quarta-feira, 28 de março de 2012
As Luzes da Psicanálise
Soube há dias, pelos jornais, da morte do Professor Doutor Pedro Formigal Luzes, médico psiquiatra, psicanalista e meu antigo professor de Psicanálise na Faculdade de Letras de Lisboa em meados dos anos 70, algo que só o 25 de Abril, então muito "fresquinho", tornou possível. O Dr.Luzes era um gentleman com um look very british, vestia-se, falava e portava-se como tal, tinha um finíssimo sentido de humor e não deixava de mostrar (estávamos em 1975) algum embaraço em falar abertamente de tal temática num ambiente fortemente feminizado como era (e parece que ainda é) o da Faculdade de Letras, nessa altura com 8000 alunos, dos quais cerca de dois terços eram mulheres e dos restantes uma grande parte não eram bem, bem, homens (dizia-se por graça). O Dr. Luzes tinha a aula cheia, tratando-se de uma cadeira de opção, podendo por isso ser frequentada por alunos de vários cursos e de vários anos. Numa dessas aulas apinhadas emitiu o que chamou de "Aviso à Navegação":
- "Peço desculpa às senhoras e meninas aqui presentes, mas a Psicanálise é mesmo assim - este pedido de desculpas era frequente da sua parte sempre que abordava algum assunto que considerava mais "delicado" - quando virem algum indivíduo num desses automóveis desportivos vermelhos com um grande nariz, a fazer roncar o motor, fujam! Trata-se certamente de um ejaculador precoce".
Foi também numa das suas aulas que assisti a uma das apresentações de trabalho final mais surrealistas (e olhem que foram muitas), a do Abílio, um colega transmontano castiço, que tinha já mais de trinta anos quando o grosso da coluna ainda nem sequer tinha vinte e trabalhava numa Companhia de Seguros, o que era óptimo por causa das fotocópias, que nessa altura não se faziam com a facilidade com que se fazem hoje. O bom do Abílio que tinha um Mini Clubman amarelo - o que na altura não era também comum no ambiente universitário, era ver o Parque de Estacionamento da Cidade Universitária então e hoje - confessava ter ido para Filosofia para "arranjar paleio para engatar gajas" (o que como motivação não está mal, não senhor) e nos dava boleia para a Baixa passando pelas imediações do Técnico onde abrandava, exibindo o cartão da Faculdade e perguntava às putas se "não faziam desconto para estudantes"? Na exposição desse trabalho, já perto do fim do ano lectivo, o Abílio procurou demonstrar as variações da amplitude da excitabilidade feminina durante o orgasmo, perante os ares, atónito do Professor Luzes, surpreso de quem não o conhecia e de puro gozo da "malta da corda" que já o conhecia de ginjeira. Socorrendo-se de gráficos retirados de algum dos inúmeros recém-publicados manuais de sexologia e imitando o docente nas desculpas às "senhoras e meninas" pela eventual incomodidade do tema, que resta saber o que teria que ver com a Psicanálise, mas naqueles tempos (como ainda hoje) ninguém queria dar "parte de fraco", exibiu vários gráficos do "orgasmo feminino no clímax da excitabilidade" e rematou, peremptório, com mestria:
- "Como vêem colegas, é tudo uma questão de curvas"!!!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário