"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros."
George Orwell, "Animal Farm"
Se há verdadeiras "pérolas" da coerência e da Ética "xuxialista" e republicana o seu paradigma maior são os Congressos do PS. Nos vários mais recentes de que tenho experiência própria e a situação tem vindo a degradar-se, o que não será de espantar, pois não é preciso ser o Hegel para entender que o geral contamina o particular, as inscrições para intervir faziam-se de véspera na sessão de abertura para que os debates se iniciassem na tarde de sábado, primeiro momento "útil" do único dia "útil" do evento; a princípio era a total balbúrdia na ordem das inscrições, completamente inescrutável, depois os militantes que se iam inscrevendo começaram, por iniciativa minha e do António Cabós (um amigo-irmão que comigo fundou, ou melhor eu com ele, pois é um ano e meio mais velho, a Secção do Barreiro do PS em 29 de Abril de 74) isto no Congresso de 2001 no Pavilhão Atlântico - "Portugal pela Positiva" (foi o que se viu) para que tínhamos sido eleitos pela lista de Henrique Neto (11 delegados em 1500), a exigir senhas com a ordem de inscrição. Lá o pessoal de apoio à COC (sigla típica dos congressos "xuxas" que quer dizer "Comissão Organizadora do Congresso") nos deram uns papelinhos de folha rasgada com o Nº 1 para o Cabós e com o Nº 7 para a minha pessoa, avisando-nos com solenidade para estarmos na sessão da tarde impreterilvelmente às 14.30h, se não, perderíamos a oportunidade de intervir.
Fomos almoçar, à pressa, ao Centro Comercial Vasco da Gama e com a pontualidade como dizem que era a britânica, estávamos lá à "horíssima". Pena que não estivese lá mais ninguém, o António foi obrigado a falar para uma sala às moscas, com a lusa pontualidade a sobrepor-se à nossa e este vosso modesto amigo foi chamado a intervir, pese embora ter na mão a senha nº 7, quase às 2 da manhã com dois ou três gatos pingados na sala enquanto o "eterno" Almeida "Secas" (o tal que acha que nisto das crises "não devem ser só os governos a sofrer, mas também o povo") dormia de cabeça pendida e o Toni Guterres falava ao telemóvel. Escusado será dizer que, entretanto, falou toda a "nomenklatura" dos vários naipes disponíveis que costumam ser e por ordem de entrada em cena: membros do governo, quando e se o PS está no governo, o que tem sido o caso nos últimos malfadados (para nós bem f...dos) tempos; "históricos e referências morais" - sempre os mesmos, o que prova a sua rijeza e longevidade, alguns estão para lavar e durar, não se têm dado mal com o regime; eurodeputados; deputados nacionais; governadores civis; presidentes de Câmara (prioridade absoluta para os de Lisboa e do Porto se calharem a ser PS) e de uma ou outra Junta de Freguesia; sindicalistas da UGT e da tendência socialista da CGTP; "revelações", "reforços" e "coelhos da cartola" (só às vezes, como este que o Passos - "macaquinho de imitação" - tirou agora); eminências pardas de várias castas e proveniências e "last but not the least", cromos como o Tino de Rans que até fez uma "birra" quando lhe cortaram o som e foi corrido do palco, porque estava a dizer umas larachas às 8 da noite, a hora "sacramental" dos telejornais que é, obviamente, para o Secretário-geral. O tempo atribuído a cada interventor é simbolicamente de 3 escassos minutos, mas o seu estatuto pode multiplicar esse número por 10, até o malquisto, mas bem recompensado, Manuel Meria "Sarilho" conseguiu falar 20 minutos debaixo de pateadas e apupos e do aviso constante do Presidente da Mesa: "Camarada terminou o seu tempo !". Mas ainda houve pior - a psicanalista Maria Belo, então eurodeputada, falou durante cerca de meia hora num discurso inextricável que talvez nem Freud ou Lacan tivessem conseguido decifrar.
Enfim - tudo "pérolas" típicas da Ética Republicana de um Partido que se proclama igualitário e que agora se propõe, depois de o ter enterrado, "Defender Portugal".
Nenhum comentário:
Postar um comentário