noite de tasca em tasca, permanentemente enfrascados, mas parece que a algazarra é gutural e teutónica. Também não consigo entender porque razão há tantos "esquerdistas inadaptados" que fugiram do "Paraíso" da "Kaislerin" Merkel e emigraram para este "Purgatório" à beira-mar plantado.
Sabem que mais?
"Bardamerkel" e Boas Festas !!!

sábado, 10 de novembro de 2012

Aderência



Passos Coelho, "apanhado" numa escuta judicial no âmbito da "Operação Monte Branco" a conversar com o banqueiro Ricciardi (mais um apelido estrangeiro ungido do "Espírito Santo"), declarou não ter nada a temer, e passo a citar: "Se aquilo que aquele jornal refere tem aderência à realidade ...".
Ora, esta maltosa que nos (des)governa deu em adoptar uma fraseologia modernaça em tom blasé, numa espécie de neo-pretoguês pedante e analfabruto, disfarçado com umas tintas de novo-riquismo.
Deve estar bem fundamentado na profunda investigação académica levada a cabo pelo outro meco, o "dótor" Relvas, que consta ter feito, por equivalência, as "cadeiras" de "Língua Portuguesa I" a "Língua Portuguesa V", quando lá na "Universidade" só havia até "Língua Portuguesa III" (parece a do cigano que no Terreiro do Paço, quis vender a um passante um relógio que alegava ter trinta e sete rubis. Este respondeu ter um com quarenta e nove,  tendo o outro rematado: "Ena tanta mentira junta. O máximo são dezassete!").
O tema das investigações desse fiel lugar-tenente e leal conselheiro nos seus aprofundados estudos terá sido, sem margem para dúvidas, algo alicerçado no âmbito da abordagem heurística da Obra Completa de Antero do "Quintal"  numa  perspectiva de desconstrução crítica da "Mensagem" por sms de Pessoa plasmada na sua conexão escatológica com as "Palavras Cínicas" de Albino Forjaz de Sampaio.
"Aderência" ?!
É para ver se cola!!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Suspiro das Almas Caridosas em Tempos Díficeis (Para os Outros, Claro Está...)




Há pessoas que nos habituámos a admirar, mas que de repente, ou nem tanto assim, nos desiludem. É o caso de Isabel Jonet, cujo papel no Banco Alimentar Contra a Fome tem mobilizado a solidariedade dos portugueses para acudir às necessidades mais prementes de outros seres humanos e o curioso, ou também nem tanto assim, é que costumam ser os menos "ricos" que mais dão. Mas a cidadã e economista Isabel Jonet (depois do Ulrich, este pessoal de apelido estrangeiro parece ter-se especializado neste tipo de dislates, talvez pelas circunstâncias "coloniais" que trouxeram para cá os seus antepassados), decidiu também, e tem esse direito, pronunciar-se em termos políticos e tornar claras as suas posições acerca da sociedade portuguesa na conjuntura adversa que atravessamos (não sei bem se "atravessamos" ou se, como o outro, terá vindo para ficar). Ela acha que: "Os portugueses vivem muito acima das possibilidades. Vamos (?!) ter de empobrecer muito, vamos ter de viver mais pobres". Pela terceira vez (como as negações de Pedro) esta senhora produziu declarações públicas aviltantes para os que são susceptíveis de beneficiar dos apoios que a organização que lidera presta e que agora são potencialmente muitos e muitos mais, fazendo o mui "católico", na versão das "tias" bem intencionadas, elogio da redenção pela pobreza a que estaremos (nós, claro, ela decerto que não) condenados. Pois bem, S. Francisco, o guia dos "poverellos", foi pobre porque assim o decidiu, o seu resplandecente exemplo pode iluminar-nos mas é muito diferente da pobreza involuntária para que são atiradas, por um sistema triturador de vidas em que qualquer um pode, de repente, tornar-se num qualquer, todos os dias milhares de pessoas.   Acontece que  este sistema predatório é promovido por áreas políticas, (pouco) económicas e sobretudo financeiras ideologicamente muito próximas da nossa benfeitora  que tratam de desestruturar e precarizar a sociedade e as suas células-base e vêm depois chorar lágrimas de crocodilo pela "dissolução" da família (já o "velho" Marx, há mais de cento e cinquenta, anos respondia à letra a esta acusação hipócrita), pela "crise demográfica" que é uma das maiores falácias a que os media gostam de dar crédito, juntamente com a da "educação" (quando o real problema está na economia, parasitada por esta gente, que não cresce), contra o divórcio e o aborto, a que acredito (em alguns casos) na santa paz da inconsciência, estas personagens atribuem todos os males do mundo que querem repor na ordem  (na sua claro).
A sua "sensibilidade social" assemelha-se à de  Paulo Portas que numa intervenção expendeu, e cito de cor: "É uma pena que em África as pessoas não tenham meios para almoçar, nem para jantar" (deixe estar senhor ministro que, por cá, há muitas e cada vez mais que também não) e à de Lili Caneças que foi oferecer "tops" Versace (usados claro, fora da saison), pelo Natal, para o Bairro do Fim do Mundo - "pois lá por serem pobres também têm direito à moda", demonstrando ainda assim mais verdadeira e naif generosidade. A doutora Jonet afiançou que "não podemos comer bifes todos os dias". Pois não madame, até porque são rijos e não valem o que custam.
Já não falo na "pecking order" sempre inerente a este tipo de instituições e da falta da, tão ao gosto dos neo-liberais, "accountability" que evidencima podendo até dar a impressão ao sempre suspicaz povo português (ou, se preferirem, à  "opinião pública") de que "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte".  Há sempre que respigar o velho rifão da "mulher de César" - mesmo sabendo que por essas bandas preferem a castidade ou as famlias numerosas (até porque podem) - que não tem apenas que ser séria, também tem de parecê-lo".
Mas esteja descansada minha senhora que pobrezinhos certos, todos os sábados de manhã, atentos, veneradores e obrigados, não lhe hão-de faltar a bater à porta da escada de serviço,  pedindo, já não o pão-por-deus ou pela alminhas de quem lá tem, mas o avio da semana.
Para Vossa Senhoria  poder ter o alvedrio de responder:
Tenha paciência!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lego Lapidares (Teoria dos Jogos)



