domingo, 14 de agosto de 2011
Dúvidas Teológicas
Se bem que Santo Agostinho tenha propugnado "crede, ut intelligas", a minha filha Leonor com os seus 5 aninhos, menina inteligente, mas afortunadamente não "sobredotada", como diziam dos seus rebentos muitos dos pais dos seus pequenos colegas de então e estamos a falar de 1993 (felizmente a "moda" passou), sempre achou muito estranho que o Menino Jesus apareça ao colo de Santo António, tendo ela consciência da sua não contemporaneidade. Até porque, como muito bem observou, este "não aparece no Presépio".
Outra das suas perplexidades foi a quantidade de designações de Nossa Senhora - Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Rosário, etc.. Então, afinal, "quantas Nossas Senhoras é que há"?
A Leonor, enredada pela lógica, não tinha ainda os dispositivos para entender que no campo da religiosidade a "lógica" é outra e que o catolicismo popular é uma forma de paganismo politeísta em versão "soft", onde há muitos nomes para o mesmo e em que o tempo pode ser simbolicamente abolido mesmo muito antes da "consumação dos séculos".
Nestas coisas o que interessa é que é feriado e como cantou o malogrado Carlos Paião:
Viva o Santo António, viva o São João!
Viva o 10 de Junho e a Restauração!
Viva até São Bento, se nos arranjar!
Muitos feriados para festejar!
Que é o caso de amanhã, 15 de Agosto.
A "troika" que nos leve tudo, impostos, subsídios e sei lá mais o quê. Mas livrem-se de nos tocar nas "pontes"!!!
Já há uns anos que ando a pensar fundar uma religião eclética e multicultural, a IEU - Igreja Ecuménica Universal - à sexta somos muçulmanos, ao sábado judeus e ao domingo católicos. Mais um passo, sem dúvida, para o diálogo intercultural e religioso e, consequentemente, para a paz no mundo.
Só pode levantar um tipo de problemas - como somos uma Igreja muito laica (e muito "light") vem-me sempre à memória aquele episódio da "remarkable" série da BBC "Yes, Prime Minister" quando o "Cabinet" de Sua Majestade tratava de, após a vacatura de uma diocese, nomear um bispo (talvez passe despercebido, mas na Europa temos pelo menos dois casos de não separação, mesmo formal, do Estado face à Igreja - a Grécia e o Reino Unido em que desde Henrique VIII a esta parte e mais massacre menos massacre, os bispos anglicanos são nomeados pelo Governo).
Grande discussão entre os ministros a propósito dos candidatos.
- Fulano - atira um.
- Esse não, que dizem ter amantes!
- Beltrano - chuta outro.
- Esse parece que tem dívidas ao fisco.
- Sicrano - adianta um terceiro.
- Esse é muito autoritário e nada tolerante.
No meio daquela enorme bagunça, o Primeiro Ministro dá um murro na mesa e grita:
- Meus senhores vejam lá se me arranjam um gajo que, pelo menos, acredite em Deus.
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3 comentários:
Muito obrigado. Ainda bem que gostaram.
António José
Desviando um pouco o assunto, irrita-me solenemente que tanta vacuidade bem falante da nossa praça apresente o Reino Unido como o modelo da democracia (seguindo, talvez, a concepção de Salazar das eleições tão livres quanto a livre Inglaterra) - quando, pelo contrário, devido à precocidade da sua gloriosa revolução, o regime britânico se revela actualmente atávico, não só não separando a igreja do estado, mas consagrando uma ideologia religiosa através da chefia estatal de uma igreja, mantendo, apesar das tentativas de reforma, uma câmara aristocrática que detém funções legislativas e o poder judicial supremo, e uma monarquia não constitucional que só em situações ordinárias está reduzida a um papel cerimonial. É estranho que se ataquem tanto, a partir da Europa e de todo o Ocidente, certos regimes islâmicos por não separarem o Estado da Igreja, ao ponto de se terem apoiado ditaduras por ilegalizarem movimentos islâmicos com fortíssimo apoio popular, e não se veja qualquer problema em integrar entre os seus um regime meio aristocrático, meio popular, que confunde completamente a chefia do Estado com a chefia de uma Igreja. Por exemplo, quando em 1992 a FIS ganhou as eleições na Argélia, o Ocidente apoiou a repressão posterior porque, do ponto de vista ocidental, não bastava o sufrágio universal para consagrar um verdadeiro Estado democrático, era necessário separar a Igreja do Estado (muito embora tal concepção tenha mais cariz cristão - contraposição César/Deus - do que propriamente democrático, sendo completamente estranha ao Islão). Os cuidados britânicos com a preservação da tradição mostram bem, ao contrário, que o seu principal desígnio não é democrático, mas antes o de conceder um lugar ao povo para que este não se rebele, procurando manter o poder sempre em "boas mãos", tendo na religião, como em toda a parte, um aliado fundamental para cultivar esse amor pelas instituições ancestrais. Tão-pouco democrática é a instituição monárquica. E os espúrios argumentos de monárquicos acerca das supostas sociedades mais ricas por causa da monarquia (de facto, sonhando com as regalias aristocráticas) não alteram o facto de a monarquia hereditária ser democrática e/ou republicanamente ilegítima. Não é por trazer maior riqueza que se quis aquilo que hoje se chama República, mas sim por ser politicamente mais justa. A última coisa que se pode querer ao pensar como deveria ser um Estado justo é entregar seu princípio de soberania à lotaria da genética, como acontece em qualquer sucessão hereditária. E, já agora, o mesmo se poderia dizer da Igreja. Não deixa de ser curioso que a chefia da Igreja Católica seja electiva e a da Anglicana, não…
Vero e benne trovato caríssimo Joaquim.
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