As posições (ainda mais) neoliberais assumidas pela actual direcção do PSD em relação ao corte da despesa pública, o que, por deliberada falta de racionalidade, acabará por significar redução e pauperização das funções sociais do Estado (Saúde, Educação, Segurança Social) soam a Sócrates como "música celestial" e são mesmo uma espécie de "seguro de vida" para a sua "Esquerda Moderna" (uma espécie de "Terceira Via" de trazer por casa). Serão assim como um bico de Bunsen e em matéria de "preservação do Estado Social", no temor de que "atrás de mim virá, quem de mim bom fará", dar-lhe-ão imenso gás.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Que Praga: "Escusavas de ouvir isto" ou o Ocaso da Diplomacia
O Senhor Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva com uma comitiva de cerca de cem (!!!) pessoas, encontra-se retido em Praga, após uma visita oficial à República Checa, por causa da suspensão dos voos em consequência da nuvem de cinzas do vulcão islandês (primeiro "explodiram" as Finanças deste pequeno e habitualmente próspero país e agora "acordou" um vulcão que "dormia" há mais de trezentos anos - isto é que vai uma crise!).
Durante a recepção oficial ao nosso Presidente, o anfitrião, o Presidente checo Vaclav Klaus (que saudades de Vaclav Havel), referiu-se por duas vezes, publicamente, na presença do convidado e em tom de chalaça, ao deficit das contas públicas portuguesas, dizendo que o do seu país é muito menor e, ao contrário dos portugueses que parecem felizes da vida, os checos andam muito preocupados.
Ora, isto num contexto de visita de Estado ao mais alto nível, é como se eu me dirigisse a um amigo que com a mulher viesse, a meu convite, jantar a minha casa e dissesse ao recebê-los, alto e bom som:
- Ena pá, como a tua mulher está gorda!
Mas nos tempos que correm já nada é de admirar e ao jeito daquele comentador desportivo que disse a propósito do futebol húngaro - "É um futebol mágico, o que não admira, afinal são magiares"- também destes checos tudo será de esperar.
Afinal são uns gajos que passam a vida na Boémia!!!
Ora, isto num contexto de visita de Estado ao mais alto nível, é como se eu me dirigisse a um amigo que com a mulher viesse, a meu convite, jantar a minha casa e dissesse ao recebê-los, alto e bom som:
- Ena pá, como a tua mulher está gorda!
Mas nos tempos que correm já nada é de admirar e ao jeito daquele comentador desportivo que disse a propósito do futebol húngaro - "É um futebol mágico, o que não admira, afinal são magiares"- também destes checos tudo será de esperar.
Afinal são uns gajos que passam a vida na Boémia!!!
quarta-feira, 14 de abril de 2010
As Folgas da Laicidade
O Estado português é formalmente laico, mas devido a uma velha questão cultural (eu, apesar de agnóstico, não me integro propriamente na "brigada dos caça-crucifixos") acaba por estar muito ligado às tradições católicas, o que não é de espantar. Ainda por cima e como foi magistralmente expresso por uma cantiga do malogrado Carlos Paião: "Viva o Santo António, viva o S. João, viva o 10 de Junho e a Restauração" - no que toca a feriados somos muito ecléticos e, até positivistas, não queremos saber da genealogia do feriado, aceitamo-lo como um facto e toda a gente sabe que "contra factos não há argumentos".
Aliás, em tudo isto há um fundo semiótico que se pode apurar pela hermenêutica dos signos envolvidos. Ora vejamos: Igreja provém do latim Ecclesia, que gerou os designativos "eclesiástico" e "eclético" que significa "inclusivo, "abrangente". Por isso, não será de espantar e não há como recusar as três "tolerâncias de ponto" (outra especificidade luso-eufemística que significa que nem mesmo o mais empedernido dos intolerantes "lá" - entenda-se no "emprego" - porá os pés, os cotos, o traseiro ou sequer o pensamento, pelo menos até à noite da véspera de ter de regressar). Ora bem, tal como os gostos, os feriados não se discutem. Aceitam-se e pronto, são uma benigna fatalidade, são mesmo a nossa "cruz", assim levezinha e fácil de carregar como aquelas miniaturas que alguns fiéis (não os filipinos, que aí "fia fininho") levam às costas na Via Sacra.