"A política internacional é um sistema de peças em que mexer num dominó altera o xadrez".

                                        Carlos Zorrinho, Fórum TSF,  07/11/2012

domingo, 4 de novembro de 2012

Ai Aguenta, Aguenta...


O doutor Fernando Ulrich declarou recentemente para responder a uma espécie de dúvida metódica: "O país aguenta mais austeridade?... Ai aguenta, aguenta".
Como calculo que o dr. Ulrich esteja a falar da sua própria condição e esteja preparado para perder o emprego, ficar sem casa (se calhar em favor do seu próprio Banco, o benemérito BPI), tirar os filhos da Católica (ou coisa que o valha), começar a pernoitar e tomar duche nos albergues nocturnos e as refeições nas "Cantinas Sociais" do ministro Mota Soares, sugiro-lhe graciosamente uma "dica" de marketing promocional que lhe irá poupar os custos de ter que recorrer a mais alguma Agência de Publicidade:
Mande pintar, a cor de laranja forte, nas montras das Agências do BPI a famosa frase "Ai aguenta, aguenta".
Vai ver que também não terá custos de execução da empreitada, mão-de-obra em regime de voluntariado não deverá faltar.

domingo, 28 de outubro de 2012

Ultraje !



"Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha."

                Luís Vaz de Camões

O Ministério do dr. Paulo Portas tem que esclarecer se há alguma relação daquelas entre o "fumo" e o "fogo" nesta imagem duplamente ultrajante.
Não sei se depois da fragata que mandou, ou falou em mandar, para a Guiné- Bissau aquando do último golpe de Estado (?!) local e de que esta "rapaziada" se fartou de rir, ficou com vontade de fazer algo mais destemido.
Até porque o acto mais "heróico" que se lhe conhece foi o de, quando era Ministro da Defesa,  ter  enviado umas embarcações da nossa Armada (triste foi Pedro soldado) interceptar a clínica flutuante de umas "desmancha-prazeres" holandesas (a dr.ª Gomperts & Friends).
Ah valente!!!




