domingo, 11 de setembro de 2011
A Propósito de um Congresso
Ocorreu durante este fim-de-semana, em Braga, o XVIII Congresso do Partido Socialista com um regresso icónico ao "punho" em detrimento da "rosa". Nesta ambiente mais "avermelhado" e com um slogan repristinado dos tempos de Guterres ("As Pessoas Estão Primeiro") propõe-se, num ambiente interno também mais distendido, iniciar um "Novo Ciclo" prometido pelo também novo Secretário-geral, António José Seguro.
Talvez para estimular um clima de unidade neste partido "plural", invocação que costuma ter as costas largas e após a derrota (por números bem expressivos) nas eleições internas do "legado" socratista, os representantes desta "herança" (eu chamar-lhe-ia "fardo") antecipam a manobra e passam ao ataque, para não terem que se defender. Até dá a ideia que não levaram o PS a uma das mais severas derrotas eleitorais de sempre e que o seu candidato (o estimável Francisco Assis) não perdera as internas, por uma margem significativa, para Seguro.
Esta jogada destinou-se a evitar que fosse feito um balanço crítico do Partido na "era Sócrates", o que não deixaria sempre de trazer um certo apuramento de responsabilidades. Afinal trazer um País à Bancarrota, começar a desmantelar o retoricamente incensado "Estado Social" (ainda que alegando defendê-lo "à outrance") e acabar por entregar o Poder à Direita, por insuportabilidade (o povo não tinha mais "saco") política e moral mais do que evidentes, irão passar como meros "azares" decorrentes de uma, sem dúvida particularmente desfavorável, "conjuntura internacional".
Manda o "Bom Senso", que segundo um conhecido Mestre é (apesar de não parecer) "a coisa do mundo mais bem distribuída" - que se aprenda com os erros. Para que isso possa acontecer, é necessário fazer balanços críticos do passado. Não para recriminações, mas para que possamos entender como chegámos aqui. Não vi neste Congresso quase nada disso, Manuel Alegre tocou no assunto fazendo uma alusão crítica global à "Terceira Via" e às cedências ao "neoliberalismo", mas o resto foi "en passant". Seria importante avaliar os danos que trouxe ao PS e sobretudo ao País a iniciativa dos governos Sócrates, conhecida como "guerra aos professores" em que, a pretexto do combate às "corporações" (não às verdadeiras, claro), se criou um "mise en scène" para uma campanha de ódio inédita, inusitada e contraproducente contra um único grupo sócio-profissional (apesar de ensaiado com vários, acabou por ser efectuado na íntegra apenas contra um) - os professores. Caluniados e vilipendiados na praça pública (os "mais bem pagos" da Europa, os que menos horas trabalham, veja-se a este propósito os motivos das greves de professores em Espanha, e outras patacoadas), acusados de preguiçosos por tipos que nunca trabalharam na vida e que, eles sim, têm vivido (e muitíssimo bem) à custa do "orçamento", alvo de medidas puramente vexatórias sem qualquer ganho de eficácia real, antes pelo contrário, pois o objectivo também não era esse.
A "guerra aos professores" foi um "tiro no pé" determinante para a perda da maioria absoluta em 2009, para a derrota nas Europeias e para a derrota de 2011 e entrega do poder à direita coligada, que, nesta matéria, herdando o grosso do "trabalho sujo" já feito e com um pouco de "savoir faire", até passa por simpática. "Elementar meu caro Watson".
É um "case study" em matéria de manobras suicidárias que um Partido possa ter feito, com a alienação por "muitos e bons" anos de uma parte importantíssima da sua base social de apoio (não, um Partido não deve governar para grupos em particular, mas também não deve hostilizá-los provocatoriamente, apelando ao ressentimento e à cizânia social). É baixeza, é vilania!!!
Neste Congresso em que a "tralha socratista" aparece entrincheirada nas listas de Assis (nem o Valter Lemos lá falta), das suas "vedetas educativas" pontificam o que, tendo sido Ministro do sector "não fez, nem saiu de cima", mas veio a revelar-se exímio como eminência parda dada ao ventriloquismo, "treinador de bancada" e grande "malhador" e outro que na sequência da derrota nas europeias e num acesso de "candura", que revela a sua completa falta de maturidade (e estamos nós entregues a gajos destes), acabou por confessar a "estratégia" que se revelou afinal, penalizadora:
"Era preciso criar pressão sobre certos sectores - como o da Educação (leia-se professores) - para que o resto da população aceitasse as reformas".
Ora nem mais, não podia ter sido mais explícito no seu maquiavelismo de alcofa, tratou-se de "dar sangue à populaça".
Mas, claro e como de costume, apenas o sangue dos outros.
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