quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Herr Schulz (ou o "Trangalhadanças")




"O grande defeito das cabeças alemãs consiste em não terem o sentido da ironia, do cinismo, do grotesco, do desprezo e da zombaria."
Otto Flake

Martin Schulz é um homem agigantado, barbudo, de calva proeminente, com um ar desajeitado, algo assim para o "troglodita", e uma evidente bonomia. É aquilo a que a minha avó chamava um "trangalhadanças". Como bom alemão, já que estamos em maré de estereótipos, não deixa de partilhar algumas das características "psíquicas" dos seus concidadãos - o tal "excesso de franqueza" que roça o desaforo e ignora as subtilezas da diplomacia, com uma ignorância dos preliminares e uma falta de jeito que faz lembrar a "clássica" do elefante na loja de porcelanas e o leva a ser também e recorrendo, mais uma vez, ao maravilhoso léxico da minha querida e saudosa avó, "bocajana" (alguém que "fala demais" e diz o que não deve). Já Descartes dizia que "não basta ter o espírito bom, é preciso usá-lo bem" - decidamente Herr Schulz (como Frau Merkel, estão bem um para o outro em "graciosidade") independentemente de satisfazerem o primeiro requisito, estão a milhas de o fazer em relação ao segundo.
Herr Schulz poderá pensar o que entender acerca de tudo o que lhe aprouver, mas terá de ter o discernimento suficiente para entender também que há cargos maiores do que as pessoas que eventualmente os ocupam e que, nessa conformidade, inibem (ou deveriam inibir) os seus titulares de exprimir certas opiniões em público (e por maioria de razão em entrevistas).
Fica, pois, tão mal ao Presidente socialista do Parlamento Europeu imiscuir-se na vida de países pelo menos formalmente soberanos, que têm uma agenda diplomática e económica própria, como à conservadora "Kaiserin" Merkel invocar a frio os maus exemplos alheios como o da Madeira, ou as míticas folgas meridionais, e "moralizar" acerca das relações comerciais de Portugal com Angola ou a China. Já agora o que terá ido a Frau Merkel fazer à China, não me digam que foi provar o "chop-suey"?
Se o problema são os direitos humanos é duvidoso que Herr Schulz transija com a Aliança Euro-atlântica, pois em muitos Estados da Federação Norte-americana há pena de morte. Aliás, Herr Schulz já tinha protagonizado incidentes em que, por muita razão ou boas razões que tivesse, se "espalhou" no estilo que utilizou e na avaliação que fez do "adversário". Antes de desempenhar o cargo que ora ocupa, Herr Schultz, então líder da bancada socialista do Parlamento Europeu, travou-se de razões com Berlusconi tendo "Il Cavaliere" conseguido ridicularizá-lo alegando que ele desempenharia bem o papel de guarda de um Campo de Concentração Nazi (ou alemão, nunca será demais recordar que os nazis só governaram a Alemanha entre 1933 e 1945 porque os alemães os elegeram) num filme sobre a Segunda Guerra Mundial que iria produzir em Itália.
A proverbial rudeza dos saxões (não anglo-saxões, saxões "tout cour") aliada à demagogia populista e a uma falta da tal alegada "ética protestante", sobrando-lhes apenas o "espírito do capitalismo", deixa entrever algum despeito pelo "atrevimento" de alguns dos vassalos de continuarem a ter uns laivos de soberania e uns assomos de política própria. Vai daí começam os "pepinos espanhóis", a "preguiça dos meridionais" e outras pepineiras que insistem em fazer carreira na política interna da Alemanha e vizinhança onde, como em toda a parte, o "pathos" cínico é um trunfo eleitoral. Algum motivo, para além do clima, há-de encontrar-se para que tantos milhares de cidadãos de língua alemã (alemães, austríacos, suíços) e adjacentes (holandeses, etc.) tenham optado por cá residir (e por Espanha, Itália, Sul de França, Malta, Grécia, Chipre) à grande e à portuguesa, isto é, com uma vida que só não é completamente como a nossa, porque os seus rendimentos são à alemã e, em geral, já não trabalham, fazem-no naquilo que lhes dá prazer ou nunca o fizeram.
Que razão levará gente como a Frau Merkel e Herr Schulz a ter uma memória tão selectiva? Se não se esqueceram da hiperinflação, também deveriam recordar-se de até onde foram levados (e acabaram por levar o Mundo) pela "escola" do preconceito.
Por enquanto ainda só têm o "queijo na mão, imaginem se ficam sós com a "faca"?

Um comentário:

Alberto disse...

Esta questão, do domínio Alemão sobre os demais , está em linha com a nossa incapacidade de ser "compreensivos", e como somos muito piegas, enfim temos nuitos defeitos.Se os paizes do sul da europa não encontrarem uma saida estratégica para sair desta ARMIDILHA , ESTAMOS FEITOS !!!
Tou COUR MON FREIRE!