sábado, 2 de janeiro de 2010

Penduras & Penetras


Nesta sociedade em que a "política", não a "teórica" a que ninguém liga, mas a "prática", já só serve para as clientelas continuarem o saque enquanto "moralizam" os outros e a "festa" continua apesar dos protestos "liberais" dos que acham que também só os outros pesam no Orçamento, tem vindo à colação a problemática da dependência em relação ao Estado.
O problema do Estado em Portugal é como o de Lisboa, o resto é paisagem. Não temos, entre nós, verdadeiras empresas privadas, na verdade não temos sequer verdadeiras empresas. Teremos, ou melhor, terão, quando muito privatizados os réditos dos "negócios" que o Estado, ou seja, quem ocupa o aparelho de Estado distribui à tripa forra por alguns "parceiros", "players" que nunca arriscam o deles claro está, arriscando sempre o que por direito é de todos.
O PCP nos anos 60, quando tinha teoria, quer dizer, quando Cunhal estava vivo e pujante, tipificou o sistema económico português como "Capitalismo Monopolista de Estado", ironicamente a designação que os economistas esquerdistas davam ao sistema soviético, mas o PCP queria dizer que o Estado Português do tempo do salazarismo, mais do que o da "modernização" caetanista, através de mecanismos de privilégio e exclusão como a Lei do Condicionamento Industrial, entregava a alguns (os tão decantados Mellos e Champalimauds) o monopólio ou quase dos sectores produtivos e, por arrastamento, dos mecanismos financeiros. Ora, hoje é mais ou menos o mesmo que se passa, sem que ninguém o teorize, nem sequer o denuncie com muita e evidente convicção.
Estranhos tempos estes!
Os "Penduras" e os "Penetras" são duas das espécies mais protegidas no Portugal Contemporãneo e isso deve merecer-nos preocupações de carácter social, político e mesmo estritamente científico.
O Estado (e "territórios adjacentes") encontra-se alapado de ladrões que gritam "agarra que é ladrão" para desviar de si as atenções; em geral os grandes e pequenos "penduras" vivem muitas vezes "à grande e à francesa" do subsídio, do favor, da mordomia, da prebenda. Para entrar neste domínio e conseguer viver "à pendura" é preciso começar pela condição de "penetra"; como para estas bodas não costuma haver convites, cada um tem de se convidar a si próprio e, como agora se diz, "chegar-se à frente".
É o cartãozinho certo na altura certa e sempre manteigando o "chefe" que está a dar, são os "amigos" convenientes, é a troca certa na altura exacta (é, sem dúvida, o aristotélico problema do kairos) penetrando noutras esferas, quando a ocasião se propicia, pois como ficou estabelecido como um quase dogma do regime "democrático" em que vamos vivendo - "só os burros não mudam de ideias" e como ninguém quer ser burro...
A este propósito é ver a quantidade de "altos penetras" que enxameiam a nova "União Nacional" e que começaram a carreira de "penduras" noutros quadrantes, tendo posteriormente feito o azimute mais acertado e corrigido atempadamente a trajectória.
Esta, mais do que meramente taxonómica, relação entre "penduras" e "penetras" é verdadeiramente ontológica, comungando a essencialidade e transcendendo mesmo as contigências fenomenológicas em que por uma vocação não meramente acidental, mas de profunda substancialidade, Ser e Devir se conjugam numa única e inequívoca manifestação de identidade de Condição e Destino.
Para ser "pendura" é necessário ter sido "penetra" e todos os "penetras" visam a perenidade dessa condição, independentemente do Espaço e do Tempo, numa realização plena da Metafísica como verdadeira ciência através da muito almejada Unificação dos Campos que tanto tem dado que fazer ao mundo da investigação, encontrando-se Portugal como Obra Colectiva em condições de mais do que para o Guiness (até porque o mau tempo estragou o record de brindes com champanhe marado em Albufeira), candidatar-se ao prémio Nobel da Física por esta monumental integração holística da Relatividade e da Mecânica Quântica com a dimensão sapiencial da Existência.
Dos "penetras" e dos "penduras" só mesmo os mágicos como Harry Potter terão uma fórmula encantatória para nos livrarem deles que, apesar de ser secreta, presumo que deva ser algo como:
- "Cleptorum Expectum"!

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