sábado, 27 de outubro de 2012

O Cume de Dante



No que se pode considerar uma sentença muitíssimo controversa, o Tribunal da cidade italiana de Áquila condenou a penas de prisão os membros de uma "Comissão de Altos Riscos", entidade constituída por prestigiados cientistas (sismólogos e vulcanólogos) e membros da Protecção Civil não, como se tem dito e escrito, por "terem falhado" as previsões após os primeiros sinais do sismo de 2009 que acabou por vitimar de morte mais de trezentas pessoas, mas por terem minimizado o problema e divulgado um comunicado oficial "tranquilizador" que instou os habitantes da região a permanecer em suas casas, o que lhes veio a ser fatal.
Ora são coisas muito distintas, uma coisa é o "erro" científico, outra, muito diferente, o comunicado "político" que arriscadamente cientistas-funcionários acabaram por protagonizar. Demais a mais numa área, como a sismologia, em que a previsibilidade é muito diminuta.
Visa este texto contribuir para o debate  acerca da eventual responsabilização judicial de decisores políticos e administrativos cujas acções e omissões se venham a verificar gravemente lesivas do interesse público ou mesmo catastróficas. Pode perguntar-se se essa responsabilização não será susceptível de determinar um judicialização "inquisitorial" da democracia que poderá degenerar numa autêntica "caça às bruxas"?
Tudo dependerá do que estiver em causa, da justeza procedimental e dos factos que forem apurados. Entendo que a "irresponsabilidade" jurídica dos actos políticos não pode verificar-se a qualquer custo e que a mera cessação dos mandatos não poderá nunca fazer prescrever as responsabilidades efectivas e não apenas no chamado "julgamento político" que alguns julgadores em causa própria pretendem restringir aos actos eleitorais que "penalizariam" de modo "suficiente", com o simples afastamento, os maus decisores. Tal não me parece de todo justificável sempre que, como agora está sobejamente à vista, as consequências nefastas dessas decisões na área da segurança face a fenómenos naturais (os famosos "Actos de Deus" da jurisprudência anglo-saxónica), mas também na económico-financeira, social , previdencial, educativa, etc. sejam de tal monta e perdurem por períodos que excedam largamente os putativamente mitigados por essa simples "revogação" de mandato ou abandono de cargo.
Escolhi para título desta crónica "O Cume de Dante" ("Dante's Peak") - nome de um filme americano de 1997,  de Roger Donaldson, com Pierce Brosnan e Linda Hamilton, cujo enredo gira em torno do conflito ético entre um vulcanologista (Brosnan) e uma "mayor" honesta (Hamilton) - também os há, pelo menos nos filmes - e os interesses "empresariais" (turísticos e comerciais) das forças vivas de uma cidade-estância de desportos de Inverno perante os primeiros sinais de alarme de uma erupção vulcânica. Ora, o cotejo com a situação dos Abruzzos não poderia ser mais certeira, ainda por cima Dante, ele mesmo - o da "Divina Comédia" - era italiano.
De todas as tomadas de posição publicadas na nossa imprensa que vi e li, a que mais me chamou a atenção foi a do deputado Francisco Assis, homem inteligente e excelente de pluma, na sua página semanal do "Público", numa espécie de assomo vitalista de que me permito discordar quando conclui ser esta sentença "populista" e  espelhar a aversão da velha e comodista Europa ao "risco" e à "iniciativa", atitude que, a persistir, que se traduzirá pela inevitabilidade da decadência económica e pela inexorabilidade do empobrecimento.
Tenho para mim que muito mais grave do que o eventual populismo desta sentença foi a decisão da social-democracia europeia de mimetizar o modelo norte-americano (mas não em tudo), ainda que na versão do Partido Democrata e do seu "mate" (noutras "eras" dizia-se "compagnon de route") e "cavalo de Tróia", o  New Labour de Blair no abandono da matriz socialista tradicional e na adesão ao social-neo-liberalismo da "Terceira Via", essa sim uma decisão catastrófica para a Esquerda e para os povos da Europa. Muitíssimo pior do  que  considerar  apenas digno de deputados, mesmo os que pelos vistos esconjuram os "excessos de proteccionismo" do "Estado-Providência" desde que lhes continue a providenciar (nunca se questionando porque será que nada disso acontece no Reino Unido, quanto mais na Suécia, e que o Quénia, por exemplo, tenha dos deputados mais bem pagos e com mais mordomias do mundo) não terem que se deslocar em algo tão "pindérico" como um simples "Clio".

sábado, 20 de outubro de 2012

"Gigões & Anantes": à memória de Manuel António Pina (1943-2012)





Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.

Quase Todos os Nomes





Em conversa com um colega, veio à colação um dos mais curiosos fenómenos político-mediáticos dos últimos tempos, o dos epítetos metafóricos com que, em autêntica desgarrada, tem sido mimoseado o Orçamento de Estado para 2013. "Esbulho", "saque", "confisco", "assalto" simplesmente, "assalto à mão armada", "devastação", "bomba atómica",  "cancro", "septicemia", "arrastão", "crime fiscal",  "genocídio",  "harakiri", "suicídio" e até "eutanásia", "monstro", "aberração" e por aí fora, em sucessiva e eloquente aproximação imagética à verdade dos factos (tendo em conta que não passa de um "aborto"). As mais das vezes vinda, um tanto ou quanto paradoxalmente (ou talvez nem tanto assim), da Direita e até pondo na mesma linha de tiro personalidades que não morrem propriamente de amores umas pelas outras...
Podemos queixar-nos do Orçamento, não nos podemos é queixar de falta de eloquência ou de imaginação discursiva.
Não o estranho, acho até bastante normal, num País em que a  principal matéria-prima - o bacalhau -  para mais de uma centena de pratos nacionais é pescado nas águas da Noruega ou do Canadá e o endoutrinamento do financeirismo  protestante tem por bastião-mor a Universidade Católica.

Post Scriptum: Na listagem faltam, como refere o "quimnar", o "napalm", a "psicopatia" e mais alguns epítetos de grande e adequada intensidade dramática. Mas a memória é o que é e, nestas idades, não é o que já foi...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Bailar a Fofa (Confronto Pastoril nas Ilhas Afortunadas)







Mesmo em época nada bucólica, acaba de ocorrer um confronto "pastoril", em sintonia com a paisagem, entre uma "Cabral" e um "Cordeiro" nas afortunadas ilhas dos Açores. O eleitorado regional preferiu o de nome mais tenro, delfim de um sóbrio César e recusou bailar a "Fofa" laranja com quem,  talvez com uma delgada ponta de injustiça do ponto de vista estritamente pessoal, viu poder vir a revelar-se "coelho" ou melhor, "gato escondido com confiscatório rabo  de fora". Berta Cabral acabou por pagar pelas "más companhias" continentais.  Parece-me, no entanto, que não ficaram os Açores e o País mal servidos de "anho".
As diferenças entre os Açores e a Madeira são profundas e as personalidades dos seus líderes históricos costumam delas ser espelho fiel. Entre João Bosco Mota Amaral e o "vitalício" Alberto João Jardim dizia-se que eram de "opus dei" para "copus night". Também agora o povo açoriano preferiu a continuidade  de um ritmo mais "seguro" a uma ruptura com previsíveis "passos" para trás. O CDS paga o "imposto da (frouxa) solidariedade" governamental e  "leva com o Portas em cima" para parafrasear a subitamente ressuscitada imagética "proletária", tão ao gosto dos velhos grupos "m-l", que nos trouxe o deputado Fazenda (da "sensibilidade" UDP do Bloco) com o comentário  da actual (e já ficcional)  maioria (um cadáver adiado que procria)  ter "partido os dentes" e a consentânea implícita consideração de que o  Bloco e o PCP/CDU, com um deputado cada, serão certamente "as espinhas encravadas na garganta" dos poderes regional e nacional.
Parabéns e força, força camarada Vasco !!!


