A agitação nas águas do PS está a atingir proporções compatíveis com as da invernia. A caça ao Seguro tornou-se mesmo um desporto interno, não há dia em que não venha um "notável" ou um "barão" (que os há, mesmo na mais republicana das agremiações) exercitar a sua pontaria, pressionando, avisando, alvitrando prazos, fazendo ultimatos e por aí fora.
Ele é a estratégia que falta, ele é a táctica errática, ele são os nomes de candidatos que tardam, ele é um ror de coisas, por acção ou omissão, muitas delas inteiramente procedentes, que não estão como deveriam estar.
A narrativa dominante destes críticos de circunstância - foram-no bem menos noutras - é a de que a actual direcção do partido, Seguro e os seus, representam um lobby interno que será a mera expressão de um somatório de interesses locais. Enfim, um lobby paroquial, de vistas curtas, se calhar parolas, que terá "capturado" a iniciativa política do partido, fazendo-a materializar-se apenas em bagatelas e promessas de pechisbeque como a da restauração dos tribunais que este governo mandar encerrar e outras coisas de somenos.
Essa outra linha de pensamento (e de intenções de acção, quero crer) seria composta por gente de vistas largas, cosmopolita (e, pelos vistos, com vontade de o ser, ou continuar a ser, na "geopolítica dos lugares"), com visão estratégica simultaneamente "nacional", "europeia" e "global" (que isto, como é sabido e consabido, anda tudo ligado), com perfil e competências para os mais altos voos eleitorais e governativos, sempre com o elevado intuito da defesa do interesse geral e nunca (vade retro!!!) dos particularismos vários.
É interessante verificar esta apropriação de conceitos, hoje superiormente inspirados e legitimados pela pós-graduação en Sciences Po do protagonista-mor que continua, cada vez mais afoito, a exibir aquele suplemento de energia que não o deixa a repousar e que já o terá levado a licenciar-se a um domingo e, ainda muito antes, a correr para a sua velha escola primária numa tarde de um sábado de Julho, para imitar o Eusébio aos pontapés à bola.
Pelos vistos, em havendo eleições no horizonte, demais a mais "Europeias", o frenesi torna-se contagioso.
Se é verdade que a estratégia política de António José Seguro parece estar confinada a escorregar nas cascas de banana que a actual maioria de direita vai deixando cair, o que não é bom, não é menos verdade que sempre que cheira a eleições aparece logo uma data de gente a pôr-se em bicos de pés para melhor ficar na fotografia.
Se as críticas terão muitas vezes cabimento - e a candidatura, encabeçada por quem quer que venha a ser, está obrigada a uma vitória clara - já da generalidade dos "críticos" se não poderá dizer o mesmo, uma vez que se trata, em significativa proporção, de protagonistas directos das políticas que foram, em grande parte, responsáveis, como diria Salgueiro Maia, pelo estado a que isto chegou: o país às mãos da troika na praia da bancarrota e o partido à perda, primeiro, de uma virtualmente irrepetível maioria absoluta e em seguida, das próprias eleições, deixando uma herança difícil de gerir.
É, aliás, essa herança que a maioria no poder costuma brandir como irrevogável bordão, mesmo que seja para justificar o injustificável.
Mas isso não estão as luminárias "críticas" interessadas em ouvir.
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