É por essas e por outras, que há muito proponho a criação da IEU (Igreja Ecuménica Universal) em que às sextas somos muçulmanos, ao sábado judeus e ao domingo católicos, o nosso único dogma é não sermos dogmáticos e trataremos de acertar um vasto programa de visitas de dignitários de todas as fés, que poderá incluir o Grande Mufti do Cairo, os Grandes Patriarcas de Moscovo e Constantinopla (em dias separados, claro), o Grande Ayatollah de Teerão, o Dalai Lama e, para os chineses não se chatearem, o Panchen Lama, o Grande Rabi de Jerusalém e mesmo o Rais copta de Adis Abeba e em todas elas haver, pelo menos, um diazinho de "tolerância de ponto" para demonstrar que somos um povo tolerante, hospitaleiro (menos nos hospitais propriamente ditos) e totalmente aberto à pluralidade multicultural, conquanto implique feriado.
Comprometemo-nos ainda, como na velha série inglesa "Yes Prime Minister", a tentar nomear bispos que preferencialmente acreditem em Deus (o que, nos tempos que correm, convenhamos que não é fácil).
É nestas alturas que até o próprio Sócrates que, nisto como noutras matérias, tem credenciais firmadas (já foi visto a benzer-se em público), acaba por revelar a sua grandeza como homem integral, dando público testemunho de crer que "há mais vida para além da morte" e, evidentemente, das "mixuriquices" economicistas do PEC.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
"Não Pagamos"
Entre Setembro de 84 e Julho de 86, dois anos lectivos portanto, estive em Abrantes a fazer o meu estágio, ou como se chamava na altura, "Profissionalização em Exercício", passava, então como ainda agora, a "vida" na Escola e estando na Sala dos Professores a rever uns papéis para uma aula, reparei em dois sujeitos engravatados que montavam uma exposição de livros para venda, daqueles grandes e com encadernações de "encher a estante", das que se conta que os "patos-bravos" encomendavam a metro. Nisto, ouço um sonoro e bem pronunciado "Senhor doutor", que dá logo para desconfiar, pois quando um "prof" do Secundário é chamado assim tão por extenso por "doutor" será certamente e no mínimo, porque alguém lhe quer vender alguma coisa e não me enganei, um dos vendedores dirigiu-se a mim (a "vítima" disponível) e indagou:
- Então que disciplina é que o senhor doutor lecciona?
Respondi, tranquilamente:
- Filosofia, sou professor de Filosofia.
Os homens olharam um para o outro com esgares de alguma perplexidade e um deles respondeu, quase tartamudeando:
- Sim, sim, temos aí umas obras muito jeitosas de "Ciências Ocultas"!
Os vendedores de livros sabem pelo menos alguma coisa que os alunos e muitos pais e até jornalistas e de um modo geral, quem está interessado, vá-se lá a saber porquê, em apoucar o estatuto social dos "profes" (outra fórmula que traduz bem o aforismo de Beauvoir - "há palavras que matam" e outras que não matando, moem) - não sabem ou fingem não saber, que o neologismo, chamemos-lhe assim, "setor" resulta da contração dos termos, pelos vistos demasiado "clássicos", "senhor" e "doutor".
Se formos para outros sectores de actividade - a justiça, a saúde ou a política, onde toda a gente é, a priori , "doutor", mesmo que "da mula ruça", veremos que o termo usado é "sôtor" - como ficou paradigmaticamente patenteado no célebre debate Soares/Cunhal de 6 de Novembro de 75, cujo momento alto passou para a história como tendo sido:
- Olhe que não ("sôtor"), olhe que não!
