domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Salame e a Gangrena


José Sócrates fez mais uma daquelas declarações solenes seguramente aprendidas com os presidentes do futebol quando dizem "manter absoluta confiança no treinador", é certo e sabido que passados dois dias, o dito cujo está no olho da rua. Desta vez e depois dos 150 mil empregos, das Pontes, dos TGVs, do não pagamento de portagens nas SCUTs, da não subida de impostos, da não necessidade de cortar salários, é que "não haverá despedimentos na Função Pública".
Isto para fundamentar a sua postura política de PBX (não sei se se recordam: "Partido Berdadeiramente Xuxialista") face à atitude "neoliberal" do seu émulo "social-democrata".
Claro que o histórico recente nos aconselha a ter cuidado e a esperar um efeito semelhante ao de pedir um segredo a um amigo meu - ele próprio se encarrega de dizer que depois de contar aos primeiros 5 mil, a sua boca se selará como um túmulo. Sem dúvida que demonstra habilidade e beneficia da actual direcção PSD (ou os seus patronos) não dever estar nada interessada em ir para o Poder, que sabe não ter, de momento, "poder" algum. Senão e depois dos "deslizes" da Revisão Constitucional e da admissão pública da possibilidade da entrada do FMI, Passos Coelho não teria recaído com o levantamento da ponta do véu face aos previsíveis despedimentos na Função Pública, dando mais um "balão de oxigénio" ao actual Primeiro-ministro.
Outra possibilidade é, face à eminência dos despedimentos, chantagear com eles e fazer com que trabalhadores da Função Pública e imediatamente a seguir todos os outros, basta atentarmos na retórica gulosa dos dirigentes do patronato, aceitem trabalhar em quaisquer condições, em quaisquer funções, em qualquer local e com qualquer salário, ou então, para os mais antigos e com vencimentos mais elevados, indicar o caminho da "disponibilidade" levando-os, a breve trecho, à aposentação antecipada com enormes reduções do montante das pensões.
É de novo o recurso a uma velha combinação de duas tácticas inspiradas na opção entre "nós" (na verdade "eles") e o "Dilúvio"- a do "salame" que permite cortar a população às fatias "comendo" umas e virando-as contra as outras, que serão "engolidas" a seguir e a da "gangrena" - como quando o médico comunica ao paciente que terá que lhe amputar a perna que está muito gangrenada e perante o pavor deste, que lhe pede para reconsiderar, lhe diz: "Então venha cá amanhã" informando-o, nessa altura, afinal ser "só necessário amputar um pé", ouvindo ainda da parte deste um milhão de agradecimentos e: "Senhor Doutor: Vossa Excelência é um Santo".
Há uns anos, pouco depois da posse do governo Sócrates I, quando se anunciavam as primeiras medidas chanceladas por Lurdes Rodrigues, mas encomendadas muito mais acima na cadeia político-alimentar, que haveriam de lançar a maior das bagunças na Educação, durante um almoço com um casal conhecido, ela minha colega e agora directora de escola (vá-se lá a saber até quando?), perante a minha preocupação acerca da previsível degradação do ambiente relacional e profissional no sector, me respondeu, apontando para o marido que é quadro de uma empresa privada:
- "Que somos nós mais do que as empresas, afinal lá esse mau ambiente já está instalado há muito tempo"?!
Como se fosse legítimo argumentar que seria bom que, por cá, fossem perpetrados uns atentadozinhos suicidas e postas umas bombitas em aeroportos porque no Iraque, no Afeganistão e em Moscovo são o "pão nosso de cada dia"...
Clever, clever !!!

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