
O Emídio (Maximiano Cabós Gonçalves), Midocas ou Emax – nos vários avatares da sua, não muito longa, vida - foi para mim mais do que um amigo, foi um irmão mais novo. De tal maneira que ainda há não muito tempo, estando a tomar um café num dos lugares em que ele é mais caro em Portugal, a “Cabana” na Praia dos Três Irmãos em Alvor, onde toda a gente vai porque não há alternativa, um conterrâneo se dirigiu a mim invectivando-me alto e bom som:
- Tozé, ando para te dizer isto há uma mão cheia de anos. Tu e o teu irmão não têm vergonha de terem “aquilo” naquele estado?
Fiquei perplexo, mas, por insight, de súbito entendi e também de imediato respondi:
- Não sou eu e o meu irmão, é outro e o irmão dele e mesmo assim também não é deles, mas de outros irmãos – ele estava a referir-se à antiga loja da Oliva e ao seu actual estado de degradação.
O Emídio fez, durante anos a fio, do surreal uma espécie de realidade quotidiana e partilhava comigo, sempre que nos encontrávamos, um ritual de bate-pés, assim entre o fandango e a dança céltica. O Emídio foi um Punk pioneiro e são lendárias as situações hilariantes em que nessa condição se viu envolvido. O Emídio saía de casa “à paisana” e “fardava-se” em casa dos amigos para escapar à mão literalmente pesada do pai, o Sr. Gonçalves, que não achava piada nenhuma a essas “modernices”.
O Emídio proporcionou-nos alguns das mais altas e pícaras situações dos melhores tempos das nossas vidas, fê-los acontecer e ajudou a que o tivessem sido. O absurdo, como costumam ser essas coisas, fez com que o Emídio adoecesse, tivesse a sua prolongada “via-sacra” e, com a incredulidade da eterna luta entre o acaso e a necessidade, perplexos, nos deixasse.
Quem o não deixa partir somos nós…