Aliás, nesta matéria é de registar uma diferença, ainda assim substancial, entre Coimbra (a lusa cidade dos "doutores") e o Brasil. Em Coimbra para ser tratado por "doutor" é preciso usar gravata, se um sujeito engravatado se sentar a uma mesa de um café, logo o empregado perguntará:
- E o senhor doutor o que vai tomar?
No Brasil basta andar calçado, você entra numa "birosca" e logo aparecerá um moleque gritando:
- Engraxa doutô?
Claro que há situações em que o simples e prosaico "doutor" ou equivalente - "engenheiro", "arquitecto" - já não é suficiente - são conhecidos os casos do catedrático de Letras que chamado de "doutor" por uma aluna de pós-graduação se dirigiu a ela, furibundo, dizendo: "Dótoura é você, que aqui não passa de uma reles sopeira" ou do catedrático do Técnico que quando algum aluno o tratava displicentemente por "engenheiro", respondia enfadado: "Engenheiro será o senhor, se eu quiser"!
Temos então e ainda o "Professor Doutor", o "Professor Engenheiro" e o "Professor Arquitecto".
Vêm-me à memória aquela badalada situação em que sendo Ministro da Educação (que, à época, incluia o ensino superior) o eng.º Couto dos Santos e tendo-lhe um grupo de estudantes exibido os traseiros onde estava escrito em friso: "Não Pagamos" - (as propinas, entenda-se, que aumentaram imenso desde então) e uma "cantiga de mal dizer" que publiquei então a propósito:
Oh jovens de acto insurrecto
Que sorte tivésteis vós
É que ao expor assim o recto
E por ver tanto traseiro
O Couto que é engenheiro
Ia virando arquitecto
- Então que disciplina é que o senhor doutor lecciona?
Respondi, tranquilamente:
- Filosofia, sou professor de Filosofia.
Os homens olharam um para o outro com esgares de alguma perplexidade e um deles respondeu, quase tartamudeando:
- Sim, sim, temos aí umas obras muito jeitosas de "Ciências Ocultas"!
Os vendedores de livros sabem pelo menos alguma coisa que os alunos e muitos pais e até jornalistas e de um modo geral, quem está interessado, vá-se lá a saber porquê, em apoucar o estatuto social dos "profes" (outra fórmula que traduz bem o aforismo de Beauvoir - "há palavras que matam" e outras que não matando, moem) - não sabem ou fingem não saber, que o neologismo, chamemos-lhe assim, "setor" resulta da contração dos termos, pelos vistos demasiado "clássicos", "senhor" e "doutor".
Se formos para outros sectores de actividade - a justiça, a saúde ou a política, onde toda a gente é, a priori , "doutor", mesmo que "da mula ruça", veremos que o termo usado é "sôtor" - como ficou paradigmaticamente patenteado no célebre debate Soares/Cunhal de 6 de Novembro de 75, cujo momento alto passou para a história como tendo sido:
- Olhe que não ("sôtor"), olhe que não!
Aliás, nesta matéria é de registar uma diferença, ainda assim substancial, entre Coimbra (a lusa cidade dos "doutores") e o Brasil. Em Coimbra para ser tratado por "doutor" é preciso usar gravata, se um sujeito engravatado se sentar a uma mesa de um café, logo o empregado perguntará:
- E o senhor doutor o que vai tomar?
No Brasil basta andar calçado, você entra numa "birosca" e logo aparecerá um moleque gritando:
- Engraxa doutô?
Claro que há situações em que o simples e prosaico "doutor" ou equivalente - "engenheiro", "arquitecto" - já não é suficiente - são conhecidos os casos do catedrático de Letras que chamado de "doutor" por uma aluna de pós-graduação se dirigiu a ela, furibundo, dizendo: "Dótoura é você, que aqui não passa de uma reles sopeira" ou do catedrático do Técnico que quando algum aluno o tratava displicentemente por "engenheiro", respondia enfadado: "Engenheiro será o senhor, se eu quiser"!
