domingo, 3 de março de 2013

O Retorno do Social-Fascismo (Agora Sem o "Social")






Depois dos dislates, reveladores quanto ao grau de "sensibilidade" social e, já agora, sensatez política, do Primeiro-ministro e de outros membros do Governo com os "piegas", o convite aos jovens para emigrarem e abandonarem as suas "zonas de conforto", vieram as Jonets com os "bifes" (que afinal eram de cavalo), os Ulrichs com o "aguenta, aguenta" e,  "last (até ver) but not least", o dr. João Salgueiro com a proposta de constituição de uma espécie de Brigadas de Trabalho integradas por "doutores e engenheiros", presume-se que mais ou  menos jovens e desempregados para "trabalhar nas obras" e "limpar matas". Quanto às "obras" não sei de que "obras" estará a falar, pois as obras públicas (e mesmo as privadas) estão praticamente paradas e o desemprego nos profissionais do sector já é elevadíssimo. Quanto às "matas" pergunta-se se  será necessário um tão elevado nível de qualificação para o fazer, se o investimento feito na formação de quadros será rentabilizado nessa tarefa. 
Nada tenho, antes pelo contrário, contra o trabalho braçal e o seu exercício não fará "cair os parentes na lama " de quem quer que seja. Discuto apenas a razoabilidade do seu cometimento a este tipo de profissionais quando a jusante há muito mais mão de obra disponível. Infelizmente o desemprego em Portugal não se limita ao de "licenciados" (e mestres e doutores), sendo esse grupo mais um a somar a todos os outros. Não gosto de fazer processos de intenção, mas no caso concreto, vindo de quem vem - um muito conceituado e experiente economista, que começou a sua carreira ainda "jovem turco" na velhice do Estado Novo como Subsecretário de Estado de Marcelo Caetano, esteve na fundação da SEDES, tendo posteriormente sido Ministro das Finanças do Governo de Pinto Balsemão, sendo também um conhecido banqueiro público, tendo passado pelo cargo de Vice-governador do Banco de Portugal e presidido ao Banco de Fomento Nacional e à Caixa Geral de Depósitos (de que é aposentado com cerca de 30 salários mínimos), presidiu ainda à Associação Portuguesa de Bancos. Também foi ele que no Congresso do PSD da Figueira da Foz, foi subitamente "atropelado" pelo automóvel novo de Cavaco que lá foi para  fazer a "rodagem" e deixou Salgueiro apeado. É rodado de mais para "naif". Das duas uma: ou é mais um "soundbyte" para encher entrevistas ou é uma posição "ideológica" do tipo "vão ver o que a vida custa". Mas, meu caro senhor, estes jovens já o estão a saber por terem que aceitar ser caixas de supermercado ou operadores de "call center", sobre-explorados, sub-remunerados, tendo, na melhor das hipóteses, que emigrar, fazendo de Portugal um "case study" de paradoxo ao vivo, vivendo "acima das suas possibilidades" mas mesmo assim "abaixo de cão", como um manifestante oportunamente lembrava em cartaz artesanal na  Manifestação "Que se Lixe a Troika". Um país em declínio populacional, com um acentuado envelhecimento e que, ainda assim, exporta população, demais a mais, qualificada (como no exemplo que citou dos "engenheiros e professores de matemática" da Ucrânia, mas como muito menos "massa crítica") e em quem investiu vastos recursos na qualificação de que outros vão aproveitar.
Por outro lado, é curioso ver a evolução dessa recorrente "proposta" da "limpeza de matas" - quem está atento aos Fóruns da comunicação social (como os da TSF) e das várias estações de televisão ("Opinião Pública" e outros) verificará que ela é mais popular entre taxistas e comerciantes do Bolhão (que me desculpem os visados pela, quiçá injusta, estereotipia) do que entre economistas (se fizermos excepção de ocasionais dromedárias criaturas como um tal Camilo Lourenço, que botando habitualmente discurso economês - mas também agora quem o não faz? - parece que é jurista de formação). Podemos também verificar que a "proposta", assim ao jeito do "vão trabalhar malandros", se destinava primeiramente a beneficiários do RSI (vulgo "rendimento mínimo") e agora já vai nos "engenheiros", que aliás eram para os próceres do sistema  que arruinou isto tudo, juntamente com os informáticos e em oposição às "letras", cursos que "faziam falta" ao País. Pelos vistos, agora já não fazem e a "proposta" passou quase de ser recomendada  a "indigentes" para ser putativamente aplicada aos "lentes". As voltas que o mundo dá!!!
Será também curioso analisar a filogénese política da dita "proposta": durante o PREC de 74/75 e com o País numa convulsão só comparável com a actual, mas de sinal contrário, o Governo Provisório "gonçalvista" decidiu não abrir o acesso ao Ensino Superior e como solução de recurso, muito dentro do "ar do tempo", promoveu, "à cubana", o "Serviço Cívico Estudantil" mobilizando os estudantes que tinham concluído o Secundário e que foram impedidos de entrar nas Universidades (então muito menos do que hoje e praticamente todas públicas), naquilo que foi um fiasco organizativo e social , (eventualmente com pontuais excepções que se limitaram a confirmar a regra e que acabou por obrigar ao "enxerto" de mais um ano curricular, primeiro o "Propedêutico", depois o 12º), logo apelidado por muitos sectores políticos e da sociedade de então, nomeadamente o MRPP em que se integravam personagens como o actual presidente da Comissão Europeia - Durão Barroso (mas também Franquelim Alves), como medida "social-fascista", perante o aplauso do então PPD (actual PSD ou PPD/PSD, já não sei bem, depende das opiniões internas).
Esta medida, da "reeducação pelo trabalho" dos jovens escolarizados, foi entretanto abandonada em Cuba e na China (com a condenação do "Bando dos Quatro", quando acabou a "Revolução Cultural") e nunca muito praticada por desnecessária (afinal tinham os "Gulags" e a tradição aristocrática da velha Rússia) na, entretanto extinta, União Soviética.
Estamos pois perante uma "proposta" de tipo "social-fascista", já sem o "social", provando que, mal comparado, como Salazar dizia do nacional-socialismo de Hitler e seus capangas, era muito "nacional" e muito pouco "socialista". Também o "liberal-capitalismo" é sempre adepto de "soluções", se não finais, pelo menos drasticamente "socialistas"  desde que se destinem apenas aos outros e  sejam, de preferência, "para inglês ver".

