quinta-feira, 28 de março de 2013

Detrás do Arbusto


Segundo Sócrates "desabafou" na entrevista de ontem, 27 de Março, à RTP,  Cavaco foi "a mão por detrás do arbusto" que conspirou para derrubar o seu Governo. Assim e numa primeira abordagem à lógica interna do discurso, poderá perguntar-se que faria Cavaco escondido em tal posição? Estaria agachado? Sendo um homem alto é natural que assim estivesse.
Nisto da topologia arbóreo-herbácea podemos considerar uma axiomática dos lugares relativos em que, dada uma conceptualização espacial para-quântica, não é possível dissociar o observador do observado. Por exemplo: a parte da frente da árvore será sempre aquela em que mija o cão, enquanto a parte de trás será sempre aquela onde mija o homem. Quanto aos arbustos, por serem de menores dimensões e de copa mais rasteira, estar "por detrás do arbusto" poderá evidenciar a ocorrência de necessidades políticas de maior solidez.
Cavaco, depois de ouvir a acusação do parisien retourné, é bem capaz de ter ficado a roer alfarrobas e a cuspir as sementes (que, por sinal, são rijas como cornos). Só lhe fará bem, dadas as propriedades anti-diarreicas dessa vagem (é isso e tremoços), o seu consumo regular evitará ter, de futuro, que recorrer a posições menos próprias como, por exemplo, estar de cócoras atrás de arbustos.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Pontaria (A Propósito de Alegados "Princípios Absolutos")


Saliente-se a "pontaria" argumentativa de Paulo Portas em missão diplomática no Japão, quando declara que o confisco de depósitos bancários ordenado pela Troika em Chipre não se enquadra no "espírito europeu" que se rege pelos "valores ocidentais" (o que vale é os japoneses já não ficam com os "olhos em bico"). A propósito do mesmo assunto também Rajoy, durante o encontro com Hollande,  veio fazer profissão de fé na "confiança bancária" como sendo um "valor absoluto" da União Europeia. 
Valor absoluto?! Então para os cipriotas não era também um "valor absoluto" e para os portugueses, gregos e irlandeses (e também, de certo modo, espanhóis e italianos e os que virão a seguir) os salários, as pensões, os subsídios e a estabilidade fiscal não se enquadravam dentro desses tão proclamados "valores absolutos" cuja observância seria garantida pelo Estado como "pessoa de bem"?!
Ou será que contra factos não há argumentos e o que vale é apenas a lei do mais forte e o salve-se quem puder?
A invocação do "estado de necessidade" costuma ter as costas suficientemente largas para justificar todo o tipo de arbitrariedades mas, neste caso, até aos costumes se tem dito nada.
Na verdade, como disse o "velho" Marx, "tudo o que é sólido se dissolve no ar".
O resto é apenas cinismo...

sábado, 16 de março de 2013

A "Casca de Banana" (a Propósito de uma Efeméride)




