domingo, 2 de dezembro de 2012

O PCP Nas Suas Sete "UCPs" (Dizer "Quintas" é Muito Burguês)






Jerónimo de Sousa abriu o XIX Congresso do PCP (em 91 anos, é só comparar com os partidos "burgueses") com, pelo menos na hora inicial, um brilhante e vibrante discurso. O PCP está, neste contexto económico - afinal a instância "determinante" (e ainda dizem que Marx está "morto"), social e político como Mao Tsé-Tung( (ou Zedong) disse que deve estar o revolucionário, "como peixe na água" ou, mais à portuguesa (trata-se de um partido, agora,  patriótico), nas suas sete UCPs (Unidades Colectivas de Produção, que isso das "Quintas" cheira a burguesia com pretensões afidalgadas).
Na velha tradição bolchevique dos discursos longos, mas sem serem intermináveis como os de Fidel Castro e do seu mais recente émulo, Hugo Chávez, Jerónimo de Sousa, a quem apelidaram de exemplo mais rematado do "comunismo de  sociedade recreativa", é natural, lá será sempre muito bem entendido) desta vez não ficou afónico e chamou os bois pelos nomes elencando a série de desmandos, patifarias e asneiras criminosas que os detentores do Poder têm vindo a praticar desde a "nossa" adesão à CEE (o PCP só não tem as mãos absolutamente limpas devido ao seu forte sector autárquico. Neste domínio nenhuma força política marca, entre nós, pela diferença, havendo, é  certo, um ou outro autarca, ou executivo, que se destaca sem que isso decorra da sua filiação partidária) - a destruição do aparelho produtivo nacional, trocado pela ilusão da "vida fácil" da "terciarização" da economia; a quimera do Euro; a subordinação aos interesses económicos, políticos e geoestratégicos das "grandes potências" europeias e do "tio" da América (que nos paga com a "evasão" da Base das Lajes), a apropriação dos recursos públicos por cliques e o aboletamento  devorista dos  grandes interesses instalados (Banca e oligopólios) sempre em prejuízo do Trabalho e das camadas populares.
Afinal a Queda do Muro de Berlim e o consequente desmoronar do Bloco de Leste não foram, ao contrário do esperado e do propalado na altura, lá  muito boas novas e acabaram por constituir das maiores tragédias da História Contemporânea. Não que os regimes do "socialismo real" fossem flores que se cheirassem, toda a gente, com um mínimo de honestidade intelectual, sabe o que eram, e no tempo da Guerra Fria  a jovem  esquerda procurava uma alternativa entre o "quotidiano da miséria" e a "miséria do quotidiano". O fim da URSS, fruto do cerco propagandístico, do colapso económico,  mas também de colossais desvios ao projecto socialista em favor da chamada "natureza humana" (ganância, corrupção e abuso de poder) tornou possível a consequente recuperação do velho sonho do capitalismo plutocrático - uma nova (des)ordem mundial do saque e da exploração que o "papão" soviético tinha travado por setenta anos, estava agora aí outra vez na "democrática" ordem do dia - uma síntese "perfeita" dos dois tipos de miséria. Uma nova Idade Média, em versão "high tech", aproxima-se a galope. A "dialéctica" é o que é, e a História está, ao contrário do que propalaram alguns vendedores de banha-da-cobra, longe da consumação. Parafraseando o título/tema da excelente obra do "camarada" Mário de Carvalho, sem chegar a imitar o Dr. Joel Strosse, "era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto".
É comum dizer-se que o nível de vida do País está a regredir (outros, que não vêem com bons olhos que a "plebe" possa "comer bifes todos os dias",  dizem até que "tem que regressar") aos índices dos anos 60/70. Pois bem, que assim seja em tudo, principalmente na Política. Perspectiva que não lhes deverá agradar, nesses tempos a sociedade era muito menos amorfa, sendo certo que, os hoje inexplicavelmente (ou talvez não) esquecidos "mecanismos de alienação" (ou "aparelhos ideológicos") também eram muito menos eficazes. Apesar disso e para utilizar o jargão da época, as "condições objectivas" estão a concretizar-se e, à medida que as "massas" forem sentindo na pele os efeitos do grande embuste em que foram enroladas, as "condições subjectivas" amadurecerão necessariamente .
O PCP está pois, em pleno, nas suas sete UCPs. 
Avante camaradas!

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