segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sai uma "terceira"!


Uma "terceira" ou um "copo de três", era, nos tempos da minha meninice, um pedido muito comum (era mesmo o mais comum) aos balcões das tabernas. Designava um copo de vinho que, ainda assim, não era muito grande, não chegava aos dois decilitros - o, mais actual, penalty tem muito mais capacidade pois é um copo para água que se enche de vinho. O "copo de três" ou "terceira", como ouvia dizer aos homens desse tempo, era "curto" e também havia o "copo de dois" que ainda era mais pequeno, mas curiosamente ninguém lhe chamava "segunda". O problema não era a diminuta capacidade dos copos, mas a quantidade de vezes que se enchiam e se emborcavam.
Havia sempre um bom motivo para mais uma "rodada", ou porque saía um "compincha" e antes de sair, pagava uma , ou porque entrava mais um "conviva" e ao entrar, pagava outra; ou porque alguém de entre os presentes fazia anos, ou porque o filho ou a filha de alguém fazia anos, e quem diz o filho ou a filha; diz o neto ou a neta, ou mesmo o bisneto ou a bisneta; ou pela alegria do nascimento; ou pela dor da morte; ou porque era paga uma aposta; ou na sequência do jogo das moedas; ou porque o clube de alguém ganhava; ou porque o de outrém perdia; ou ainda quando empatavam, cada um pagava a sua para ninguém se ficar a rir. Bebia-se para "esquecer", mas também para evocar, brindava-se aos presentes e aos ausentes; à saúde dos vivos e à memória dos mortos; para soltar a palavra de que não se tinha o "dom", mas de que se usava mesmo assim. Caso exemplar o da personagem do actor Santos Carvalho na "Canção de Lisboa" quando afirma: - "Eu não tenho palavras, eu não tenho vinho!" - estendendo o caneco para a botija.
Bebia-se de entrada, mas também de saída, para a "sossega" e para o "caminho" (uma "saídeira" como mais tarde se viria a dizer).
Egrégio testemunho desses tempos em que ninguém receava ser apanhado em "flagrante de litro", o meu avô Agostinho, "Doutorado" em Alcoólicas e Petisqueiras, ramo do saber afim, mas menos radical do que as "Alcoólicas e Bagaceiras", sócio n.º 1 do "Manel da Galega", que achava na sua imensa sabedoria, que o nome de "Faculdades" dado às Escolas Superiores estava "mal posto", pois assim "dava a ideia que era fácil", por isso deveriam designar-se "Dificuldades" (A "Dificuldade" de Medicina, a "Dificuldade" de Direito, de Ciências, de Letras e por aí fora), filosofava assim:
"Cerveja é água com gás (ou pior, mijo de gato), branco é refresco, vinho, vinho só tinto"!
E mainada!!!"Anda Pacheco!!!"
Vai uma rodada?!

3 comentários:

Carlos Botelho disse...

Belíssimo post!

imank disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
imank disse...

Obrigado Carlos.
Um grande Abraço!
Tozé