O candidato Cavaco Silva acaba de "alertar" o eleitorado para os "perigos" que decorreriam se o Palácio de Belém fosse "ocupado" por "aventureiros". Esta declaração para além de denotar que, o homem anda mesmo nervoso e começa a evidenciar algumas das "dúvidas" que, segundo ele próprio, raramente o assolam, mostra também que quer reforçar perante os "mercados" - o eleitoral e quiçá os outros, a sua condição daquilo a que a minha avó chamava "um rapaz muito previsto" - avesso a "aventuras", que "joga sempre pelo seguro" e "não dá ponto sem nó".
Cavaco Silva continua a explorar o "mito" do rapaz "pobre" e "certinho" de origens "humildes", que "subiu na vida a pulso" (chumbou apenas um ano e pagou-o, por imperativo paterno, com o "coiro") e da "política sem políticos" que povoa o imaginário salazarento (vide António de Oliveira Salazar, "Como se Levanta um Estado"), mais evocado em tempo de crise. Este "mito" não resiste à prova dos factos e não é preciso ir buscar Lenine e os "koulaks" russos, basta ler Jaime Nogueira Pinto e o seu excelente e insuspeito "O Fim do Estado Novo e as Origens do 25 de Abril" para entendermos que "campónio" não é sinónimo de "pobre", senão ficariam por explicar a Fábrica de Descasque e Secagem do Sr. Teodoro, pai do candidato, a "Venda" em que, segundo o extinto "Independente", se vendiam litros de vinho em garrafas de sete decilitros e meio e a Bomba de Gasolina em Boliqueime (que, na Via do Infante, está assinalado com uma placa maior do que a de Albufeira) em que eu, que sou multiplamente apaixonado pelo Algarve, pela terra , pelo mar e pela mulher algarvia com quem casei, abasteci tantas vezes.
Está obviamente a querer demarcar-se dos outros candidatos, os "aventureiros", como Manuel Alegre que se "aventurou" a lutar contra o regime fascista, sendo a voz de ouro da Rádio Portugal Livre emitindo a partir de Argel, voz em que ouvi, em primeira mão, a notícia da morte de Salazar ("Perante o cadáver de Salazar passam quarenta anos de miséria, opróbrio e indignidade"...) no Verão de 1970, que depois do 25 de Abril lutou pela Democracia em Portugal contra uma nova ameaça de sinal contrário, as "unicidades" orgânicas com que nos tentaram "sovietizar", sem medo do cenho carregado de algumas figuras camufladas no camuflado, que, já no consulado Sócrates, foi a voz indómita do PS na sua matriz original, a da esquerda democrática e ousou desafiar as suas cedências e cumplicidades com o neo-liberalismo. Pena que se tenha deixado "apoiar" pelo Bloco e depois pelo PS num "abraço de urso" que, por envenenado, (mais da parte do PS que do Bloco) poderá acabar por lhe ser fatal.
Contra "aventureiros" como Fernando Nobre que passou pelos Médicos Sem Fronteiras e pela Amnistia Internacional, tendo fundado a AMI, e, de facto, se aventurou por teatros de guerra, catástrofe e miséria para auxiliar e socorrer, se bem que esteja a ocupar o espaço "Santa da Ladeira" e tenha uns assomos de populismo e de demagogia a ele inerentes (isto dos "independentes" é uma chatice pois costumam revelar-se como os mais dependentes); como o "aventureiro" Defensor Moura que se "aventurou" a, olhos nos olhos com Cavaco, inverter o aforismo da "mulher de César" insistindo em que nestas coisas da seriedade "não basta parecê-lo, é preciso sê-lo mesmo"; de "aventureiros" como o "castiço" José Manuel Coelho que ousa enfrentar o "Jardim" da Madeira expondo os acúleos das flores, com uma "aventurosa" vida pretérita de emigrante e homem dos sete ofícios. O único que não me parece "aventureiro", aliás na tradição do Partido, é Francico Lopes que até só se "aventurou" a entrar para o PCP já depois do 25 de Abril, mas não consta que antes tenha preenchido qualquer ficha para a PIDE a declarar-se "integrado no regime".
Sem "aventureiros" Portugal não teria ido a lado algum, teríamos ficado encerrados no rectângulo, como, aliás, defendiam os "Velhos do Restelo", "rapazes às direitas" e "muito previstos" por causa dos quais a nossa juventude altamente qualificada tem agora de se aventurar e fazer-se à vida do rectângulo para fora; pois estes "rapazes" enquanto compravam a preço de saldo e vendiam a peso de ouro e na véspera da bronca, títulos de Bancos da treta, deixaram para o "comum dos mortais", o encargo de encaixar a "cratera".
All good fellows!
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