domingo, 14 de outubro de 2012

Recomendação



Meus senhores: ORGANIZEM-SE !!!
Recomendou Jorge Sampaio à "classe política" portuguesa em entrevista à SIC - Notícias.

sábado, 13 de outubro de 2012

Fia-te na Virgem...





Lá em cima estão o pide e o patriarca
Cá em baixo estão o bispo e o fascista
Juntaram-se todos a rezar
Para ver como hão-de salvar o sistema capitalista

                    Modinha cantada durante o PREC (1974/75)

O senhor Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, afirmou em Fátima: "O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição e do nosso sistema constitucional.  Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações".
Ó senhor D. José, com todo o respeito que me merece, quer pelas funções que desempenha, quer enquanto homem de Saber, permita-me que concorde com, pelo menos no sentido literal, uma das proposições desse seu enunciado e discorde da outra. Refiro-me a: "O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição." É verdade, sim senhor, está a acontecer que  um Governo formado na base de uma vitória eleitoral com Programas sufragados que se propunham fazer exactamente o contrário do que está a ocorrer, está a dar o dito por não dito. Na verdade, ambos os líderes da coligação PSD/CDS, declararam  em Campanha Eleitoral que não subiriam impostos, que não cortariam subsídios, salários e pensões e que iriam cortar nos "gastos intermédios" e "gorduras do Estado" sem nunca terem explicado, nem bem,  nem mal, em que é que isso consistiria. Logo a sua legitimidade política actual é nula, pois foram eleitos na base de reiteradas mentiras. Por isso não está a haver, por parte do Governo em funções e da maioria que o apoia na Assembleia da República, qualquer respeito pela "harmonia democrática" e pelo "sistema constitucional" que Vossa Reverência parece tanto prezar. Já  quanto à segunda proposição: "Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações" - permita-me que discorde. Não sei se se resolverá alguma coisa vindo para "grandes manifestações" (presumo que Vossa Reverência fará excepção das "grandes manifestações" que, em dias certos, costumam ocorrer em Fátima) sendo certo, do meu modesto ponto de vista,  que serão sempre preferíveis a pequenas manifestações ou à sua total ausência. Pelo menos, permitirão que se exerça o democrático "Direito à Indignação" e que se demonstre que (para repescar outra velha palavra de ordem dos idos de Abril): "O Povo não quer troca-tintas no Poder".
Ou Vossa Reverência considera que mentir já não é pecado? Se assim for, permita-me que ache, no mínimo,  bizarra essa forma de ser católico. 
Talvez Vossa Reverência entenda que em vez de manifestações, devamos fazer muitas e profundas preces e orações. Num País em que o último milagre reconhecido pela Igreja de que Vossa Reverência é, por cá, o dignitário máximo ocorreu há noventa e cinco anos. Sinceramente não me parece ser solução e até me faz lembrar uma "estória" que o meu saudoso pai costumava contar e nos poderá servir de oportuna parábola:
"Indo dois ribatejanos pela lezíria a cortar caminho para apanharem o comboio para Lisboa, foram acometidos por um touro que por ali pastava. Um deles fugiu para cima de uma árvore, o outro ajoelhou-se de mãos postas em sonora prece. 
Disse-lhe então o que estava a salvo em cima da árvore:
 - Fia-te na Virgem e não corras e logo verás a cornada que apanhas!"

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Palavras Para Quê?!










A Tecnoforma, uma empresa de que Passos Coelho foi consultor e administrador, dominou por completo, na região Centro, um programa de formação profissional destinado a funcionários das autarquias que era tutelado por Miguel Relvas, então Secretário de Estado da Administração Local. (Público, 7/10/2012) 

Palavras para quê? Se bem que vendidos a interesses estrangeiros, são "artistas" portugueses!!!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Pátio e a Galé (Está Contente Senhor Presidente?)









