sábado, 13 de outubro de 2012

Fia-te na Virgem...





Lá em cima estão o pide e o patriarca
Cá em baixo estão o bispo e o fascista
Juntaram-se todos a rezar
Para ver como hão-de salvar o sistema capitalista

                    Modinha cantada durante o PREC (1974/75)

O senhor Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, afirmou em Fátima: "O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição e do nosso sistema constitucional.  Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações".
Ó senhor D. José, com todo o respeito que me merece, quer pelas funções que desempenha, quer enquanto homem de Saber, permita-me que concorde com, pelo menos no sentido literal, uma das proposições desse seu enunciado e discorde da outra. Refiro-me a: "O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição." É verdade, sim senhor, está a acontecer que  um Governo formado na base de uma vitória eleitoral com Programas sufragados que se propunham fazer exactamente o contrário do que está a ocorrer, está a dar o dito por não dito. Na verdade, ambos os líderes da coligação PSD/CDS, declararam  em Campanha Eleitoral que não subiriam impostos, que não cortariam subsídios, salários e pensões e que iriam cortar nos "gastos intermédios" e "gorduras do Estado" sem nunca terem explicado, nem bem,  nem mal, em que é que isso consistiria. Logo a sua legitimidade política actual é nula, pois foram eleitos na base de reiteradas mentiras. Por isso não está a haver, por parte do Governo em funções e da maioria que o apoia na Assembleia da República, qualquer respeito pela "harmonia democrática" e pelo "sistema constitucional" que Vossa Reverência parece tanto prezar. Já  quanto à segunda proposição: "Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações" - permita-me que discorde. Não sei se se resolverá alguma coisa vindo para "grandes manifestações" (presumo que Vossa Reverência fará excepção das "grandes manifestações" que, em dias certos, costumam ocorrer em Fátima) sendo certo, do meu modesto ponto de vista,  que serão sempre preferíveis a pequenas manifestações ou à sua total ausência. Pelo menos, permitirão que se exerça o democrático "Direito à Indignação" e que se demonstre que (para repescar outra velha palavra de ordem dos idos de Abril): "O Povo não quer troca-tintas no Poder".
Ou Vossa Reverência considera que mentir já não é pecado? Se assim for, permita-me que ache, no mínimo,  bizarra essa forma de ser católico. 
Talvez Vossa Reverência entenda que em vez de manifestações, devamos fazer muitas e profundas preces e orações. Num País em que o último milagre reconhecido pela Igreja de que Vossa Reverência é, por cá, o dignitário máximo ocorreu há noventa e cinco anos. Sinceramente não me parece ser solução e até me faz lembrar uma "estória" que o meu saudoso pai costumava contar e nos poderá servir de oportuna parábola:
"Indo dois ribatejanos pela lezíria a cortar caminho para apanharem o comboio para Lisboa, foram acometidos por um touro que por ali pastava. Um deles fugiu para cima de uma árvore, o outro ajoelhou-se de mãos postas em sonora prece. 
Disse-lhe então o que estava a salvo em cima da árvore:
 - Fia-te na Virgem e não corras e logo verás a cornada que apanhas!"

2 comentários:

São disse...

Excelente post, Tó Zé!

Policarpo é um funcionário do Vaticano e, consequentemente, coloca em primeirissimo lugar a defesa da instituição , neste caso, a isenção do pagamento de IMI!

Se as manifestações para nada servem, o cardeal patriarca de Lisboa deveria ter igualmente informado que andar de joelhos e de rastos à roda de santuários e imagens também para nada servem.

Melhor, servem para fazer as pessoas servis e obedientes e não refilarem quando são roubadas por aqueles a quem a Igreja apoia!

Boa semana para vós.

imank disse...

Muito obrigado querida amiga.
É exactamente como dizes: para estes "fariseus" o "temporal" tem sempre prioridade sobre o "espiritual".
Como disse Feuerbach, há cerca de 150 anos, representam "o espírito de um mundo sem espírito"
Um beijinho.