Na passada quarta-feira, dia 14 de Novembro, vi, em reprise, um velho filme que me fez lembrar os "saudosos" tempos da Polícia de Choque do capitão Maltez Soares. Um pequeno grupo de embuçados tratou de mimosear o Corpo de Intervenção da PSP de plantão no sítio do costume, a escadaria de S. Bento, com umas tímidas pedradas estilo ping pong, que não sei se por fastio ou falta de convicção, desmentiam a evidência de se estar perante homens e também, pelo que vi, algumas mulheres, na flor da idade visto aparentarem não ter, ou não quererem ter, força e jeito para arremessar pedras da calçada a mais de uns escassos dois metros (se calhar é porque não comem bifes todos os dias). Nisto os gregos, os espanhóis, os italianos e até os britânicos e alemães (já para não falar dos japoneses e dessas máquinas de luta urbana que são os sul-coreanos de armas idênticas às da polícia, são muito mais "profissionais"). Estivemos então perante uma estranha coreografia em que uns quantos arruaceiros, numa espécie de linha de montagem, arrancavam pedras do chão e iam municiando alguns, muito fracos, "artilheiros" (no "meu" tempo - quem pensa que a situação é inédita é porque ou é muito novo, ou muito esquecido - utilizava-se uma "cunha" ou um "pé de cabra" e levantada a primeira pedra, as outras vinham por arrasto) que as atiravam contra os escudos da Polícia, parecendo esta vir preparada para isso, uma vez que trazia os escudos longos e não os habituais circulares, o que lhe permitia fazer a "tartaruga" defensiva com total eficácia).
A Polícia estranhamente (ou talvez não) demorou imenso (quase duas horas) a intervir - a ordem nunca mais vinha - numa espécie de exercício de "estoicismo" para passar nas televisões, deixando adivinhar uma reacção muito violenta, assim como que a criar "lastro" para a justificar. Esgotados os avisos da praxe inicia-se a contra-ofensiva policial e nesse momento assiste-se a um fenómeno que só é insólito para quem passou os últimos quarenta anos na "lua": um conjunto de "manifestantes radicais" muda de campo e passa para o outro lado da "barricada", veste os coletes que sinalizam "Polícia" e segue a "varredura" geral, no encalço de alguns dos manifestantes que momentos antes, enquanto infiltrados, tinha referenciado, enquanto o grosso da coluna se entretém a distribuir bordoada indiscriminada e generalizadamente às centenas de circunstantes cujo único "crime" foi lá terem estado. Toma lá que é para aprenderes, pedimos desculpa por esta interrupção, a democracia segue dentro de momentos.
Na sequência destes incidentes, que sinalizam o princípio do fim dos alardeados "brandos costumes" e que sobrepujaram mediaticamente a Greve Geral, aliás nem poderia ser de outra maneira, dado que, passe o pleonasmo, os "acontecimentos" aconteceram. Deixando um "cheiro" (a pólvora) na insinuada relação com a mesma (ainda que pretextando o contrário), o Ministro do Interior (ou da Administração Interna ou lá o que é) que qual virgem ofendida, negou veementemente o que esteve bem à vista; o Primeiro-ministro; o Presidente da República (avisando não ter visto as "imagens") e o próprio "leader" da Oposição (deve ser para mostrar o tal "sentido de Estado" que dizem faltar-lhe), numa cascata de aparições televisivas, vieram prontamente louvar a "corajosa", "atempada" e "adequada" intervenção policial.
A mais do que evidente estratégia intimidatória das "autoridades" só estará "bem montada" para quem gosta de se deixar "montar" - "a mim não me enganas tu, a panela ao lume e o arroz está cru".
A este confronto entre cães de palha e cães de fila juntou-se, pelo menos, um momento Jonet: o do respeitável Professor Anes do Observatório para a Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (mais um), ao declarar que o pessoal das pedradas eram "jovens dos subúrbios".
Os da Lapa só atiram "pedras" para dentro...
Na sequência dos "confrontos" fizeram-se perseguições, identificações, detenções, agressões, denegações de assistência médica, familiar e jurídica, que chegaram a mais de um quilómetro do foco de origem (Cais do Sodré e Baixa) arbitrárias e atrabiliárias em que "pagou o justo pelo pecador" parecendo ter sido mesmo essa a intenção (a famigerada "estratégia da aranha").
Enfim as linhas tortas de um Estado cada vez menos de Direito, a ficar demasiado encostado à direita.
2 comentários:
Bom comentario, Toze! Vestigios da nossa ditadura ou democracia a portuguesa?!
Sabes Carlos que uma nunca foi capaz de "apagar" a outra.
Aliás, tem-se verificado ao longo da História (lusa e não só) que os Novos Regimes copiam, em geral, o que de pior tinham os anteriores.
Afinal, em muitos casos, os "protagonistas" são os mesmos, seguindo aquela velha máxima:
"É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma".
Um Abraço
Postar um comentário