Na cerimónia de comemoração do 5 de Outubro (data que estes biltres pretendem sonegar) deste ano da desgraça de 2012, ocorrida, por medo do Povo e a despeito de uma manhã esplendorosa, não na Praça, mas em recinto fechado, no Pátio da Galé a que nos acorrentaram e em que, como forçados, remamos sem saber para onde, o Senhor Presidente da República começou por hastear a Bandeira de modo consentâneo com o estado do País, de pernas para o ar. Depois houve canto lírico de protesto numa iniciativa que só não foi travada porque, dada a sua elegância e maviosidade, terá sido confundida com um acto protocolar e, por fim, uma mulher de meia-idade (certamente uma "cigarra") irrompeu aos gritos de desespero e raiva e foi manietada e expulsa pela segurança. De pouco valeu terem-se posto a recato, a voz irada da Nação fez-se ouvir naquilo que poderá ser apenas mais um prenúncio. Têm bastas razões para temer.
É caso para perguntar ao homem que hasteou a Bandeira ao contrário se está contente?
Está contente, Senhor Presidente, pelo estado a que o senhor, enquanto chefe de governo, também deixou chegar o País?
Está contente por ter desmantelado a Indústria Pesada e Transformadora?
Está contente por ter abandonado a Agricultura a as Pescas?
Está contente por ter encerrado a Marinha Mercante e a Construção e Reparação Navais?
Está contente por ter arruinado a Ferrovia em detrimento de uma insustentável e redundante rede rodoviária que agora nos custa os "olhos da cara" para encher os beneficiários das tais PPPs?
Está contente com o destino do dinheiro para a Formação, vindo do Fundo Social Europeu, consumido em parasitismo e inutilidades?
Está contente com os jipes (então conhecidos por "IFADAPs") e as moradias com piscina que os chicos-espertos deste País compraram e mandaram fazer com os fundos desviados de "sacos" então aparentemente sem fundo?
Está contente por ter pactuado com os Bancos na "bolha imobiliária" que amarrou as famílias portuguesas às casas que lhes ficam a pagar uma vida inteira e que, após anos de "festa", vêem agora desvalorizar a pique?
Está contente com a camarilha de arrivistas que criou e alimentou até darem em "banksters" e trafulhas polivalentes?
Está contente com a "economia moderna" de "clusters" e "serviços" (quer dizer bandeja e "call centers" ) que os seus "gurus" modernaços andaram a vender e a "implementar", destruindo as bases da economia real?
Está contente por enquanto "homem do leme" ter levado a "galé" ao naufrágio?
Parabéns Senhor Presidente, Vossa Excelência é um homem de "rasgo"!!!


terça-feira, 25 de setembro de 2012

A "Candura" do Professor Duque


O Doutor João Duque, que é professor catedrático de Economia, ainda há pouco, no "Fórum" da TSF, demonstrou uma assinalável veia panglossiana ao tentar justificar o mais que do que previsível falhanço da terapêutica do Governo (ah, já me esquecia, o Professor Duque além de um reiterado optimista, é também um incorrigível "manteigueiro") primeiro tecendo considerações epistemológicas acerca da cientificidade da Economia, aventando que "não é uma ciência exacta", por pouco não deixou cair que não é, de todo, uma ciência; depois dizendo, mais ou menos, que ninguém podia prever que ao actuar do lado da despesa cortando salários e pensões (afinal parece que as únicas das famosas "gorduras" do Estado que foram encontradas) e do lado da receita aumentando os impostos (nomeadamente o IVA) se acabaria, afinal, por obter um efeito recessivo. 
Então é preciso ser doutorado em Economia para chegar, tarde e a más horas, a esta conclusão tipo "sopas depois de almoço" e "prognósticos depois do jogo" ?!  
Como dizia o dr. Faro Viana, um castiço professor de matemática que tive no Gil Vicente em 66/67 - "qualquer guarda republicano é capaz de ver uma coisa destas":
Quem deixa de ganhar, deixa de comprar e se a fuga ao IVA já era enorme, desta feita passou a ser colossal.
Com a breca. Só me saem é "Duques"!!!

sábado, 22 de setembro de 2012

"La Grande Retraite"


Chegou a hora da Grande Retirada, Passos e Gaspar retiram  a proposta da TSU, Seguro retira a intenção de apresentar a tal Moção de Censura. O senhor Presidente da República retira-se para "penates", os Conselheiros de Estado idem, idem, aspas, aspas. Por este fim-de-semana podemos retirar-nos todos, sabendo que, como na antiga RTP, é apenas  um interlúdio com "mira técnica". O Programa segue dentro de momentos".

Tau-tau Presidencial e Metadona Orçamental


O Presidente da República ao, no âmbito do Conselho de Estado, nomear uma Comissão presidida pelo Governador do Banco de Portugal para encontrar a "metadona" orçamental que permita    adoptar medidas de substituição para a malfadada "dança" da TSU (mais conhecida por "Taxa Xerife de Nottingham") está a dar um monumental correctivo em Passos, Gaspar e quejandos.
Pena é que não haja vergonha e que estes cavalheiros finjam (tarefa quase impossível) ser ainda de compreensão mais lenta do que, na verdade, são.

A "Rábula" e os "Cábulas" - Indagações em Torno de Uma Notada Ausência



Tendo ocorrido uma espécie de "Fundeira" ("Cimeira" dos sem fundos) que juntou os líderes políticos da Itália, da Espanha, da Grécia e da Irlanda pode perguntar-se, dada a identidade de circunstâncias, porque razão Portugal nela não participou?
Das duas, uma: ou não foi convidado ou declinou o convite. Na segunda das hipóteses, porque insiste na "rábula" do bom aluno; na primeira, porque os "cábulas" não costumam gostar de "marrões".

