Paulo Portas
"descaiu-se" em mais um "momento Jonet" ao declarar que os
verdadeiros pobres (os "pobrezinhos" quis dizer) não vão a
manifestações, nem a protestos. Pois não, os que vão a manifestações e a
protestos são aqueles e aquelas que, a páginas tantas, julgaram ter como fruto
do seu próprio esforço, construído uma vida digna sem "sacaduras" e
sem terem que mendigar as sobras nas portas de serviço ou do lado de fora dos
portões das quintas e a quem se possa dizer "bom homem ou mulherzinha,
tenha paciência!" depois de se terem posto à mercê da "esmola que
aprouver a Vossa Senhoria, meu fidalgo".
Aliás, Portas para além
de gozar de uma certa "inimputabilidade estatutária" - que uma
velhota castiça explicou a uma amiga minha, exemplificando com o juízo público
acerca das infidelidades conjugais por parte das mulheres: se for da
"alta", teve um "caso"; se for da "assim-assim",
um "deslize" e se for do "povo", é uma "puta" - protagoniza
mais um episódio que para além de o requalificar (pena que não como na Função
Pública) como um Frei Tomás muito pouco "católico" (ou antes, um
católico muito pouco "ortodoxo") reitera o “estilo” a que já nos
habituou, uma espécie blasé de "candura" snob. Tendo dito coisas como
que tem muita pena que em África, "infelizmente", haja muita gente
"sem meios para almoçar ou para jantar". Só faltando ter especificado
se à luz das velas, se com rosas (tudo menos cravos) no centro da mesa e se
começavam por um gin tónico ou por um dry martini.
Ainda por cima, nesses
locais da tal "África" de que fala, nem sequer costuma haver as "sopas
dos pobres" para onde quer atirar os "ingratos" e a cambada de
"privilegiados" que vão às tais manifestações e a protestos.
Mesmo sendo, em regra,
céptico de atitude, costumo ter faro para "meretrizes" (para não usar o vernáculo da outra senhora...).