quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Salazarizar (mas em pior:..)





Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. É óbvio que está em curso uma tentativa de "salazarização" do país, traduzida por uma cascata de medidas, ou anunciadas medidas. Muitas vezes, de acordo com a linguagem do Primeiro-ministro,  para testar a sua possível "aderência à realidade" (quer dizer: atirar barro à parede, para ver se pega). Desta vez é o novo "conceito estratégico de segurança e defesa nacional" que, invocando uma pretensa "racionalização de meios", mais não visa do que operar uma regressão histórica de, pelo menos, quarenta anos e esvaziar a PSP de competências de segurança interna para as entregar à GNR. Assim, a PSP ficaria reduzida a pouco mais que uma "polícia de giro", enquanto a GNR teria o monopólio do Corpo de Intervenção, da luta antiterrorista e do controlo de manifestações, por exemplo. Ora, esta pretensão, no actual contexto, nada terá de "inocente", a juntar ao empobrecimento galopante, ao regresso da "caridadezinha", com o coro afinado de "ulrichs" e "jonets", entre os "ai aguenta, aguenta" e os "bifes", já só faltava o retorno, rapidamente e em força, do esplendor da GNR aos seus "tempos de glória".
Estão a juntar-se os ingredientes para a neo-salarização, por minagem e desmantelamento progressivo dos mecanismos da democracia que julgávamos consolidada. Agora sem o "cimento ideológico" que caracterizou o "original" dos anos 30. O "mestre" afirmava saber bem o queria e para onde ia. Estes fracos discípulos, sabem o que querem, mas não sabem para onde, nem como, hão-de ir. Arriscamo-nos a, no fim desta louca aventura, não restar pedra sobre pedra. Afinal estamos na era do "pensamento débil"... É o Passos sem metafísica.
A "Europa" não é estranha a este propósito. À boleia das assimetrias económico-financeiras entre o "Norte" e o "Sul" regressam as velhas assimetrias políticas que durante décadas "justificaram" que Portugal, Espanha e Grécia estivessem, ao contrário dos países desenvolvidos do continente, sujeitos a férreas ditaduras para as quais a "Europa" de então se esteve a "borrifar" (para não dizer algo mais vernáculo"), pois no ver "iluminado" dessas mesmas potências, não estávamos "preparados" para a democracia. Agora, por obra da "crise", parece que voltamos a não estar.
Mas, para voltar à GNR, mesmo  querendo ser optimista (nem "piegas", nem "velho do restelo", longe vá o agoiro) e concordando com a vetusta sageza de Heráclito de Éfeso quando afirma que "tudo muda", talvez influenciado pela memória de ter vivido numa terra (o Barreiro) ocupada e mantida manu militari pela GNR até ao 25 de Abril de 74, temo que a tradição pretoriana possa voltar a ser o que era e acorde velhos demónios.
Afinal basta recordarmos onde se refugiou Marcelo Caetano e alguns dos seus mais próximos nesse preciso dia...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Polícias e Ladrões (Parabéns Manoel de Oliveira)



"Aniki-bébé / Aniki-bóbó / Passarinho Tótó / Berimbau, Cavaquinho / Salomão, Sacristão / Tu és Polícia, Tu és Ladrão". 

Manoel de Oliveira,  que completa hoje 104 anos (Parabéns Mestre !!!), rodou Aniki-Bobó em 1942. Nessa altura os putos usavam o anexim que serve de título à fita para determinar quem, na brincadeira, fazia de "polícia" (os "bons") e quem faria de "ladrão" (os "maus"). É claro que a lenga-lenga era em geral "mafiada" para atribuir os  melhores papéis (que lhes permitiam "caçar" os outros) a quem estava na "liderança" do grupo e aos seus comparsas.  Já e de forma mui contrária à  teoria da "inocência", a razão da força se costumava sobrepor à força da razão. Os putos ficavam "chateados" quando lhes cabia o papel de ladrão (também ninguém queria ser "índio", toda a gente preferia ser "cowboy).
Hoje e dado o contexto, ladrões é o que por aí há mais,  parece  até que já ninguém se "chateia", antes pelo contrário.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Pr'ós Cus de Judas



Nunca como agora esteve tão adequado à realidade o título de uma das primeiras e melhores obras de António Lobo Antunes - "Os Cus de Judas". É para lá que estão a mandar os Serviços Públicos (Saúde, Justiça, etc.), isto quando os mandam para alguma parte sem ser "aquela".
Vão encerrar a Maternidade Alfredo da Costa sem estar construído o Hospital de Todos-os-Santos que a deveria substituir. A opção clara pelas periferias, para além de ser uma operação de estímulo à especulação imobiliária, quer no espaço que fica disponível, quer no local para onde os serviços são transferidos, representa mais um passo para a desertificação funcional das cidades e uma penalização para os utentes mais desprotegidos (pobres, idosos) por serem de mais difícil acessibilidade e de mais caros e raros transportes.
Enfim, mais um passo para o "Conhecimento do Inferno" cuja chave só poderá ser desvendada na "Explicação dos Pássaros".

