sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Fado do 31


À porta da Brasileira
Dois tipos encontram dois
Juntam-se os quatro e depois
Lá começa a cavaqueira
Agrava-se a chinfrineira
Vai aumentando o zum-zum
Vem bomb'arrebenta pum
Depois mais tarde vereis
24, 26, 29 e 31...
Já de manhã, bem taxados
Bebem vinho da botija
Viram dois copos da rija
De quatro em dois separados
E assim bem engraxados
Para não ficar em jejum
Bebem dois copos de rum
Vem Carcavelos e Porto
E depois ‘tá tudo torto
E arrebenta o 31


Se há lugar em que a regra e a excepção têm uma proporcionalidade sui generis, esse lugar é, sem dúvida, Portugal. Longe de apenas "confirmar" a regra, a excepção sobreleva-a e a "pirâmide" é de longe invertida. Há sempre mais "chefes" do que "índios" e mesmo em situações drásticas como as decorrentes da "crise", veremos que as "isenções" vão ser mais do que as "franquias".
Refiro-me em concreto ao corte de salários na Função Pública e Sector Empresarial do Estado, entre 3,5 e 10% aos "nababos" que auferem mais do que 1500 euros brutos mensais. Afinal, os "ricos" deste país.
A medida começou por ser anunciada ao estilo draconiano - não teria excepções, seria para toda a "malandragem" do sector público, mas apenas para os trabalhadores no activo, coisa que se o objectivo é arrecadar verbas para diminuir o deficit e havendo pensões equivalentes, se percebe mal porque terão ficado de fora. Depois vieram a lume as possíveis excepções do Banco de Portugal, da TAP e da Caixa Geral de Depósitos - o primeiro porque o Banco Central Europeu (salut les copains) o não permitiria; a segunda por ser "companhia de bandeira",e, já agora, de altíssima "bandeirada" e a Caixa porque "gera receitas" e pela possível "fuga dos quadros" (talvez ficassem as "molduras"); depois foi o sector da Saúde, com alguma lógica diga-se de passagem, se não for para safar vencimentos. Entretanto a Assembleia da República votou por maioria (PS+PSD - o Bloco Central sempre cá esteve), que o sector empresarial público, nomeadamente o dos Transportes, deveria "gerir autonomamente" os cortes. Ora, sabendo nós como este sector é produtivo e altamente bem gerido - vejam-se os magnos proventos da CP; dos vários Metros, de profundidade ou de superfície; da Carris e da própria TAP, é claro que a excepção será plenamente justificada.
A seguir veio o Governo Regional dos Açores, dizer que "subsidiará " os cortes com uma "dotação provisional", que se calhar não sairá do mesmo "bolo", deve ter sponsors, talvez os que aportam ao Peter`s para os grogues. O dr. Jardim, que não gosta de ficar mal neste tipo de "fotografias", sobretudo quando se trata de sacar "cacau" aos "cubanos" do "Contenente", irá de certo pelo mesmo caminho, tal como as Autarquias que, "a bem da coesão interterritorial", farão certamente o mesmo. Sendo certo que a Justiça, as Polícias e as Forças Armadas não deixarão de percorrer os mesmos trilhos em nome da "integridade da Pátria".
Em suma, a medida aplicar-se-á aos professores do Básico e do Secundário, porque o Universitário e o Politécnico gozam de "autonomia orçamental", e a mais alguns "otários" apanhados pelos "efeitos colaterais" e chega!
Toma lá que já almoçaste!
Bem dizia Orwell: "uns são sempre mais iguais do que os outros"!

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