sábado, 31 de maio de 2014

PS - Um Dilema


Tal como Jorge Jesus reconhece não ser nenhum Eça de Queirós, também não será preciso ser  Maquiavel ou Hobbes para saber que a Moral e a Política raramente se deram bem, quanto mais a (i)moral e a "pulhítica".
É certo que o Partido Socialista emergiu das "Europeias" com um problema, uma vitória muito mitigada num escrutínio que dadas as, para muitas e muitos, trágicas circunstâncias seriam de ter ganho inequivocamente. É certo também que não houve discernimento para gerir os resultados e houve precipitação e dessintonia entre as proclamações e os semblantes. Também é certo que uma autêntico "exército das sombras" aproveitou o ensejo para, à falta de melhor, vir a terreiro, tendo como cabeça de proa o "mui nobre e nem sempre leal" edil de Lisboa, António Costa, reclamar a abertura de um processo eleitoral interno com vista à substituição do Secretário-geral em funções, António José  Seguro, pelo próprio Costa e consequente reviravolta na "nomenklatura" de turno no partido.
A alegação pretextada aponta para os fracos resultados, mas por detrás do arbusto está uma consabida imputação de "fraca figura" a Seguro e à sua "entourage" e a natural sede de poder dos apeados do "socratismo", não porque cheire a derrota nas Legislativas, mas precisamente porque cheira a vitória e é tempo para as tropas se aprontarem para o "business as usual", para o qual estarão hipoteticamente melhor preparadas.
Ora aqui é que "a porca torce o rabo". Se é verdade que a "experiência" é um critério de peso, também não será preciso ser nenhum Kant para ver que ela não é uma virtude em si mesma. Assim, é indubitável que Vale e Azevedo tem experiência de ser presidente do "glorioso", mas já se levantam muitas e fundadas dúvidas acerca da disposição da imensa maioria dos bons chefes de família que constituem a sua massa associativa em vê-lo reocupar o cargo. Outro argumento que se pode vir a revelar-se, pelo menos em parte, falível é o de que terá sido por causa da "palidez" mediática de Seguro que o resultado foi tão pouco expressivo. Não sei se o terá sido em amplitude, obviamente que é verdade que Seguro e, já agora, Assis o cabeça de lista às "Europeias", sendo pessoas estimáveis, não têm, à evidência, o "punch" para enfrentar o "vale tudo" demagógico-vigarístico do tandem Passos/Portas. Nesse campeonato a truculência de Costa marca pontos e aproxima-se mais do estilo emergente do tonitruante do emergente Marinho e Pinto que é preciso conter sob pena de termos para aí um novo "PRD". Mas a sombra de Sócrates continua a pairar, a memória do eleitorado não é assim tão curta, e o apoio declarado pelo "engenheiro da bancarrota" a Costa poderá, mais do que um trunfo, vir a revelar-se um "duque" em "mão" de "sena" triste?
A excelente série britânica "Yes Prime Minister" (made by BBC) expunha com pilhas de acerto a questão que o povo quer ver resolvida. O Reino Unido tem uma confissão religiosa de Estado oficial (Portugal, por exemplo, tem uma "oficiosa"), o Anglicanismo, e quem nomeia os bispos é o Governo de sua Majestade. Tendo-se dado, por morte ou resignação do titular, a vacatura de uma diocese, o Conselho de Ministros estava a decidir quem indicar. Perante todas as propostas expressas houve sempre objecções, um porque era muito conservador, outro porque tinha "affaires" extra-conjugais (os sacerdotes anglicanos não estão obrigados ao celibato e agora até já podem ser mulheres). Enfim, todos tinham ponderosos motivos contra si. Até que o Primeiro-ministro, dando um murro na mesa, exclamou:
- Meus senhores, arranjem lá um que, pelo menos, acredite em Deus !!!
O povo português e também por essa Europa fora, quer é que o Partido Socialista tenha líderes, e sobretudo políticas, que sejam socialistas.
É urgente clarificar a situação e separar as águas:
Congresso pois. Directas já !!!

5 comentários:

quim disse...

Mas até no socratismo, Costa saiu antes da coisa dar para o torto, até mostrando alguma independência, por exemplo, na questão dos professores - o que não o faz associar assim tanto a Sócrates na mente popular. De qualquer forma, pelo menos não o estou a ver a fazer as figuras tristes das abstenções violentas e dos apoios ausentes a moções que censuram o próprio Seguro.

quim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Augusto Batista disse...

O problema, agora é o da escolha. Costa criou uma hipótese de escolha, quando Seguro e entourage já não contavam com isso. Mas, agora o problema é que com Costa veio Sócrates e vieram os "outros". Agora, venha o diabo (Salvo seja) e escolha.
Visto de fora, que é o meu caso, o Seguro tem uma figura e um comportamento que por qq razão que me escapa não é carismático, nem empático, ... Não é "confiável". Mas, só para citar um exemplo o nosso vizinho José Maria Aznar era tudo isto e ganhou.
Mas se o Seguro está seguro dos seus apoios tem medo de quê?
Julgo que os socialistas saberão tudo isto melhor que eu, claro.

imank disse...

A questão não é o Costa estar associado a Sócrates na mente popular, infelizmente é mais funda. É os representantes dos interesses do "centrão" no PS, que os há tanto como no PSD e no CDS, já se estarem a bandear para os "apoios" do costume, prontinhos para reeditar o "regabofe" a que, por facilidade de linguagem, se chama "socratismo".

São disse...

O que me parece ( sem entrar em nomes e tentando só analisar a situação)é que Seguro deveria no momento em que foi desafiado , convocar um Congresso.

Caso contrário está a recusar no Partido aquilo que exige no país e isso a mim, pessoalmente, desagrada-me muito.

E também não gosto de reviravoltas de opinião segundo as conveniências.

Que é um "simpatizante"?

Depois de tudo, se for Seguro a ficar à frente do Partido, eu não votarei PS , lamento muito.

Abraço para vós, meu caro Tó