segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Queda do Muro


A efeméride do dia são os vinte passados desde a "Queda" do Muro de Berlim que simboliza, mais ou menos consensualmente, o fechar de pano da século XX. Havendo até quem tenha, com pretensões "hegelianas" e de forma rídicula, diga-se de passagem, querido ir mais longe e testemunhado o momento do "Fim da História".
Já ao tempo, eu que sou pouco dado a "crendices", tive a então estranha sensação de que estavam a ser deitados "foguetes antes da festa". É claro que entendi perfeitamente a euforia dos alemães, sobretudo dos de Leste, ao verem a sua pátria reunificada e a ditadura "comunista" perto do fim tornando possível o acto, para nós banal, de comprar bananas que me lembro de terem sido os primeiroa bens de consumo a serem "devorados" pelos Ossies em justificado delírio.
Mas parece que a euforia não durou muito e percebe-se porquê: se a teleologia "comunista" faliu e os "amanhãs que cantavam" foram de facto "ontens" muitíssimo duros, não é menos verdade que a "religião" do mercado erigida em pensamento único pelos que se apressaram a decretar a "morte das ideologias" (todas menos a sua é claro) não revelou, antes pelo contrário, uma "terra de leite e mel" e o mundo pós "Guerra Fria" evoluiu para um sem número de guerras quentes.
É que a História costuma ser teimosa e recusa-se a acatar "decretos" imbecis.
Duas décadas depois, o Mundo está pior - é uma evidência - menos próspero, menos seguro, menos habitável.
O capitalismo liberto do "socialismo real" (que, apesar de tudo, o continha "em respeito") tomou o "freio nos dentes" e (re)começou um galope à desfilada; muitas conquistas que custaram imenso sangue, suor e lágrimas (horários de trabalho, Estado social) estão a regredir a olhos vistos para práticas próximas das do século XIX no "mundo desenvolvido", pois no "Terceiro Mundo" é a total e absoluta escravatura (sobreexploração e trabalho infantil, sem direitos, nem quaisquer condições, por uma "malga de arroz") em nome de uma sacrossanta "globalização" que parece só se aplicar à ganância e à infame rapacidade da exploração desenfreada e do lucro a qualquer custo, desde que não custe a quem o "empocha", como é óbvio.
Surgiu em cena toda uma "retórica" politicamente correcta dos "direitos humanos" que, em muitos casos, serve para aquilo que Marx, que ao contrário dos apressados epitáfios está mais vivo do que nunca, disse que servia a "ideologia" - para representar a realidade de "pernas para o ar".
É nisso que converge todo o poder da "Matrix" - criar a ilusão do "melhor dos mundos" na "aldeia global", imbecilizar e empaturrar de veneno, desde a alimentação à economia, passando pelos media, a vida da "mundo industrializado" e prosseguir o saque do restante (que até já vai dando algum "troco" através do terrorismo, agora também global, que apenas vitima inocentes); "socializar" as agruras, privatizar as "delícias".
Vender fancaria em low cost enquanto valer a pena, ir de "Protocolo" em "Protocolo" até ao colapso ambiental cuja presença é indisfarçável através das alterações climáticas, tão súbitas e drásticas que uma curta vida humana é suficiente para as verificar.
Havia nos idos de 70 do "século passado" uma expressão curiosa acerca do mundo, então bipolar, que denunciava a falsa alternativa entre "a miséria do quotidiano" e o "quotidiano da miséria".
Ora, nunca como hoje estivemos tão totalmente imersos na primeira e ameaçados pela segunda!

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