domingo, 9 de agosto de 2009

O Barreiro - um caso de emergência urbana (ou porque é que, nestas coisas, somos tão "liberais")

Sem querer ser alarmista ou “ensombrar” este Verão, já de si tão pouco soalheiro, de pré-campanhas eleitorais e precisamente a propósito desses actos a que em breve seremos chamados, não posso deixar de, enquanto cidadão, perguntar às forças políticas concorrentes quais as suas propostas de acção no concreto e no imediato para obviar à situação de autêntica emergência urbana e por isso social, de degradação do edificado em muitas zonas do Concelho, mormente no Barreiro Velho que podia e devia ser a nossa “sala de visitas”.
É por demais evidente o estado de acelerada degradação do casario desta zona nobre e histórica da cidade, pese embora esses sinais de degradação urbana visíveis em imóveis devolutos, entaipados ou abandonados em obra, existam um pouco por todo o Concelho, a verdade é que em “concentrado” apresenta-se há décadas no Barreiro Velho como uma ruína global eminente a despeito de alguns esforços pontuais de recuperação e de edificação, nem sempre muito bem conseguidos por, aparentemente, não haver um Plano Integrado e nada ou ninguém que o faça respeitar.
De tempos a tempos fala-se no problema, mas logo um imenso torpor volta a produzir os seus letárgicos efeitos perante os tímidos protestos dos moradores, dos empresários da zona, ou dos seus amantes entristecidos pela situação de aparente não retorno.
É evidente que estas coisas não se resolvem a falar, nem tão pouco a escrever e não serão de fácil superação dadas as questões jurídicas e burocráticas que envolvem, para além das avultadas somas que implicam. Mas é nestas situações que urge perguntar para que serve o poder político local e central?!
Um pouco por todo o concelho se vêem, a meias com ruínas ou semi-ruínas, edifícios por acabar e obras por concluir e também extensos terrenos imobilizados (e um terreno urbano não é assim como um carro que esteja parado na garagem). Poder-me-ão objectar que são sinais da crise económica e financeira que estamos a atravessar, também o serão sim senhor, mas muitos destes exemplos vêm de há décadas numa “crise” permanente anterior a esta actual conjuntura e que deriva de uma ausência de planeamento e, sobretudo, de uma certa complacência e laxismo, quando não conúbio, dos poderes públicos perante interesses que geram situações de facto muito pouco compatíveis com o bem comum que deveriam servir.
A degradação urbana, não é preciso ser especialista na matéria, acarreta a degradação social, potencia a insegurança e mina a qualidade da oferta de serviços e negócios e a nossa “vila velha” que poderia ser um alfobre (mesmo assim ainda há alguns felizes casos de sucesso que, no entanto, poderiam ter outra dimensão) de empreendimentos na área da restauração, lazer e comércio tradicional de qualidade e na área da criação artística (artes plásticas, artesanato) está transformada numa zona inerte apenas sacudida por alguns “nostálgicos” nos quais este vosso amigo se inclui e uns mais numerosos e barulhentos grupos de jovens amantes do “botellón” que deixam vestígios bem evidentes, quer no sossego das populações residentes, quer no “day after” dos cacos e dejectos.
E sem querer apurar “culpados” é preciso perguntar a todas as forças políticas concorrentes às próximas eleições de Setembro e de Outubro quais são as suas propostas concretas de intervenção nesta matéria, tendo em conta que as áreas de quase calamidade urbana não se limitam ao Bairro das Palmeiras, onde nasci, na Rua 1º de Maio, há 53 anos, que costuma ser e infelizmente confirma-o, apresentado como paradigma.
Bem sei que foi aprovado um Plano para o Arco Ribeirinho, bem sei que há com esse ou outro nome, um “Masterplan” para a Quimiparque, bem sei que está a correr, muito devagar, o Polis, bem sei a CMB tem um estudo de intervenção nos espaços públicos, não no edificado, do Barreiro Velho.
Mas se nos limitarmos a continuar à espera da concretização de toda essa miríade de Planos, Projectos e Estudos correremos o risco da história do corte de fato do Bocage, nada se fará à espera da última moda.

3 comentários:

almeola disse...

amigo tó zé há q ser otimista.
"(...)Carlos Humberto referiu a importância do “Espaço Participação da CDU” estar localizado no Barreiro Velho, por este ser um “espaço com história e com personalidade. O Barreiro Velho tem a sua própria personalidade ”.
Na sua intervenção salientou que no próximo mandato, enquanto presidente da Câmara Municipal do Barreiro, vai continuar a trabalhar para que “o Barreiro Velho volte a retomar a sua vida”."

in: http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=81489&mostra=2

pode ser q depois de + de 30 anos de poder, tenham 1 outro olhar p'ra o barreiro velho

Diogenes disse...

Caro Zé,
A candidatura da Câmara Municipal do Barreiro, ao QREN para a regeneração do Barreiro Velho, “Barreiro Vivo”, foi rejeitada. O Programa disponibilizava cerca de 50% de aproximadamente 7.000.000 €.
Mais uma vez deve ser salientada a incompetência da desconsideração sobre um dos critérios da selecção das candidaturas, nomeadamente o relativo ao grau de envolvimento das populações locais na preparação do Programa de Acção. Propuseram-se a reconstrução de edifícios com fins sociais, mas omitiram-se detalhes relevantes no âmbito da coesão social e da inclusão, fundamentais no Barreiro antigo.A vitalidade dos centros históricos está intimamente relacionada com a habitação e as questões associadas ao seu acesso, nomeadamente por parte da população de baixos recursos económicos, incluindo idosos, jovens e imigrantes, assim como de alguns segmentos da designada classe média. Os centros históricos querem-se rejuvenescidos, inter-classistas, culturalmente diversificados e atraentes. O Barreiro antigo, está em degradação,precisa de ser reconstruido, precisa de mais pessoas mas precisa de envolver as que lá vivem. Será que a CDU percebe isto? não percebe...o Barreiro precisa do PS na Câmara e de pessoas como inteligentes você a intervir.

imank disse...

Caros Amigos:
Tenho a fundada impressão de que há um "conservadorismo"(melhor será dizer atavismo) do poder político(que espelha o "status quo" social)local, que é avesso a "fazer ondas" e isso verificou-se com ausência de intervenção aquando da discussão da II Travessia do Tejo que veio a ser a Ponte Vasco da Gama e a ter a localização que tem. Agora com a III Travessia há outra postura, já que já não há "nada a perder"; mas com o Bareiro "real", o que existe, não com o do "futuro mítico", o das maquetes virtuais cheias de marinas, espaços verdes mais vidro e betão, há uma atitude reactiva, um certo receio de inovar (não como "cliché", mas a sério), de abrir.
Acaba por ser uma questão ideológica (no sentido de "mentalidade", de "reserva mental"), quem teme a mudança, prefere sempre o que está por medíocre que seja, demais a mais, tendo bastas razões para desconfiar de certos "arautos".
Tudo o que se faz é pontual, casuístico, aqui e ali surge uma iniciativa de pormenor com algum valor, mas logo ao lado se deixa fazer uma aberração que vem comprometer tudo!
E o panorama geral é deplorável, mas enquanto não houver uma alternativa apercebida como segura, vai valendo o que é sentido como "mal menor", para mal maior dos nossos pecados e do futuro que se vai assim, cada vez mais,comprometendo.
António José