José Eduardo Bettencourt aproveitou uma derrota para se pôr ao fresco da presidência do Sporting. Um movimento "clássico" - o Efeito Guterres.
Faço desde já a minha "declaração de interesses", como hoje é chic dizer-se mesmo que não sirva para nada e se possa, apesar dela, continuar a ter "interesse interesseiro", o que não é propriamente o caso - sou sportinguista desde que me conheço, mesmo, et pour cause, em terra "vermelha" (antes "encarnada"). Como se dizia há uns bons pares de anos, "não vou em futebóis" e a "clubite", ao contrário dos cortes salariais e outras "minudências", não chega para me tirar o sono, mas gosto do Sporting numa espécie de antiga relação "platónica" que, por vezes, se "aristoteliza".
O Sporting passa por ser o clube da nacional-burguesia e há até uma chalaça com o facto de, no nome, ser o único "grande" com dimensão nacional - é o Sporting Clube de Portugal, enquanto os mais directos concorrentes, um é um Clube de "bairro", o Sport Lisboa e Benfica, mesmo que esse "bairro" tenha, segundo os próprios, seis milhões de habitantes e o outro um clube, quando muito "regional" - o Futebol Clube do Porto.
É conhecida a quadra:
Lisboa é Águia e Leão
É também a Cruz de Cristo
O Porto só tem Dragão
Que é animal nunca visto
A verdade é que se tomarmos à letra a sua alegada condição "elitista" e "burguesa", a situação do clube espelha bem o que são e como se encontram as nossa "elites" e a nossa "burguesia", mais ou menos como ao que conduziram o País - sem rumo e numa espécie de buraco sem fundo, numa crise estrutural em que ao mais leve sopro tudo vai pelos ares. No Porto e enquanto lá estiver Pinto da Costa a situação, mais "café com leite", menos "Apito Dourado", parece sólida, descobre e potencia jogadores e treinadores (Mourinho é só o caso mais emblemático), que valoriza e negoceia com altos proventos, sem ficar desfalcado de alternativas. O Benfica parece estar, mais paulatinamente, a "arrumar a casa" que era a maior das bagunças. Afinal seis milhões de adeptos justificam um número proporcional de "comensais" e "penduras", o que também é "histórico", mas depois da passagem do vigarista para quem "um escudo é um escudo" e por isso se abotoou com muitos, a "coisa" parece estar a ir ao lugar com a persistência algo desajeitada (não é burguês, nem bem falante, nem "sopinha de massa" queque ) de Luís Filipe Vieira.
O caso do "Lagartal" do meu coração é um grandessíssimo pedaço mais complicado e desde os tempos do "The Great John Rock" (João Rocha) o último grande, polémico, mas grande, presidente do Sporting, temos tido de tudo, apesar da seriedade do breve e contrariado intervalo de José Roquette, do Jorge dos Bigodes até ao castiço Sousa Cintra, passando pelo inefável Santana Lopes, conhecido por não acabar quase nada de quase tudo o que começa e por ser uma espécie de "Rei Mirdas", o lendário Rei Midas tinha o condão de transformar em ouro tudo aquilo em que tocava, este transforma tudo em trampa (é "trampolineiro", mas não se aguenta nas andas).
Agora, depois de Dias da Cunha e Soares Franco terem devolvido o clube aos pedigree pals sem qualquer resultado "desportivo" (leia-se futebolístico) digno de registo e de forma consistente, o herdeiro Bettencourt "deu às de Vila Diogo" e se calhar fez muito bem. Pelo menos livrou-se da exaltação dos Dias Ferreiras, dos desacatos dos aprendizes de hooligans da Juve Leo e dos impropérios das "Associações de Adeptos" que tendo passado da idade do hooliganismo físico, parecem ter querido manter-se em forma e passaram ao bota-abaixo, isto é ao hooliganismo verbal. O homem estará certamente melhor em casa e no escritório a tratar dos negócios, do que em Assembleias Gerais tumultuosas, em que os poucos que lá vão querem é "molhar a sopa" e em fins de tarde e noite, sitiado, a ter que "convidar" a polícia de choque.
Soluções com nomes não estou bem a ver - o "badalado" Rogério Alves tem energúmenos de outro coturno para aturar e não quererá, por certo, perder tempo com "arraia-miúda"; só se fôr a oportunidade de algum ilustre desconhecido, desses que têm andado a "apanhar bonés" nas eleições.
Razão tinha Churchill quando, corrigindo um sobrinho de visita ao Parlamento, lhe apontou a bancada oposta, dizendo-lhe: "Ali senta-se o adversário, porque o inimigo costuma sentar-se deste lado, ao pé de nós" .
Também de camarote!!!