domingo, 2 de dezembro de 2012

O PCP Nas Suas Sete "UCPs" (Dizer "Quintas" é Muito Burguês)






Jerónimo de Sousa abriu o XIX Congresso do PCP (em 91 anos, é só comparar com os partidos "burgueses") com, pelo menos na hora inicial, um brilhante e vibrante discurso. O PCP está, neste contexto económico - afinal a instância "determinante" (e ainda dizem que Marx está "morto"), social e político como Mao Tsé-Tung( (ou Zedong) disse que deve estar o revolucionário, "como peixe na água" ou, mais à portuguesa (trata-se de um partido, agora,  patriótico), nas suas sete UCPs (Unidades Colectivas de Produção, que isso das "Quintas" cheira a burguesia com pretensões afidalgadas).
Na velha tradição bolchevique dos discursos longos, mas sem serem intermináveis como os de Fidel Castro e do seu mais recente émulo, Hugo Chávez, Jerónimo de Sousa, a quem apelidaram de exemplo mais rematado do "comunismo de  sociedade recreativa", é natural, lá será sempre muito bem entendido) desta vez não ficou afónico e chamou os bois pelos nomes elencando a série de desmandos, patifarias e asneiras criminosas que os detentores do Poder têm vindo a praticar desde a "nossa" adesão à CEE (o PCP só não tem as mãos absolutamente limpas devido ao seu forte sector autárquico. Neste domínio nenhuma força política marca, entre nós, pela diferença, havendo, é  certo, um ou outro autarca, ou executivo, que se destaca sem que isso decorra da sua filiação partidária) - a destruição do aparelho produtivo nacional, trocado pela ilusão da "vida fácil" da "terciarização" da economia; a quimera do Euro; a subordinação aos interesses económicos, políticos e geoestratégicos das "grandes potências" europeias e do "tio" da América (que nos paga com a "evasão" da Base das Lajes), a apropriação dos recursos públicos por cliques e o aboletamento  devorista dos  grandes interesses instalados (Banca e oligopólios) sempre em prejuízo do Trabalho e das camadas populares.
Afinal a Queda do Muro de Berlim e o consequente desmoronar do Bloco de Leste não foram, ao contrário do esperado e do propalado na altura, lá  muito boas novas e acabaram por constituir das maiores tragédias da História Contemporânea. Não que os regimes do "socialismo real" fossem flores que se cheirassem, toda a gente, com um mínimo de honestidade intelectual, sabe o que eram, e no tempo da Guerra Fria  a jovem  esquerda procurava uma alternativa entre o "quotidiano da miséria" e a "miséria do quotidiano". O fim da URSS, fruto do cerco propagandístico, do colapso económico,  mas também de colossais desvios ao projecto socialista em favor da chamada "natureza humana" (ganância, corrupção e abuso de poder) tornou possível a consequente recuperação do velho sonho do capitalismo plutocrático - uma nova (des)ordem mundial do saque e da exploração que o "papão" soviético tinha travado por setenta anos, estava agora aí outra vez na "democrática" ordem do dia - uma síntese "perfeita" dos dois tipos de miséria. Uma nova Idade Média, em versão "high tech", aproxima-se a galope. A "dialéctica" é o que é, e a História está, ao contrário do que propalaram alguns vendedores de banha-da-cobra, longe da consumação. Parafraseando o título/tema da excelente obra do "camarada" Mário de Carvalho, sem chegar a imitar o Dr. Joel Strosse, "era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto".
É comum dizer-se que o nível de vida do País está a regredir (outros, que não vêem com bons olhos que a "plebe" possa "comer bifes todos os dias",  dizem até que "tem que regressar") aos índices dos anos 60/70. Pois bem, que assim seja em tudo, principalmente na Política. Perspectiva que não lhes deverá agradar, nesses tempos a sociedade era muito menos amorfa, sendo certo que, os hoje inexplicavelmente (ou talvez não) esquecidos "mecanismos de alienação" (ou "aparelhos ideológicos") também eram muito menos eficazes. Apesar disso e para utilizar o jargão da época, as "condições objectivas" estão a concretizar-se e, à medida que as "massas" forem sentindo na pele os efeitos do grande embuste em que foram enroladas, as "condições subjectivas" amadurecerão necessariamente .
O PCP está pois, em pleno, nas suas sete UCPs. 
Avante camaradas!