quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mitos e Realidades



Os mitos arcaicos tinham por função "explicar" a realidade e torná-la aceitável, por muito dura e injusta que fosse. Eram um modo de legitimação e também um "espelho" das sociedades que os produziam, através dos "deuses" podemos entrever o comportamento dos homens. Alguns dos mitos contemporâneos têm por função justificar o injustificável em contextos sociais que o não deveriam permitir, mas continuam a espelhar as sociedades que os enunciam.
Em Portugal temos alguns mitos convenientes para justificar um status quo trafulha e laxista, em que a aldrabice e os vigaristas de vários matizes tiram proveito da incúria e da corrupção generalizadas.
Vem isto a propósito de um relatório da Organização Mundial de Saúde que aponta Portugal como sendo o país da União Europeia, tendo por perto apenas a Bulgária, onde as pessoas mais frio sentem em suas próprias casas.
O que terá isto a ver com "mitos"?
Bastante. Esta situação"encaixa" no paleio do "clima ameno", que a meias com "os brandos costumes" é das conversas fiadas que mais tem permitido que se vá suportando o insuportável. Construções de péssima qualidade são vendidas a peso de ouro, para engorda dos "patos-bravos" e dos bancos. Trata-se, como diz um amigo meu, por acaso arquitecto, de "pagar Ferraris e receber Fiats em 2ª mão".
O bastonário da Ordem dos Engenheiros apontou para o abandono das construções tradicionais que, mesmo toscas, pela espessura das paredes, tipologia dos materiais e implantação no terreno (insolação, etc.), eram muito mais sábias e defensivas e lamentou a opção pela chamada construção "ligeira" em altura, obviamente muito mais rentável em termos especulativos, o mesmo terreno acaba por ser vendido várias vezes. Esqueceu-se foi de dizer que essas construções de péssima qualidade, nomeadamente quanto às condições térmicas (e já agora também acústicas e, muito mais grave, pelo menos na "hora da verdade", de muitíssimo duvidosa resistência sísmica) são projectadas por engenheiros (e arquitectos) e aprovadas e putativamente (aqui é que "a porca torce o rabo") fiscalizadas nos serviços técnicos das autarquias e da administração central também por engenheiros (e arquitectos).
Sem querer entrar em "guerras" corporativas esta é a triste realidade, (mal) alicerçada numa "mitologia" frouxa, que como o "paleio" da "demografia" (por parte de quem não se cansa de fragilizar a família em termos concretos) e da "educação" (por quem não pára de encarecer o "produto" e baixar a qualidade) não passam de "música para adormecer grilos" (que são muito chatos quando estão acordados).

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