segunda-feira, 18 de julho de 2011

Voto pelo Seguro




Fundei com um grande amigo, o António Cabós, a Secção, na altura dizia-se Núcleo, do PS do Barreiro na primeira segunda-feira a seguir ao 25 de Abril, no dia 29 de Abril de 1974. É fácil de avaliar as circunstâncias em que o fizemos e pelo que passámos a seguir, numa terra com o lastro político do Barreiro
Nos meses que seguiram, com os meus perto de vinte anos e um corpo avantajado, hoje está mais, mas por motivos diferentes, tive muitas vezes como tarefa fazer entrar e fazer sair de Salões de Bombeiros e Praças de Toiros, insignes camaradas como Mário Soares, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia e Lopes Cardoso entre outros. Confesso que era mais difícil protegê-los dos “amigos” que dos outros, pois todos queriam um abraço, uma “festinha” ou um aperto de mão. Tive a honra de conviver no quotidiano com grandes figuras como Manuel Cabanas e outros que já cá não estão, mas também com muitos jovens como eu era na altura e que encontraram no PS a alternativa política face à asfixia dos extremos que então fazia, por cá, escola.
Nesse tempo lançaram-se as bases do Partido Socialista como um Partido do povo e para o povo, como um partido interclassista virado para a defesa dos trabalhadores num quadro de liberdades cívicas e afluência económica e social. Criou-se uma tradição na senda dos valores da República, caldeados com os da Modernidade Democrática e essa tradição passou a constituir uma Esperança para a nossa sociedade.
Serve este texto não para deixar elogios, se bem que ache que os mereça, mas para falar de política, que é o que tem faltado no Partido, alienado pela volúpia do poder, que como a vida (onde é que já ouvimos isto) sempre, a mais ou menos breve trecho, se esfuma.
Tenho pois experiência na vida e no Partido para lhe pedir que no Novo Ciclo que se propõe iniciar, se lembre para não repetirmos erros recentes:
Se é certo que não se deve governar para interesses ou corporações, não é menos certo que os legítimos interesses de quem trabalha devem ser mais acarinhados do que os grandes interesses dos Bancos e dos grupos financeiros; esses já têm a Direita para olhar por eles, não precisam do nosso desvelo para nada.
Se também é certo que não se deve governar para determinados sectores da sociedade, mais certo é não ser legítimo invocar o interesse geral para justificar meras “cortinas de fumo”. Um Partido não se faz contra a sua base social de apoio, senão reflictamos no passado recente, o que é diferente de ceder a chantagens ou reivindicações ilegítimas ou impossíveis de sustentar. A política deve fazer-se com verdade e com realidade, não com tacticismos cínicos, venda de ilusões e empolamento de fracturas sociais. É absolutamente errado lançar sectores da sociedade às feras, só para conquistar a adesão de outros. Deve cultivar-se a afluência, nunca o ressentimento, até porque quem com ferros mata, com ferros costuma morrer.
Diálogo pois, honrando as tradições do nosso grande Partido, em vez de afrontamentos contraproducentes e suicidários, como, aliás, se viu.
Ler as circunstâncias não é ser circunstancialista e abusar delas, até porque o carteiro, quando toca fá-lo sempre, pelo menos, duas vezes.
É preciso ser firme, mas firmeza não ser pode confundir-se com arrogância.
Quanto à vida interna do Partido é preciso “descaciquizá-la”, é preciso acabar com os apartamentos de três assoalhadas em que “residem” trinta militantes e com os becos de cinquenta metros onde “moram” mais de cento e cinquenta. É preciso acabar com o espectáculo deprimente e degradante das quotas pagas a granel. É preciso acabar com o clima de fratricídio interno e de suspeição permanente, para deixarmos de corroborar a indicação de Churchill ao sobrinho (temo não ser fácil) acerca da diferença de lugares entre o adversário (que está na outra bancada) e o “inimigo” (que costuma sentar-se ao nosso lado).
É preciso devolver de facto a iniciativa aos militantes e abrir o Partido à Sociedade, sem no entanto o descaracterizar. O Partido Socialista sempre foi e deve continuar a ser um Partido de militantes e não apenas de eleitores. O Partido Socialista é um Partido das bases e não de quaisquer “nomenklaturas” dessas que costumam ver esticados para trinta e mais minutos os três regimentais dos Congressos, não basta apregoar a tão decantada Ética Republicana é preciso praticá-la.
É preciso entrar num Novo Ciclo com um regresso às origens do socialismo democrático e dos seus valores fundacionais e afirmá-lo desta maneira simples e directa, sem complicações pseudo-originais, até porque a força das ideias não está em serem tão “avançadas”, tão “avançadas” que deixem o povo “a ver navios”, transformando-se as pretensas “vanguardas” em apenas “vãs”. E mesmo em certos domínios quando há ideias que se apresentam como boas e originais corre-se o risco das originais não serem boas e das boas não serem originais. Com todo o respeito pelo direito de todos a exprimir as suas não vejo o que ganharia o PS em copiar os “caucuses” dos Partidos americanos. Entre duvidosas cópias e comprovados originais, estes são sempre de preferir.
Liberdade – Igualdade – Fraternidade.
Entre ser socialista e não ser, não há terceiras vias.
Para isso vou, não formoso, que já lá vai o tempo, e com a elevada estima e a muita consideração que me merece o outro candidato, seguro, votar Seguro!

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