Passaram trinta e nove anos sobre o chamado "Golpe das Caldas", em 16 de Março de 74, numa altura em que eram esperadas várias iniciativas deste género (discutia-se se seria de "esquerda" ou se dos "ultras" - Kaúlza andava nas "bocas do mundo"), uma coluna militar saiu das Caldas da Rainha com destino a Lisboa com o intuito aparente de dar um Golpe de Estado. O movimento não foi secundado e o Regime facilmente dominou a revolta e aprisionou os seus autores, militares spinolistas, que vieram a ser libertados cerca de quarenta dias mais tarde na sequência do 25 de Abril.
O professor José Hermano Saraiva numa das suas últimas entrevistas, talvez mesmo a última, faz uma curiosa interpretação desses acontecimentos (lembro-me da jornalista entrevistadora ter ficado visivelmente nervosa e ter passado sobre o assunto como gato sobre brasas). É certo que o velho professor se tornou conhecido pelas suas versões, no mínimo, pouco ortodoxas de factos históricos, que até lhe valeram algumas "excomunhões" (estou a recordar-me de uma vez em que foi "proscrito" de Guimarães por ter alvitrado que, afinal, a primeira capital do Reino fora Coimbra). Neste caso porém a memória está demasiado fresca e ele foi uma testemunha privilegiada, tendo sido Ministro da Educação de Marcelo Caetano, por quem não nutre especial simpatia,  tendo-o este mesmo substituído no cargo por Veiga Simão e nomeado Embaixador no Brasil, onde, aliás, se encontrava à data quer do 16 de Março, quer do vitorioso 25 de Abril. Disse, sem papas na língua, que o "Golpe das Caldas" fez parte de uma urdidura entre Marcelo Caetano e Spínola com o propósito de "abrir" o regime limpando-o dos ultras,  para se desenvencilharem em especial do seu chefe de fila, o então Presidente da República, Almirante Américo Tomás, que após o tombo de Salazar tinha, ao que parece, abandonado o seu proverbial low profile e deixado de ser "verbo-de-encher" e mero "corta-fitas". A coisa teria passado por ter sido Marcelo Caetano o verdadeiro autor do  livro "Portugal e o Futuro", assinado por Spínola e caído como uma bomba no "pacato" (e sonso, diga-se de passagem) milieu político do stablishment nacional (Hermano Saraiva duvida da capacidade do velho general de cavalaria para ultrapassar o "peido e coice" e escrever o que quer que fosse). Para levar avante esse desiderato terão acertado encenar uma quartelada para destituir o "cabeça de abóbora" (Almirante Tomás) e substituí-lo pelo General Spínola. Para isso precisavam do apoio do "Movimento dos Capitães", futuro MFA, que terá sido prometido, mas que no dia da verdade acabou por deliberadamente "roer a corda" para se livrarem deles e ficarem com as mãos soltas para fazer o seu próprio golpe, sem empecilhos, que viria (e ainda bem) a ser o 25 de Abril.
Assim se poderá explicar a reacção assertiva, como agora se diz, dos capitães quando Spínola mandou dizer à Cova da Moura (Posto de Comando do MFA) que se "tinha acabado a brincadeira"):
- "Pois acabou meu general. Não se esqueça que quem fez a Revolução fomos nós!"
Spínola havia de se "esquecer" por duas vezes - em 28 de Setembro de 74 e em 11 de Março de 75.
Só não entendo a razão para que, num País tão dado a "mitologias", onde o "Caso Camarate" anda às voltas há mais de trinta anos, se deixe este outro caso tão sossegado e aparentemente ninguém, à excepção da modesta pessoa do escrevedor destas linhas, ligue a esta suculenta pista deixada pelo velho e castiço historiador. 
Se calhar ainda é cedo para mexer na génese da IIIª República, mesmo que pela porta da petite histoire.
É que os mitos costumam ser muito sensíveis e o melhor é deixá-los em paz (nem que seja na paz dos cemitérios)...

domingo, 3 de março de 2013

O Retorno do Social-Fascismo (Agora Sem o "Social")






