O Estado português é formalmente laico, mas devido a uma velha questão cultural (eu, apesar de agnóstico, não me integro propriamente na "brigada dos caça-crucifixos") acaba por estar muito ligado às tradições católicas, o que não é de espantar. Ainda por cima e como foi magistralmente expresso por uma cantiga do malogrado Carlos Paião: "Viva o Santo António, viva o S. João, viva o 10 de Junho e a Restauração" - no que toca a feriados somos muito ecléticos e, até positivistas, não queremos saber da genealogia do feriado, aceitamo-lo como um facto e toda a gente sabe que "contra factos não há argumentos".
Aliás, em tudo isto há um fundo semiótico que se pode apurar pela hermenêutica dos signos envolvidos. Ora vejamos: Igreja provém do latim Ecclesia, que gerou os designativos "eclesiástico" e "eclético" que significa "inclusivo, "abrangente". Por isso, não será de espantar e não há como recusar as três "tolerâncias de ponto" (outra especificidade luso-eufemística que significa que nem mesmo o mais empedernido dos intolerantes "lá" - entenda-se no "emprego" - porá os pés, os cotos, o traseiro ou sequer o pensamento, pelo menos até à noite da véspera de ter de regressar). Ora bem, tal como os gostos, os feriados não se discutem. Aceitam-se e pronto, são uma benigna fatalidade, são mesmo a nossa "cruz", assim levezinha e fácil de carregar como aquelas miniaturas que alguns fiéis (não os filipinos, que aí "fia fininho") levam às costas na Via Sacra.
É por essas e por outras, que há muito proponho a criação da IEU (Igreja Ecuménica Universal) em que às sextas somos muçulmanos, ao sábado judeus e ao domingo católicos, o nosso único dogma é não sermos dogmáticos e trataremos de acertar um vasto programa de visitas de dignitários de todas as fés, que poderá incluir o Grande Mufti do Cairo, os Grandes Patriarcas de Moscovo e Constantinopla (em dias separados, claro), o Grande Ayatollah de Teerão, o Dalai Lama e, para os chineses não se chatearem, o Panchen Lama, o Grande Rabi de Jerusalém e mesmo o Rais copta de Adis Abeba e em todas elas haver, pelo menos, um diazinho de "tolerância de ponto" para demonstrar que somos um povo tolerante, hospitaleiro (menos nos hospitais propriamente ditos) e totalmente aberto à pluralidade multicultural, conquanto implique feriado.
Comprometemo-nos ainda, como na velha série inglesa "Yes Prime Minister", a tentar nomear bispos que preferencialmente acreditem em Deus (o que, nos tempos que correm, convenhamos que não é fácil).
É nestas alturas que até o próprio Sócrates que, nisto como noutras matérias, tem credenciais firmadas (já foi visto a benzer-se em público), acaba por revelar a sua grandeza como homem integral, dando público testemunho de crer que "há mais vida para além da morte" e, evidentemente, das "mixuriquices" economicistas do PEC.
2 comentários:
Muito bom e esclarecedor... Boa Tozé. Abraço. Rui Curto.
Olá Compadre:
Parece que o próximo dia 13 à pala do Papa, tá no papo!!!
Um abraço,
Tozé
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