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"Governo de Portugal" - Uma Praga em Forma de Timbre

Desde o Gabinete do Primeiro-ministro à mais singela das Repartições, passando pelas tabuletas das obras que ainda restam, às Escolas, Serviços de Saúde, Segurança Social, etc,  até à lapela dos membros do Governo e titulares de cargos de nomeação (AICEP e por aí fora), se pode ver o timbre da bandeirinha e a inscrição "Governo de Portugal".
Como bem advertiu Orwell (e muitos outros), esta forma de "novilíngua" costuma andar às avessas  da realidade e a autêntica praga do "Governo de Portugal", visível na inundação do espaço público e na exigência hierárquica da sua utilização "à outrance" nos serviços públicos, é claramente o sintoma de que o chamado "Governo de Portugal" não passa de um governo fantoche e quem de facto governa Portugal é uma Junta Financeira ocupante. 
Resta saber se Portugal alguma vez terá "governo"?!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A "Coirografia"






As recentes "confissões" de Portas configuram a sua especialidade: o rapaz é mesmo "garganeiro". Tenta sempre comer o bolo e, ao mesmo tempo, ficar com ele.
Uma autêntica "coirografia", ou seja, uma coreografia de "coirões".

sábado, 15 de setembro de 2012

Rio Largo De Profundis





Que grande, grande "Manif" !!!

Que se lixe a "Troika", que se "prejudiquem" (com um grande "F")  estes canalhas que nos parasitam.

Viva o Povo de Portugal !!!

Do Nacional Porreirismo e das Suas Estirpes







Ao meu colega e amigo Francisco Edgard, com um abraço.


O vetusto "nacional-porreirismo" compreende duas estirpes maiorítárias: o "social - porreirismo" e o "liberal-porreirismo". Das passagens administrativas às vagas ad hoc para várias funções de Estado, até aos cursos acabados ao domingo, às "licenciaturas" por equivalência, passando pelo "reconhecimento de competências", pela legalização de milhares e milhares de edificações clandestinas, pela "inutilidade superveniente", pela apropriação de propriedade alheia, pela "eternização" do provisório, pelo "usucapião" por ir ficando, tudo com proveito para o "chico-espertismo" e o mais infame dos oportunismos, demonstrando à saciedade que Portugal é de quem calçou as botas primeiro. Todas são manifestações do "espírito" do "nacional-porreirismo" que nos últimos quarenta anos tem vivido o seu esplendor à pala do amiguismo, do compadrio, do "jeitinho", do factor "C", da "boa vontade" (Kant, que é alemão, deve dar saltos no túmulo quando lhe falam destes conceitos "à portuguesa"), tem tido por "apóstolos" os "sociais -porreristas", tudo malta (eis outro conceito "nacional-porreirista) de "esquerda" ou pelo menos com preocupações redistributivas (repartem tudo irmãmente, sendo que garantem sempre para si próprios o quinhão do irmão mais velho). Agora, em plena "crise", chegou a vez dos "liberais-porreiristas" que sendo uns zeros mais à direita e dos principais beneficiários do social-porreirismo - carreiras partidárias nas "jotas", cursos concluídos por volta dos quarenta em "universidades" privadas, "currículos profissionais" apenas em "empresas" dos "tios" e dos "padrinhos" - intentam decretar o seu fim, na míngua de "capital social" e alardeiam a "exigência", o "rigor", a "contenção" e a "austeridade" só para os outros, através do assalto fiscal apenas a quem ainda trabalha ou trabalhou toda a vida e já está completamente sufocado por impostos, cortes e outros esbulhos disfarçados ou à paisana. Este é o lado "liberal"; o lado "porreirista" é que, pesarosos e com a lágrima a espreitar, correm imediatamente a pedir desculpa (por favor, não tragam é a corda ao pescoço, porque podem "dar ideias" a alguém).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Reforço de Tesouraria e o Combate ao Desemprego


Segundo o Governo, a baixa da Taxa Social Única para as empresas, e o seu aumento para os trabalhadores, vai proporcionar um reforço de tesouraria que estas utilizarão no combate ao desemprego.
É verdade, pelo menos para as empresas que produzem e para os stands que comercializam este tipo de "popós" e outros bens da mesma gama.

sábado, 8 de setembro de 2012

A "Amêndoa" e o "Cimento"







