sábado, 5 de junho de 2010

Dépêche Mode


Mais uma norma catalisadora saíu do autêntico "CERN" da certificação em que o Ministério da Educação, mas também o Ministério do Trabalho, vide essa instância virtuosa que dá pelo nome de ANQ (Agência Nacional para a Qualificação, que deveria, com mais propriedade, designar-se ANC - Agência Nacional para a Certificação, o que não é, nem de perto, nem de longe, a mesma coisa), se tornou - trata-se de uma disposição legal que permite a alunos do 8º ano de escolaridade (Ensino Básico) com quinze anos ou mais, transitarem directamente para o 10º ano (Ensino Secundário) mediante um "Exame" a nível de Escola, claro está, em que os professores são pressionados de toda a maneira e feitio para o "sucesso" sob a ameaça do terror burocrático e sob pena de condenação ao seu próprio insucesso profissional, que isto agora está do género "ou baixas a bolinha, ou levas na tólinha". É apenas mais um episódio do autêntico "Dépêche Mode" em que está transformado o Sistema Educativo português e em que a "cereja no bolo" é a iniciativa "Novas Oportunidades" que "oferece" diplomas do 12º ano como "bacalhau a pataco", concomitante com o acesso "Mais de 23" que torna possível a entrada no Ensino Superior a pessoas sem o 12º ano de escolaridade de um modo muito mais "flexível" que o antigo ad hoc, (este ainda tinha uns laivos de seriedade), e permite que imensos cursos sem procura vão sobrevivendo a enganar o "pagode" de várias maneiras e posso enunciar logo, assim à primeira vista, duas:
Os cursos que têm, em profusão, vagas para o "Mais de 23" não oferecem qualquer horizonte de empregabilidade; por outro lado e em cúmulo, uma grande parte deles não têm procura porque exigem à partida altos indíces de conhecimentos especializados, motivação e capacidade de trabalho e estou-me a referir às Ciências Puras, (por exemplo Matemáticas, Física Teórica, Químicas, Biologias entre outros) que paradoxalmente irão permitir a entrada de alunos com médias baixíssimas que, por óbvia exclusão de partes, não tiveram "cabidela" noutros mais procurados. São conhecidos casos de alunos que queriam ir para Medicina e acabaram em Produção Animal e eu próprio tive alunos que queriam ir para Engenharia e acabaram por entrar em Física. Ora, não estando nada para aí virados, dada obviamente a alta complexidade do Curso, ainda por cima sem grandes horizontes de carreira, pelo menos entre nós, foram tirar Direito em Universidades privadas e hoje (isto já foi há uns aninhos) são advogados de sucesso. Mais recentemente um antigo aluno meu que fez o Secundário com notas altas, mas a um ritmo muitíssimo lento, (mais de uma década para fazer o 10º, 11º e 12º anos à noite) e já com mais de 40 anos de idade, me contou, ao almoço num restaurante popular cá do burgo, que tinha entrado no Ensino Superior Público numa licenciatura em Genética; sinceramente o rapaz é aplicado mas, se mantiver o ritmo a que nos habituou, é capaz de se licenciar para aí com 17 ou 18 de média quando tiver uns 80 anos.
Mesmo assim as "competências" que nos trouxeram até aqui não são, de modo algum, originais, apercebi-me disso quando li as estatísticas do Ensino Secundário em Chipre, cuja elevadíssima taxa de certificação, não é compaginável com o sea, sex and sun que constitui, para além de um excelente vinho branco, o cerne da sua economia e modus vivendi.
O actual "Dépêche Mode" (bela banda!!!) destina-se, única e exclusivamente, a continuar o circo do "faz de conta" em que temos vivido nos últimos anos, para contar verdades estatísticas, que como se sabe, são o resultado da soma de muitas mentiras e continuar a vender ilusões.
Mesmo agora que estamos à beira do abismo, ainda há quem insista em fazer-nos dar o tal passo em frente.

Um comentário:

António Cabós Gonçalves disse...
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