quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
A Migração de Deus
O “clima ameno” e os “brandos costumes” têm sido o álibi quase perfeito para todo o tipo de laxismo e corrupção no mais essencial da nossa sociedade.
Mas, como se tem vindo a verificar nos últimos tempos e, em abono da verdade, um pouco desde sempre, quer uma coisa quer outra “já deram o que tinham a dar” e quando o clima se torna menos “ameno” e os costumes mais “ásperos”, as coisas tomam, muitas vezes, proporções catastróficas e totalmente inusitadas que decorrem apenas da incúria e da displicência com que o essencial costuma ser tratado entre nós ao contrário do supérfluo, sempre muito acalentado.
Só assim se pode explicar que tenha bastado um temporal de média intensidade para deixar uma região inteira sem energia eléctrica durante o Natal e não consiga prever-se o seu restabelecimento, indiciando os danos deficits de manutenção e de efectiva prevenção que ultrapasse os níveis dos “Simulacros e Simulações” com que algumas entidades gostam de entreter o “pagode”. O pior mesmo é quando é a sério e nas, felizmente, raras vezes em que tem sido, as respostas têm deixado muito a desejar. Posso exemplificar com coisas pequenas – após um vendaval, um contentor de PET (Plásticos tipo garrafões de água) voou, porque como ninguém os espalma, abertos funcionam como "flutuadores". Pois alertadas as entidades supostamente competentes (Câmara, Bombeiros e Polícia) logo se assiste ao “jogo do empurra” e o contentor fica perto de uma semana no meio de um cruzamento. Mas nem só as “entidades competentes” dão provas de inércia e inépcia perante circunstâncias minimamente adversas. Neste último vendaval uma antena parabólica, daquelas que esquecidas pelo desuso e cuja função foi “liquidada” pela televisão por cabo, lá ficam a degradar-se sem qualquer atenção por parte dos condomínios, voou de trinta metros de altura e estatelou-se no chão, junto à Biblioteca Municipal do Barreiro pelas sete e meia da manhã da véspera de Natal, não tendo, milagrosamente, atingido nada nem ninguém.
Desta vez a PSP actuou prontamente na remoção do “mono”, tendo tomado conta da ocorrência para eventuais procedimentos.
Em princípios do Verão de 1979 no dia em que terminei a minha licenciatura (um dia de semana, pois nesse tempo a sociedade era um pouco mais “conservadora” e as Universidades não abriam aos domingos, nem se faziam cursos por fax, até porque ainda só havia o telex e apenas nas redacções dos órgãos de comunicação), lembro-me de vir contentíssimo no barco por ter concluído o curso, mas de estar, ao mesmo tempo, apreensivo por ser o dia em que o Skylab ia cair, sem que se soubesse onde, nem com que consequências.
Ora, como a irresponsabilidade humana permite que haja lixo espacial em órbita que se despenha descontroladamente, também permite que haja muitas “traquitanas” sobre as nossas cabeças prontas a ocasionar situações como as do Ben-Hur, mas ao vivo.
No mesmo local há um quintalão de uma antiga fábrica de cortiça cheio de sucata, com parabólicas velhas, carcaças de automóveis, patos, perus, galinhas e galos desorientados (pois cantam a toda a hora), carneiros, camiões que entram e saem, auto-caravanas, atrelados com barcos e todos os tipos de tralha e barulho dia e noite, onde se fazem “queimadas”, chegando a vedar-se com baias a via pública que é assim “privatizada”, reservando para fins particulares lugares de estacionamento mesmo em frente à Biblioteca Municipal, que devia ser um local de recolhimento, sem que ninguém pareça incomodar-se com isso.
Fala-se também muito em sinistralidade. O que me espanta perante a irresponsabilidade geral, é que não haja mais, basta vermos o modo como se conduz - altíssimas velocidades e manobras perigosas (já para não falar do “som”) em zonas urbanas transgredindo todos os limites legais que só casuisticamente são fiscalizados quando há ordem de “caça à multa”, sem qualquer efeito dissuasor e mesmo em estradas e auto-estradas onde a despeito das mais extremas condições atmosféricas (chuva intensa, nevoeiro, total falta de aderência e visibilidade) se continua a “pisar a tábua” até aos limites físicos das viaturas, que como se sabe são muito “generosos”.
Mesmo certo de que não há vida sem risco, a única explicação é a de que Deus é português, mas consta-me que perante os últimos acontecimentos em que interveio - um sismo do grau seis sem consequências - já começou a dar sinais de saturação e está a pensar em emigrar. Tem mesmo um pé dentro e um pé fora.
Deve ser por isso que o Benfica, em atitude prevenida, já contratou o Alan Kardec e, já agora, porque não também o Dr. Sousa Martins, para a equipa médica?!
Enfim, como se costuma dizer “entre mortos e feridos alguém há-de escapar”!
Feliz Natal!
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