sábado, 22 de janeiro de 2011

O Pai Natal, Robin Hood e o Feiticeiro de Oz






Primeiro vieram buscar os Comunistas,
e eu não disse nada,
porque não era Comunista.
Então vieram buscar os Judeus,
e eu não disse nada,
porque não era Judeu.
Então vieram buscar os Católicos,
e eu não disse nada,
porque era Protestante.
Então vieram buscar-me,
e nessa altura,
já não havia ninguém para dizer nada.

Martin Niemöller


Após a época natalícia e em dia de defeso presidencial ocorrem-me algumas das personagens da minha infância e a sua actual inversão de significado – O Pai Natal com as suas surpresas, que continuam a acontecer todos os dias – só que cada uma pior do que a outra; Robin Hood que se trivializou fazendo o que é comum – roubando aos pobres para dar aos ricos e o Feiticeiro de Oz que continua a demonstrar que há alguém atrás da cortina, mas não é quem parece.
No desgraçado campo da Educação tudo começou a escorregar para baixo desde a assolapada “paixão” de Guterres, mais do que platónica, pois mexeu-lhe e mal. A partir daí foi “um ver se te avias” até que chegámos a isto. Pretende desmantelar-se de um dia para o outro todo o edifício para, sobre as suas ruínas, edificar a escola minimalista e fraudulenta que já se anuncia por todos os poros da descaracterização do Sistema. Quem quiser Educação, ou melhor Instrução que ultrapasse a mera balela, que a bem dizer fica muito aquém do ler, escrever e contar, terá de abrir os cordões à bolsa ou então arranjar uma – o que não será fácil.
O problema desta gente que nos desgoverna é com a própria verdade, que ziguezagueando evitam a todo o custo. Assim continuam a embrulhar em roupagens pedagógicas medidas cujo cabimento nada tem que ver com elas, senão seria difícil entender como os mesmos que engordaram os curricula de disciplinas e aumentaram desmesuradamente as cargas horárias para satisfazer lóbis e de certo modo adiar por uma geração o desemprego de licenciados não importando em quê, vêm agora pretender “racionalizar”, atirando para a borda do prato a vida de dezenas de milhares de pessoas, sempre de forma sinuosa e terrorista, escondendo-se em alíneas de rodapé, tornando descartável o que é alardeado por seguro e até, na propaganda oficial, “blindado”. O projecto de Despacho de organização do ano lectivo 2011/2012 é um triste exemplo de toda esta trapalhada com medidas draconianas de eliminação de horários e cortes em Áreas, até há bem pouco tempo apregoadas pelos mesmos, Nossa Senhora, como o supra sumo da excelência educativa.
Acresce a esta mais do que putativa balbúrdia, a exigência dos procedimentos de uma aberração burocrática que a tutela insiste em denominar Avaliação do Desempenho Docente. E não é que esta monstruosidade continua a suscitar proselitismos da parte de professores que se imaginam com o destino dos “convertidos”. Passo a circunstanciar - na segunda metade dos anos 60, época da minha tenra adolescência, uma vizinha que era Testemunha de Jeová afirmava na rua, na mercearia da esquina e no cabeleireiro, que quando se desse a Batalha do Armagedão, confronto final entre o Bem e o Mal, se ela estivesse, por exemplo, comigo perto de um muro que se desmoronasse este só me atingiria e mataria a mim, pois os “convertidos” sairiam incólumes. Assinale-se que esta senhora também disse à minha mãe que tinha que mandar embora uma criadita que dormia no sótão de sua casa, pois estava “possuída por Satanás”, tais os barulhos que ouvia à noite, nunca lhe tendo ocorrido que “Satanás” era o seu próprio marido.
Uma parte dos docentes julga que pondo-se a jeito, deixando-se humilhar e participando como capatazes na humilhação gratuita dos colegas, pois que sentido mais do que vexatório poderá ter esta rábula quando foram cortados vencimentos, quase exclusivamente aos professores (pois já vimos escapar inúmeros “nichos” como na Justiça, na Segurança Social que afinal arrebanha os votos dos “pobrezinhos” e, ainda hoje, na EPAL - a tal dos popós novos e toda uma panóplia de manobras à “açoriana curta”, como aumentar vinte por cento para depois cortar dez), está a ser preparado o despedimento massivo de professores e é certo que não há quaisquer progressões antes de, na melhor das hipóteses, 2015, se irá “safar”.
Tal revela um profundo desconhecimento dos obscuros desígnios de quem gere o sistema como, aliás, já foi demonstrado à saciedade pela sumaríssima destituição de Directores recém‑empossados em virtude da constituição de “mega-agrupamentos”.
“Roma não paga a traidores” e quem julga que “com o mal dos outros posso eu bem” arrisca-se a aprender à sua própria custa e tarde demais que estava redondamente enganado.

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