O achaque de Cavaco, hoje na Guarda durante as comemorações do 10 de Junho, traz à colação duas verdades insofismáveis: a verdade da condição humana a vir ao de cima na sua vertente psicofisiológica, avisando que mesmo contra a vontade dos sujeitos o que tem que ser tem muita força e em ambiente de crispação e de má-consciência as síncopes, por muito "vagais" que sejam, acabam por ocorrer (aliás, com Cavaco Silva não foi sequer a primeira vez, algo semelhante tinha ocorrido em 95 na posse de Guterres) e a verdade "político-territorial" de já não haver "Cavaquistões" e a contestação pública chegar a toda a parte, ainda que protagonizada por sindicalistas que pouco ou nada têm "sindicalizado", pelo menos nos últimos tempos, quando mais falta faria. Fica à vista a fragilidade do poder, mal camuflada pela indecorosa exibição do luxo oficial, mesmo quando se exige "austeridade" aos outros, sempre aos outros, e se considera que as "gorduras do Estado" são as pessoas e não as mordomias como o desfile obsceno de automóveis topo de gama e o inútil desperdício de recursos materiais e humanos para cuja mobilização a conjuntura exigiria, aí sim, alguma contenção e hábitos austeros.
A contradição evidente entre as discursatas e a parafernália exibida acarreta uma imensa crise de confiança de consequências ainda por vir, podendo não ser lá muito lisonjeiras. Quem semeia ventos costuma colher tempestades e a acrimónia governamental traduzida pelo não aperto de mão, que seria o mínimo protocolar, entre Passos e o Presidente do Tribunal Constitucional demonstra bem a que tipo de gente está o País entregue. Tudo porque o Tribunal Constitucional é, apesar do deplorável método de selecção dos juízes (agora lamentado por quem escolheu, queixando-se, ainda que despudoradamente, de si próprio) constituído por pessoas que fizeram as suas vidas e carreiras estando relativamente imunes a chantagens; ao contrário do que acontece no Parlamento enxameado pela indigência e pelo carreirismo, onde a sinecura e a "vidinha" explicam muitas "fidelidades caninas" (sobretudo ao "princípio" do "rei morto", "rei posto") e sobrelevam largamente a independência e a autonomia requeridas para o isento exercício dos cargos, de tal modo e tão sonsos que mesmo comparando com os tempos de Eça de Queirós nos fazem ter saudades do Conselheiro Acácio ou do próprio Palma Cavalão.
Ó da guarda ! Aqui da República !!!