Temos então e ainda o "Professor Doutor", o "Professor Engenheiro" e o "Professor Arquitecto".
Vêm-me à memória aquela badalada situação em que sendo Ministro da Educação (que, à época, incluia o ensino superior) o eng.º Couto dos Santos e tendo-lhe um grupo de estudantes exibido os traseiros onde estava escrito em friso: "Não Pagamos" - (as propinas, entenda-se, que aumentaram imenso desde então) e uma "cantiga de mal dizer" que publiquei então a propósito:
Oh jovens de acto insurrecto
Que sorte tivésteis vós
É que ao expor assim o recto
E por ver tanto traseiro
O Couto que é engenheiro
Ia virando arquitecto
terça-feira, 6 de abril de 2010
Metadona
Não sei se estão lembrados do Sócrates inaugural, no "avatar" de "animal feroz", a "jurar pela pele" dos lobbies e das "corporações". Ora, essa "guerra" verbal começou precisamente, ainda em 2005, pelo lobby das farmácias, seguiram-se, nas ameaças, os juízes e restantes magistrados, o pessoal de saúde, os militares, os polícias e os professores, e, já agora , todos os funcionários públicos ("esses malandros"). Claro que tudo isto não passou, em grande parte, de uma encenação para criar lastro para uma verdadeira "campanha negra" contra apenas alguns dos grupos enumerados, precisamente os mais frágeis, ou seja, aqueles (e ainda dizem que Marx está "morto") em que há um grande "exército de reserva", por isso, foram seleccionados os professores e entre o pessoal de saúde, especialmente os enfermeiros, para além dos funcionários públicos indiferenciados.
Alíás, a ideia era mesmo essa desde o início, é a chamada táctica da "argamassa" e do "salame", ou seja, meter tudo no mesmo "saco" para depois cortar às "fatias" e "comer" só as que interessam.
Isto a propósito de duas "desistências" confessadas pela Ministra da Saúde - o abandono do medicamento vendido em "unidose" e a confissão de que os cerca de 800 mil cidadãos sem médico de família assim irão permanecer.
É de tal sorte que foi o que se viu: a exploração das tão decantadas farmácias hospitalares foi entregue ao "inimigo" - a Associação Nacional de Farmácias e como "quem com ferros mata, com ferros morre", da parte das magistraturas é o deixar cair constante e a conta-gotas dos "podres" do Primeiro-ministro y sus muchachos, que estão muito longe de serem "flores que se cheirem", provando que "quem tem telhados de vidro, não deve andar à pedrada". Já o senhor bastonário da Ordem dos Médicos vem agora dizer que os médicos de família estão todos, no mínimo, a dobrar a casa dos cinquenta, ou seja, é um grupo essencialmente constituído pela última geração de profissionais, e bons, que não estiveram sujeitos à pressão diabólica da autêntica "blindagem" no acesso às Faculdades de Medicina e em que o Governo não mexe. A indústria farmacêutica continua a vender caixas de sessenta comprimidos a quem só precisa de seis. Qual a família portuguesa que não tem em casa uma autêntica "farmácia" de excedentes a que é preciso passar revista de ano a ano para verificar os prazos?
Um Governo que anuncia medidas sem sequer ter a intenção clara de as pôr em prática e passa a vida a "encanar a perna à rã" até dobrar o "cabo" das eleições e depois se limita a "deixá-las cair" por súbita consciência da sua impraticabilidade, quer dizer, não apenas da cedência, mas mesmo da objectiva mancomunação com os interesses dos verdadeiros lobbies e das reais corporações, cai na mais rasteira das demagogias e pelos vistos falha em toda a linha, se não outro galo (e, já agora, outro PEC) cantariam.
Moral da história: em "unidose" só mesmo a metadona!!!
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