As Autárquicas 2013 saldaram-se por um vendaval rosa-rubro-independente, mas o vasculho podia ainda ter sido mais eficaz se o PS de Seguro tivesse querido resistir às pressões do aparelho e das chapeladas do costume, se as eleições nacionais tivessem o mesmo grau de transparência que as das concelhias e as distritais era pior do que na Córsega nos livros do Astérix, para indigitar candidatos das clientelas mas perdedores à partida. O que vale é que o PSD também embarcou no "Síndrome da Pagador de Promessas" e contrabalançou em "burrice" eleitoral - o PS perdeu, para referir assim de memória, ingloriamente Matosinhos, Alcácer do Sal e Grândola e não ganhou outras, por disputas internas em que prevaleceu a hipótese menos adequada, e o PSD fez escolhas lamentáveis, estou a lembrar-me de Sintra, e outras "envenenadas" como Lisboa e o Porto e no resto da "paisagem" foi o descalabro. O Partido Socialista com uma direcção estratégica mais, como agora se diz, assertiva podia ter "varrido". Ainda assim foi uma grande vitória e um bom prenúncio.
Os partidos do governo, malgrado algumas importantes vitórias pontuais, como Braga e a Guarda, devidas à usura do poder de décadas, falharam em praticamente toda a linha com a derrota dos candidatos mediáticos Menezes, Seara e Moita Flores, o que prova que o eleitorado não é parvo e sabe "separar as águas" (e, no caso do Porto, até os vinhos). No Porto foi dada mais um vez uma lição de sabedoria política, o povo (e a burguesia) da "Cidade Invicta" sabem muito bem o que não querem e distinguem ainda melhor entre Passos e os Paços do Concelho e entre os interesses da "bola" e os interesses da cidade e da região. Para o que interessa as "forças vivas" não se deixam obnubilar pela devoção ao "papa" do futebol. Aliás, este filme do contra populismo já dá em reprise (a "estreia" foi a eleição de Rio "against all odds").
O fenómeno dos independentes, "verdadeiros" ou "falsos" concorreram e foram aceites a sufrágio como tal, constitui-se como um sério aviso à partidocracia e a um regime em apodrecimento acelerado, o próximo passo será a forçar a admissão de listas de cidadãos não vinculados a forças partidárias às Legislativas, estes que se cuidem pois como canta o Poeta Aleixo: ´"pode o povo querer um mundo novo a sério".
Na Madeira o vendaval desbancou o Jardim e a oposição conseguiu fazer no Funchal o que podia ter feito em importantes municípios do continente. "Chapeau" à lista encabeçada por Paulo Cafôfo que disse e muito bem, que se "fez Abril". Agora só têm que ter engenho para aguentar o embate da besta ferida e arte para aguentar a coligação sem brechas.
As declarações de Portas foram mais um irrevogável hino à deslealdade. Afinal se o CDS fez o "penta" camarário, só, não referiu as coligações em que foi por água abaixo, mal acompanhado (com o PSD). Um Maquiavel à moda do Caldas.
O PCP/CDU foi outro dos grandes vencedores da noite com a reocupação do seu espaço "natural" a Sul do Tejo quase voltando às fronteiras vermelhas da antiga cintura industrial e da Reforma Agrária. Já que o tempo parece estar a andar para trás é normal que ande em tudo. Marcando pontos um pouco mais a Oeste (Peniche, que já era "seu" em justa homenagem à memória) e a Sul, Silves (após um longo interregno). Também perdeu alguns concelhos, Vendas Novas, por exemplo, onde aparentemente estava de pedra e cal.
O Bloco está, infelizmente, a caminhar para a irrelevância autárquica e temo que para a insignificância eleitoral. O eclipse voluntário de Louçã e Rosas, a morte de Miguel Portas, a saída de Daniel Oliveira e Rui Tavares, a renúncia de Ana Drago estão a provocar um efeito que me está a parecer uma "udêpização" do Bloco e a quantidade, ao contrário do que o "marxismo mecanicista esquemático" acreditava, nem sempre se traduz em qualidade.
Temos pena...
2 comentários:
Boa análise!
Obrigado caro amigo.
Parece-me de meridiana clareza.
TZ
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