segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os Congressos do PS enquanto "pérolas" da Ética Republicana





"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros."


George Orwell, "Animal Farm"


Se há verdadeiras "pérolas" da coerência e da Ética "xuxialista" e republicana o seu paradigma maior são os Congressos do PS. Nos vários mais recentes de que tenho experiência própria e a situação tem vindo a degradar-se, o que não será de espantar, pois não é preciso ser o Hegel para entender que o geral contamina o particular, as inscrições para intervir faziam-se de véspera na sessão de abertura para que os debates se iniciassem na tarde de sábado, primeiro momento "útil" do único dia "útil" do evento; a princípio era a total balbúrdia na ordem das inscrições, completamente inescrutável, depois os militantes que se iam inscrevendo começaram, por iniciativa minha e do António Cabós (um amigo-irmão que comigo fundou, ou melhor eu com ele, pois é um ano e meio mais velho, a Secção do Barreiro do PS em 29 de Abril de 74) isto no Congresso de 2001 no Pavilhão Atlântico - "Portugal pela Positiva" (foi o que se viu) para que tínhamos sido eleitos pela lista de Henrique Neto (11 delegados em 1500), a exigir senhas com a ordem de inscrição. Lá o pessoal de apoio à COC (sigla típica dos congressos "xuxas" que quer dizer "Comissão Organizadora do Congresso") nos deram uns papelinhos de folha rasgada com o Nº 1 para o Cabós e com o Nº 7 para a minha pessoa, avisando-nos com solenidade para estarmos na sessão da tarde impreterilvelmente às 14.30h, se não, perderíamos a oportunidade de intervir.
Fomos almoçar, à pressa, ao Centro Comercial Vasco da Gama e com a pontualidade como dizem que era a britânica, estávamos lá à "horíssima". Pena que não estivese lá mais ninguém, o António foi obrigado a falar para uma sala às moscas, com a lusa pontualidade a sobrepor-se à nossa e este vosso modesto amigo foi chamado a intervir, pese embora ter na mão a senha nº 7, quase às 2 da manhã com dois ou três gatos pingados na sala enquanto o "eterno" Almeida "Secas" (o tal que acha que nisto das crises "não devem ser só os governos a sofrer, mas também o povo") dormia de cabeça pendida e o Toni Guterres falava ao telemóvel. Escusado será dizer que, entretanto, falou toda a "nomenklatura" dos vários naipes disponíveis que costumam ser e por ordem de entrada em cena: membros do governo, quando e se o PS está no governo, o que tem sido o caso nos últimos malfadados (para nós bem f...dos) tempos; "históricos e referências morais" - sempre os mesmos, o que prova a sua rijeza e longevidade, alguns estão para lavar e durar, não se têm dado mal com o regime; eurodeputados; deputados nacionais; governadores civis; presidentes de Câmara (prioridade absoluta para os de Lisboa e do Porto se calharem a ser PS) e de uma ou outra Junta de Freguesia; sindicalistas da UGT e da tendência socialista da CGTP; "revelações", "reforços" e "coelhos da cartola" (só às vezes, como este que o Passos - "macaquinho de imitação" - tirou agora); eminências pardas de várias castas e proveniências e "last but not the least", cromos como o Tino de Rans que até fez uma "birra" quando lhe cortaram o som e foi corrido do palco, porque estava a dizer umas larachas às 8 da noite, a hora "sacramental" dos telejornais que é, obviamente, para o Secretário-geral. O tempo atribuído a cada interventor é simbolicamente de 3 escassos minutos, mas o seu estatuto pode multiplicar esse número por 10, até o malquisto, mas bem recompensado, Manuel Meria "Sarilho" conseguiu falar 20 minutos debaixo de pateadas e apupos e do aviso constante do Presidente da Mesa: "Camarada terminou o seu tempo !". Mas ainda houve pior - a psicanalista Maria Belo, então eurodeputada, falou durante cerca de meia hora num discurso inextricável que talvez nem Freud ou Lacan tivessem conseguido decifrar.
Enfim - tudo "pérolas" típicas da Ética Republicana de um Partido que se proclama igualitário e que agora se propõe, depois de o ter enterrado, "Defender Portugal".

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