Depois dos dislates, reveladores quanto ao grau de "sensibilidade" social e, já agora, sensatez política, do Primeiro-ministro e de outros membros do Governo com os "piegas", o convite aos jovens para emigrarem e abandonarem as suas "zonas de conforto", vieram as Jonets com os "bifes" (que afinal eram de cavalo), os Ulrichs com o "aguenta, aguenta" e,  "last (até ver) but not least", o dr. João Salgueiro com a proposta de constituição de uma espécie de Brigadas de Trabalho integradas por "doutores e engenheiros", presume-se que mais ou  menos jovens e desempregados para "trabalhar nas obras" e "limpar matas". Quanto às "obras" não sei de que "obras" estará a falar, pois as obras públicas (e mesmo as privadas) estão praticamente paradas e o desemprego nos profissionais do sector já é elevadíssimo. Quanto às "matas" pergunta-se se  será necessário um tão elevado nível de qualificação para o fazer, se o investimento feito na formação de quadros será rentabilizado nessa tarefa. 
Nada tenho, antes pelo contrário, contra o trabalho braçal e o seu exercício não fará "cair os parentes na lama " de quem quer que seja. Discuto apenas a razoabilidade do seu cometimento a este tipo de profissionais quando a jusante há muito mais mão de obra disponível. Infelizmente o desemprego em Portugal não se limita ao de "licenciados" (e mestres e doutores), sendo esse grupo mais um a somar a todos os outros. Não gosto de fazer processos de intenção, mas no caso concreto, vindo de quem vem - um muito conceituado e experiente economista, que começou a sua carreira ainda "jovem turco" na velhice do Estado Novo como Subsecretário de Estado de Marcelo Caetano, esteve na fundação da SEDES, tendo posteriormente sido Ministro das Finanças do Governo de Pinto Balsemão, sendo também um conhecido banqueiro público, tendo passado pelo cargo de Vice-governador do Banco de Portugal e presidido ao Banco de Fomento Nacional e à Caixa Geral de Depósitos (de que é aposentado com cerca de 30 salários mínimos), presidiu ainda à Associação Portuguesa de Bancos. Também foi ele que no Congresso do PSD da Figueira da Foz, foi subitamente "atropelado" pelo automóvel novo de Cavaco que lá foi para  fazer a "rodagem" e deixou Salgueiro apeado. É rodado de mais para "naif". Das duas uma: ou é mais um "soundbyte" para encher entrevistas ou é uma posição "ideológica" do tipo "vão ver o que a vida custa". Mas, meu caro senhor, estes jovens já o estão a saber por terem que aceitar ser caixas de supermercado ou operadores de "call center", sobre-explorados, sub-remunerados, tendo, na melhor das hipóteses, que emigrar, fazendo de Portugal um "case study" de paradoxo ao vivo, vivendo "acima das suas possibilidades" mas mesmo assim "abaixo de cão", como um manifestante oportunamente lembrava em cartaz artesanal na  Manifestação "Que se Lixe a Troika". Um país em declínio populacional, com um acentuado envelhecimento e que, ainda assim, exporta população, demais a mais, qualificada (como no exemplo que citou dos "engenheiros e professores de matemática" da Ucrânia, mas como muito menos "massa crítica") e em quem investiu vastos recursos na qualificação de que outros vão aproveitar.
Por outro lado, é curioso ver a evolução dessa recorrente "proposta" da "limpeza de matas" - quem está atento aos Fóruns da comunicação social (como os da TSF) e das várias estações de televisão ("Opinião Pública" e outros) verificará que ela é mais popular entre taxistas e comerciantes do Bolhão (que me desculpem os visados pela, quiçá injusta, estereotipia) do que entre economistas (se fizermos excepção de ocasionais dromedárias criaturas como um tal Camilo Lourenço, que botando habitualmente discurso economês - mas também agora quem o não faz? - parece que é jurista de formação). Podemos também verificar que a "proposta", assim ao jeito do "vão trabalhar malandros", se destinava primeiramente a beneficiários do RSI (vulgo "rendimento mínimo") e agora já vai nos "engenheiros", que aliás eram para os próceres do sistema  que arruinou isto tudo, juntamente com os informáticos e em oposição às "letras", cursos que "faziam falta" ao País. Pelos vistos, agora já não fazem e a "proposta" passou quase de ser recomendada  a "indigentes" para ser putativamente aplicada aos "lentes". As voltas que o mundo dá!!!
Será também curioso analisar a filogénese política da dita "proposta": durante o PREC de 74/75 e com o País numa convulsão só comparável com a actual, mas de sinal contrário, o Governo Provisório "gonçalvista" decidiu não abrir o acesso ao Ensino Superior e como solução de recurso, muito dentro do "ar do tempo", promoveu, "à cubana", o "Serviço Cívico Estudantil" mobilizando os estudantes que tinham concluído o Secundário e que foram impedidos de entrar nas Universidades (então muito menos do que hoje e praticamente todas públicas), naquilo que foi um fiasco organizativo e social , (eventualmente com pontuais excepções que se limitaram a confirmar a regra e que acabou por obrigar ao "enxerto" de mais um ano curricular, primeiro o "Propedêutico", depois o 12º), logo apelidado por muitos sectores políticos e da sociedade de então, nomeadamente o MRPP em que se integravam personagens como o actual presidente da Comissão Europeia - Durão Barroso (mas também Franquelim Alves), como medida "social-fascista", perante o aplauso do então PPD (actual PSD ou PPD/PSD, já não sei bem, depende das opiniões internas).
Esta medida, da "reeducação pelo trabalho" dos jovens escolarizados, foi entretanto abandonada em Cuba e na China (com a condenação do "Bando dos Quatro", quando acabou a "Revolução Cultural") e nunca muito praticada por desnecessária (afinal tinham os "Gulags" e a tradição aristocrática da velha Rússia) na, entretanto extinta, União Soviética.
Estamos pois perante uma "proposta" de tipo "social-fascista", já sem o "social", provando que, mal comparado, como Salazar dizia do nacional-socialismo de Hitler e seus capangas, era muito "nacional" e muito pouco "socialista". Também o "liberal-capitalismo" é sempre adepto de "soluções", se não finais, pelo menos drasticamente "socialistas"  desde que se destinem apenas aos outros e  sejam, de preferência, "para inglês ver".