3 comentários:

grazia tanta disse...

Subscrevo e vou divulgar

um abraço

Grazia Tanta

imank disse...

Meu Caro:

Está mais que visto e revisto que no toca aos outros e aos danos o capitalismo é sempre "socialista" - sempre adepto da "repartição", desde que fiquem com o "deles" de fora.

Obrigado,
Um Abraço

António José

Manuel Pacheco disse...

Gostei da forma como Daniel Oliveira tratou João Salgueiro no programa Eixo do Mal. O aconselhar João Salgueiro a ir ele limpar a mata do Monsanto mas no horário nocturno, foi de morrer a rir. Assim, digo eu, as utilitárias da mata do Monsanto, para recomeçar o serviço ao outro dia, quando ali chegassem tinham o látex todo apanhado. As vistas eram outras e era capaz de cativar mais clientela contribuindo com isso para a economia do país. O ministro Álvaro podia promover o local como ponto turístico. Ele, que é rico em ideias e inovações.
Clara de Sousa também fez referência a Camilo Lourenço sobre as declarações que fez dos professores de história: “a economia não precisa de professores de história e que há desemprego porque os jovens têm um canudo que não serve para nada”.
Os doutores portugueses só para limpar as matas é que servem. Nunca se viu tanta asneira em tão pouco tempo. Devíamos usar a frase do Rei de Espanha, para Hugo Chaves, Presidente da Venezuela: Por qué no te calas. Mas no plural: