domingo, 15 de abril de 2012

Observatórios



Está agora na berra a constituição de "Observatórios" de vários fenómenos, desde a criminalidade à corrupção, passando pelas relações socio-laborais. Ouvi ainda há pouco uma entrevista radiofónica de Manuel Carvalho da Silva, recém-substituído secretário-geral da CGTP, na qualidade de investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (dirigido por Boaventura de Sousa Santos) e coordenador do Observatório sobre Crise e Alternativas, em que reafirma a necessidade de "observar" e "reflectir" na complexidade dos fenómenos sociais.
Nada tendo contra a "observação" e a "reflexão", antes pelo contrário, não deixo também de observar que, sem cair no registo pascácio daqueles responsáveis políticos que exalaram tiradas como "Deixemo-nos de Filosofias, vamos mas é ao que interessa..." ou "O País a arder e nós para aqui com lições de História...", uma certa mania da "observação" e da "reflexão" sem mais, ou seja uma nova "diagnosticofilia", se está a instalar na sociedade portuguesa onde a acção parece estar completamente tolhida e, mais do que isso, bloqueada.
Mesmo a quem tem, ou é suposto ter, leituras e posicionamentos de raiz marxista,o que é o caso, não ocorre a outrora célebre e constantemente invocada XIª Tese sobre Feuerbach: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo" ou, sendo mais abrangente, das regras do Método cartesiano em que à análise se sucede necessariamente a síntese, dito de outro modo, o diagnóstico é apenas uma condição necessária, mas não suficiente, para a solução dos problemas.
É certo que a "vox populi" há muito que vem salientando a tendência de certos sindicalistas (o que de modo algum é o caso) para a mera "observação" e para "dar as vozes" - que me perdoem timoneiros, mandadores e contra-mestres - enquanto a arraia-miúda se amola e tem uma perspectiva bastante mais "substancial" das situações. A "Sociedade" aparece assim como uma espécie de "gaja boa" (passe o plebeísmo machista) que é mirada e remirada numa atitude de voyeurismo "intelectual", enquanto aos costumes se vai dizendo nada e quem se amola são sempre os mesmos.

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