A postura das várias forças políticas com representação parlamentar nacional e concelhia irá determinar, em grande medida, o resultado dessas mesmas formações nos próximos actos eleitorais de 27 de Setembro (Legislativas) e 11 de Outubro (Autárquicas) que, se bem que sejam eleições diferentes, uma não deixará de influenciar a outra. Aliás, como já está a acontecer com o rescaldo das Europeias, a “grelha de partida” seria diferente se os resultados também o tivessem sido, ainda que a pole position não pareça muito consistente tendo em conta a muito elevada taxa de abstenção.
No entanto, algumas coisas ficaram claras, a política do governo e a péssima escolha do cabeça de lista, prejudicaram seriamente o score do Partido Socialista. Fenómeno idêntico teve idênticos efeitos em partidos congéneres no governo (casos da Grã-Bretanha e da Espanha) e até na oposição (casos da França e da Itália). Mas não foi propriamente a social democracia europeia que perdeu as Eleições, foi uma sua degenerescência, a designada “Terceira Via”.
É que o eleitorado pode ter-se deixado enganar algumas vezes, mas certamente não se deixaria enganar para sempre, e se é para fazer políticas de direita não poderá continuar a ser com os votos da esquerda; por isso, para governar à direita, que venha a própria direita, sem rebuços, nem travestis.
O PPE (Partido Popular Europeu) ganhou as eleições, mas não pode “embandeirar em arco”, uma vez que perdeu mandatos, perdeu foi menos que o PSE (Partido Socialista Europeu); também a Esquerda Unida perdeu mandatos apesar da resistência da CDU portuguesa e do magnífico resultado do Bloco, que não foram acompanhados na Europa; quem ganhou verdadeiramente foram formações algo “esdrúxulas” por comodidade “encaixadas” à pressa na “extrema-direita”, mas que não correspondem a este perfil “clássico”, muitas têm mesmo variações “fracturantes”, com no caso do holandês Geert Wilders, aliás já não sendo novidade, na esteira afinal do malogrado Pym Fortuyn; formações que “casam” a xenofobia com a defesa de minorias, como os homossexuais e vêm “baralhar” o esquema e mesmo Berlusconi, também não faz propriamente a imagem do “conservador” (pelo menos e se mais não houvesse, a avaliar pelas fotos das sua mais recentes “férias” divulgadas pelo insuspeito “El País”).
Também outras novidades menos “políticas” como o Partido Pirata sueco, ou “dinossauros” da “Revolução”, agora convertidos à causa verde, como o “eterno” Cohn Bendit conseguiram resultados assinaláveis.
Digamos que as formações políticas tradicionais sofreram um forte rombo em favor de uma aparente “tropa fandanga” de formações de pendor reactivo, típica das épocas de confusão e crise e bem menos simpáticas que os fenómenos de um passado recente como a Cicciolina ou o Partido dos Bebedores de Cerveja polaco, que já se diluíram na “espuma dos dias” (ou das noites).
Alguma coisa também será de aprender, mas infelizmente pouco costuma sê-lo, com a elevadíssima taxa de abstenção por toda a UE e com o elevado número de votos brancos e nulos.
Penso que no entanto, até às próximas “lágrimas de crocodilo”, nula vai ser a consideração que lhes será devotada.
Por cá temos uma “Encruzilhada” que nos toca, como barreirenses, de muito perto e que envolve vários tipos de comboios e vias-férreas (um de Alta Velocidade e outros de normal tipologia), um Aeroporto Internacional e sobretudo uma Ponte que é suposto servir tudo isto e que nos serviria que nem “ginjas”, que nos possibilitaria quebrar um isolamento injusto e já secular e de certo modo nos “indemnizaria” por século e meio, ou mesmo muito mais, pois quem ler o excelente Caro Proença dar-se-á conta de que o hardware das Descobertas esteve por cá instalado, mas os Jerónimos e a Torre de Belém são lá, na outra margem.
Para além do óbvio potencial de desenvolvimento e reequilíbrio territorial que esse equipamento acarretaria na ordem do desenvolvimento interno do todo nacional e na correcção das mais próximas assimetrias regionais, como são as que se verificam entre as Margens Norte e Sul do Tejo no contexto da própria Área Metropolitana de Lisboa.
Das forças políticas presentes no actual quadro concelhio por exemplo, mas também a nível nacional, duas assumem uma posição coerente: o PS e a CDU, e ao contrário dos tempos da decisão da localização da que veio a ser a Ponte Vasco da Gama, não há hesitações, nem divergências entre os discursos nacional e local.
O presidente da CMB, Carlos Humberto, tem defendido a Ponte com todas as valências, de uma forma denodada e firme, mas serena, esclarecida e assertiva, sem bairrismos e com toda a racionalidade argumentativa; o mesmo tem feito o Secretário de Estado e Deputado Municipal, Eduardo Cabrita, com o seu habitual brilhantismo tribunício e um acervo de razões substancial e que estão claramente muito para além das do coração, que são também notórias; afinal “quem não se sente, não é filho de boa gente”.
Já o PSD e o Bloco terão sérias dificuldades para explicar aos Barreirenses o desconchavo das opções das suas direcções nacionais e estão naquela situação incómoda de “não poder servir a dois senhores” (ou senhoras).
Parece-me evidente que para ganhar votos entre a classe média e média alta alfacinha, há uma disputa que pesca nas mesmas águas sociais com respostas políticas diferentes e se o PSD (e o CDS) já “mataram” a questão optando pela bourgeoisie olissiponensis que não ver mais Pontes, nem pintadas, a não ser claro uma hipotética Algés-Trafaria, quer a direcção do PSD, quer o candidato Santana Lopes, em nome das “gerações futuras” (das deles claro, não das nossas que também terão direito à mobilidade), já se pronunciaram frontalmente contra os grandes projectos.
Temos idade e experiência para saber que, num país com o historial do nosso, a rejeição deste tipo de obras costuma redundar apenas no seu não usufruto e os réditos da opção costumam ser como Braga vista por um canudo.
Já o Bloco está numa grave encruzilhada, pois o seu potencial de crescimento nesta “Banda” que, a avaliar pelas europeias, parecia simpático e promissor, estará seriamente comprometido, façam os elementos locais a ginástica argumentativa que fizerem, se, nesta disputa entre “índios” e os cowboys do costume se puser do lado dos aspirantes a Sheriff.
É que este é um assunto sério de mais para os barreirenses para ficar refém do tipo de discurso e de opção que parece manietar o Bloco – o “politicamente correcto” e um apego algo fundamentalista a uma “Ecologia do Absurdo” que cria mais do que prisma de análise para fenómenos semelhantes e um relativismo de que nós, barreirenses, fartos de ser “índios”, estamos cansados e se manifesta sempre que se vislumbra uma ténue possibilidade de não nos limitarmos a ficar confinados à “reserva”.
É que, assim, estarão involuntariamente a dar razão aquele já vetusto texto de Álvaro Cunhal, “Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista” que, por sua vez, é uma paráfrase de um outro de Lenine, “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo” e eu não quero crer que assim seja, mas infelizmente em política, como toda a gente sabe, o que parece é!