Passos veio agora anunciar as novas  medidas de "austeridade" que permitem acatar (na verdade espera que permitam contornar) o acórdão do Tribunal Constitucional. Foi uma intervenção atabalhoada e palavrosa, mostrando afinal falta de coragem e procrastinação elocutória, pois o "embrulho", de muito pouca valia retórica, diga-se de passagem, serviu apenas de longo intróito para uma frustre justificação de questões semânticas (ou melhor, pragmáticas) como a de explicar que o brutal aumento de descontos impostos aos trabalhadores (e diminuição ao patronato) não é uma subida de "impostos", mas apenas de "taxas", "nuance" muito importante para todos (com especial destaque para o cinismo do CDS/PP que, ainda há instantes, arrepelava os cabelos e rasgava as vestes contra o "aumento da carga fiscal") menos para aqueles que as vão sofrer.
Trata-se de mais uma gigantesca operação Robin Hood às avessas, roubar ao Trabalho para engordar o Capital. Ao contrário do que proclamam os "vendilhões do templo", Marx e Lenine estão longe de estar "mortos" quanto à natureza e às funções do Estado que significa sempre a ditadura de uma "classe" sobre as outras. Em Portugal (e não só), às cavalitas da "troika", os mandaretes dos grandes interesses "privados" decidiram aproveitar a larguíssima janela de oportunidade para abocanhar o património público e promover a maior e mais sórdida transferência de recursos de que há memória.
Os florilégios de Passos, ainda que de muito fraca qualidade,  certamente bebidos na  compreensão juvenil de uma leitura precoce de "A Fenomenologia do Ser", obra inexistente que ele próprio atribui a Jean-Paul Sartre, revelando nisto a "escola" do "tio" Santana com a facécia dos "concertos para violino de Chopin", mas com um impacto muito mais devastador, veio, mais uma vez, tornar verídica a velha relação da "amêndoa", que é sempre pior, com o "cimento".
No fundo trata-se apenas de estender o esbulho aos trabalhadores do sector privado, sem o aligeirar a ninguém (a não ser ao patronato, claro), num exercício de rapacidade "equitativa".
E já nos fere os tímpanos o choro das carpideiras do costume; agora só é preciso que, desde o "líder da oposição" cujo partido, que é também o meu, tem largas culpas no cartório, até ao "avô cantigas" de Boliqueime/Belém, passando pelo Tribunal Constitucional, pelos sindicatos e por toda a "sociedade civil", mesmo falando menos, faça mais. À generalidade dos portugueses só lhes resta vir para a rua.


