sábado, 7 de novembro de 2009

Vida Fácil


A quantidade de gadgets que apareceram ultimamente para nos "facilitar a vida" é deveras impressionante e tem, muitas vezes, o efeito paradoxal de a complicar ainda mais ou de ser bastante difícil que através deles a vida seja, de facto, mais fácil.
Faz-me lembrar aquela anedota "clássica" da mulher que vai a julgamento por prática da prostituição (então um ilícito) e perante a pergunta do juiz:
- A senhora sabe do que vem acusada? (não, não é a que estão a pensar que é muito "grossa" e eu não sou assim tão ordinário).
- Não senhor doutor juiz, não sei!
- É acusada de ser uma mulher da vida fácil!
-Fácil senhor doutor juiz!? Pois experimente Vossa Excelência fazer ... ... a um bêbado!
É exactamente o que se passa com a mitologia da "inovação" e mesmo sem querer ser muito luddite é óbvio que estes conceitos "balão" não resistem a evidências como a dos nazis terem sido "inovadores" com a utilização da câmara de gás; com efeito matar tanta gente em tão pouco tempo foi recorde só batido pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki.
Até há uma velha "maldição" das mentes geniais da tecnociência serem, em geral, mais profícuas na destruição do que na construção. Foi assim em Los Alamos e se o Bill Gates (para quem a vida ficou, sem dúvida, muito mais fácil) não é, como alguns dizem, o "Anticristo" (se bem que o Maligno use de muitas manhas, com uma fronha daquelas ninguém ia acreditar) o que é verdade é que os seus artefactos tornaram possível, a meias com o telemóvel, a "escravatura" total e a total devassa da vida privada, que entretanto deixou, pura e simplesmente, de existir.
Hoje ninguém escapa ao braço longo do "patrão" a impingir tarefas fora de horas, (fora das horas que ele paga, entenda-se) e ao fim-de-semana e, muitas vezes, em momentos que queremos de lazer ou privados, lá toca o telefone e ou é serviço ou publicidade agressiva e parece não haver volta a dar-lhe.
Sendo justo, também é verdade que estou a publicar este texto num blog.
O mais engraçado de tudo isto é a crescente retórica acerca dos direitos, que é tanto maior quanto menos efectivos eles são, o que a torna autêntica "música para camaleões".

Um comentário:

a Arrábida aqui tão perto disse...

Vida fácil ... Armadilha que feriu uns mais que outros. A esses outros,dizer-lhes que abusar dessa facilidade é falta de educação. Não os torna nem eficazes,nem mais inteligentes( sonho de muitos).
Nós ainda reflectimos sobre o acto, outros nem isso, brincam e escravizam as relações profissionais. Nem dormem, enviam mails. Há cada maluco.
Bom fim-de-semana, é um prazer ler as tuas reflexões.

Ana Ramalho