Aquilo que por comodidade de linguagem se costuma chamar "Passos Coelho", quer dizer os interesses que a actual direcção do PSD representa, veio anunciar um autêntico golpe de Estado constitucional ao propor rever a Lei Fundamental introduzindo a possibilidade de "poupar" nas eleições, tornadas dispensáveis por passar a permitir ao Presidente da República demitir o Governo sem dissolver o Parlamento. Por uma vez dou razão a Santana Lopes, não pela história do PPD/PSD em especial, mas pela história recente de Portugal, visto que uma revisão constitucional deste teor constituiria um evidente retrocesso e um enfraquecimento objectivo do sistema democrático.
Mas como um "coelho" dá sempre vários "passos", este não se fica por aqui e pretende acabar de vez com uma das muitas coisas que, por muito que a camarilha do costume com elas costume encher a boca, nunca existiu a sério em Portugal - o Estado-Providência (providências cautelares sim). Para isso pretende-se "limpar" da Constituição as referências à tendencial gratuitidade da Saúde e da Educação, mesmo quando se trata de algo pouco mais do que simbólico. Aliás o "tendencial" já é fruto de uma anterior revisão constitucional.
Mesmo assim e como já disse o velho Heraclito: "é preciso que lutemos pela Lei, como pelas muralhas da cidade" - e que defendamos os direitos de todos.
Mais e "melhor", a autêntica "cereja no topo do bolo", a pretensão de trocar no texto constitucional a disposição que interdita o despedimento sem justa causa, pela sua possibilitação por "razão atendível" ou seja, pela simples invectiva dos filmes americanos: "You`re fired !!!"
Enfim o Passos é um "coelho" "pragmático", mas quer meter o chumbo no coiro do pagode e não se trata apenas de "parole, parole, parole".
Brecht disse que "cada povo tem o teatro que merece". Mas serão estes os nossos (neo)liberais. Não são a sério, pois não?!
Em Portugal não houve Feudalismo a sério, nem Absolutismo a sério, nem Liberalismo a sério, nem República a sério, nem Fascismo a sério, nem Revolução a sério, nem Capitalismo a sério, nem há Democracia a sério.
E no único país em que há "touradas", pois onde são a sério chamam-se "corridas de touros", porque seriam sérios os "coelhos" e os seus "passos" e por alma de quem haveriam de transcender a única coisa a sério que existe por cá: a máfia sonsa que constitui a nossa classe dominante.
Post-Scriptum:
Esperemos que aquilo a que, também por comodidade de linguagem, se costuma chamar "José Sócrates", o não aceite, ainda que fazendo a rábula do inicial estado de indignação.
2 comentários:
Não é "causa atendível", é "razão atendível" - ou seja, não é precisa uma causa, apenas um argumento. Quanto a Sócrates, depois da rábula da indignação, não sei se não aceitará as propostas de forma mascarada. Um abraço.
Obrigado Quim Narciso, fui "traído" por uma réstea de expectativa de um módico de boa fé. Vou já corrigir.Um abraço.
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