Zeca Afonso - Venham Mais Cinco (11/12) por Videos_Portugal

domingo, 26 de agosto de 2012

As Lideranças Bicéfalas e o Velho Estilo Testamentário









Louçã que, caso ninguém tenha dado por isso, é um marxista-leninista ortodoxo, tendência, não Groucho, mas Trotsky (não pode supor-se que só o estalinismo criou a sua ortodoxia, criou foi a ortodoxia triunfante), homem inteligentíssimo e de vasta cultura histórico-política, terá plena consciência de que a "indigitação" pública de sucessores para liderar o Bloco iria "soar" como um "testamento político". Afinal estes tiques não são exclusivos dos Kim Il-sung, há toda uma tradição inerente aos "imperadores vermelhos" que fez escola, criou um estilo e se lhes cola à pele, ainda que à escala. Louçã, um dos mais lúcidos e brilhantes dos "príncipes radicais" (atenção, digo "radicais", não "radicalistas"), não conseguiu, talvez porque não tenha querido, evitar esse estigma. Atribui-se a Salazar a frase: "Em política, o que parece é" - apesar de me parecer uma constatação bem mais antiga cujo sentido remonta a Maquiavel e mesmo aos clássicos greco-latinos - e Louçã sabe melhor do que ninguém  o acerto do aforismo, demais a mais no contexto do caleidoscópio mediático contemporâneo e da sua parafernália ideológico-psitacista. Não terá sido, pois, por ingenuidade que designou a liderança bicéfala (homem - mulher/mais velho - mais nova) para a sua própria sucessão. Alegando, aliás, até a pouca originalidade dessa "solução" inovadora, que já existe no Partido da Esquerda francês que, segundo afirmou, terá recolhido quatro milhões de votos nas recentes Presidenciais. Ora, há aqui uma mistura de "alhos com bugalhos", quem recolheu os tais quatro milhões de votos foi o candidato Jean-Luc Mélenchon apoiado pelo partido de que é co-presidente  (com  Martine Billard), e não propriamente o partido que nas Legislativas imediatas (e em coligação com o Partido Comunista Francês) teve bastante menos sufrágios. Seja como for, Louçã está objectivamente (como se diz no jargão dialéctico-materialista) a condicionar a escolha dos militantes do Bloco, arriscando-se a "queimar" os seus próprios  designados "delfins". Isto por que no Bloco, que recordemos é um "Bloco" e não um "Partido" (apesar de ter assumido essa forma jurídica por razões pragmáticas) existem várias "sensibilidades" e uma tradição libertária incorporada que não deve achar piada nenhum a este tipo de "diktats", mesmo quando em innuendo.
O Bloco é uma construção delicada, conseguiu juntar (não direi "unir", como agora se tornou evidente) a água e o azeite, uma força de génese trotskista como o PSR e uma força de génese estalinista como a UDP, mais uns quantos dissidentes do PCP (a Política XXI) e mais uns social-democratas de esquerda e umas franjas mais radicalistas (como a  Ruptura/FER de Gil Garcia, agora, ao que parece, em rotura com o próprio Bloco).  Assinale-se que nem todos os "maoístas", nem todos os "trotskistas", entraram para o Bloco, parte da UDP, o Grupo da revista "Política Operária" do prestigiado anti-fascista Francisco Martins Rodrigues, antigo destacado dirigente do PCP , ficou de fora por razões de preservação da sua "pureza" ideológica (um dos seus militantes disse-me literalmente que "os verdadeiros revolucionários não querem nada com homossexuais, nem fumam droga") e o pequeno partido trotskista POUS dos "históricos" Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira que chegaram a ser deputados do PS na Constituinte usando a táctica do "enterismo" (isto é infiltrar partidos maiores e tentar "dar-lhes a volta" por dentro através da constituição de fracções e escolheram bem, que partido melhor do que o PS da altura para tal, no PCP nunca teria sido possível...) tendo sido expulsos quando a "coisa" se tornou demasiado evidente, também não aderiu ao Bloco. Esta obra de aglutinação deve ter sido tão difícil que não resisto a contar um pequeno  e verídico episódio que permite ilustrar o tipo de relações tradicionais entre uns e outros. Nos idos de 76 durante a Campanha Eleitoral para as Presidenciais (as primeiras após o 25 de Abril) constituiu-se, para apoiar a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho, uma organização frentista - os GDUPs (Grupos Dinamizadores de Unidade Popular) que integrava militantes e simpatizantes da UDP, do MES, da FSP, do PRP e muitos dos chamados "independentes de esquerda" (e, em abono da verdade, também  muitos simpatizantes do PS e do PCP, o que permite compreender o fraco resultado do candidato oficial deste partido, Octávio Pato). Durante uma reunião do GDUP do Barreiro em que participei, para delinear as acções locais da campanha (lembro-me dos muitos milhares de pessoas no Comício do Campo do Luso, onde não cabia nem mais um fósforo) um dos representantes da UDP de então, um operário da Oficinas da CP, chamado Alfredo, ele próprio com figura de "estaline", ainda jovem, mas entroncado, camisa de xadrez, com o cabelo à escovinha e um grande bigodaço "proleta", entra em controvérsia comigo e perante os meus argumentos, riposta aos gritos:
- "Camarada aqui não há mas, nem meio mas, é ter confiança absoluta na organização e fé cega no marxismo-leninismo" !
De imediato, perguntei-lhe se era materialista? Ele, desconfiado, retorquiu que claro que era! Qual seria a minha dúvida?! Limitei-me a observar, com algum gozo, diga-se de  passagem, que, primeiro, os GDUPs eram uma Frente Eleitoral, não eram uma organização marxista-leninista (oficialmente nem a própria UDP o era), e, depois, que "fé cega" me cheirava a fanatismo religioso, que nenhum materialista poderia assumir. O homem, furioso, fazendo menção de me agredir, veio direito a mim aos gritos de "Provocador, anarca, trotskista"!!!
Pois é, minhas caras e meus caros (e a ordem da enunciação aqui, para ser "à Bloco", não é arbitrária), "trotskista" para a UDP era um insulto. Os próprios trotskistas, mas aí por outros motivos, não se intitulavam como tal (tal como os maoístas também não se auto-designavam desse modo, preferiam apresentar-se como "m-l" = "marxistas-leninistas", excepção feita ao grupo "linpiaoísta",acerrimamente pró Revolução Cultural Chinesa, MRPP, a que pertenceu Durão Barroso, então o "Zé Manel", que se intitulava "m-l-m" = "marxista-leninista-maoísta"). A variante trotskista do Movimento Comunista Internacional ainda comporta várias tendências e até se dizia, na paródia, que um militante era um núcleo, dois um partido, três uma  federação e quatro uma "Internacional". Também se contava um episódio de uma lista concorrente à direcção de uma Associação de Estudantes que tendo catorze elementos, tendo um deles morrido antes do escrutínio e tendo votado todos os restantes, acabou por ter doze votos.
Ter conseguido agrega toda esta gente foi um enorme feito e já "rendeu" uma razoável expressão eleitoral (16 deputados em 2009), que caiu para metade em 2011 e corre o risco de se reduzir ainda mais, se o Bloco não adoptar uma estratégia clara e distinta, como diria o outro, que como antes do "percalço" de 2011, lhe permita pelo menos manter o eleitorado jovem e urbano. Para isso não é melhor que não se meta em "meças" sindicais com o PCP, o Dr, João Semedo já percebeu isso com a proposta da plantação limitada de cannabis para consumo próprio.
(http://www.marxnops.blogspot.pt/2012/07/o-meu-pe-de-liamba-lima-ou-o-bloco.html).
É muito o que me aproxima do Bloco, o discurso societário, a clara opção pela esquerda socialista e libertária, a frescura e o arejamento com um toque geracional "forever young" (uma vez "hippie", "hippie" para sempre); o que me afasta é uma espécie de dogmatismo pós-moderno e "politicamente correcto", não exclusivo do Bloco, mas nele muitíssimo arreigado, que insiste em confundir o "género humano" (agora que já não  há "sexos" e que mesmo quem se diz pela liberdade sexual, o aboliu trocando-o pela estereotipada "igualdade de género")  com o "manel germano" e ter alguma dificuldade em saber se "o tiro foi no liro ou foi no ló e quem deve ir para o xilindró".
O Bloco faz muita falta à sociedade portuguesa enquanto comunidade política, foi tão importante erguê-lo e representou uma tão grande lufada de ar fresco e potencial de esperança que não gostaria mesmo nada de  o ver, por erros próprios, desmoronar-se.

Post Scriptum:

Para fazer a profilaxia, nem sempre conseguida, dos eventuais e lamentáveis processos de intenções e do inevitável ferir de susceptibilidades algo exacerbadas:
Este post é da autoria de homem livre, escrito por amor e com humor.
Esclareço, desde já, que não estou a chamar "bêbedo" ou "bêbeda" a quem quer que seja, nem "Kim Il-sung" (excepção feita ao próprio), nem "ditador", nem por aí fora.
Honi  soit qui mal y pense !