António José Ferreira, Barreiro, 1956 *
Professor de Filosofia desde 76/77 * Co-fundador da secção do PS no Barreiro em Abril de 74 * Um socialista "insociável" * "Incapaz de assistir num só terreno"
O Professor Marcelo na sua vocação de treinador de bastidor e recorrendo à velha "catequese" entende que como os pecados podem ser "mortais" ou meramente "veniais", as mentiras (já não apenas "inverdades") também podem não ser "substanciais" e a "Miss Swaps" pode safar-se airosamente se escrever uma simples cartinha a dizer que afinal não queria ter dito bem o que disse.
É verdade, sim senhor, se a cartinha for como a do "gato" do outro.
Os brincalhões da pulhítica à portuguesa são inenarráveis em praticamente tudo o que fazem. Depois da semana mais louca de sempre, PREC incluído, com episódios em sessões contínuas de fazer os espectadores do Olímpia corar de vergonha, uma rábula assim entre o burlesco e o patético com um cair do pano (até ver) entre a farsa e a ópera bufa, estiveram todos, o "compére" Cavaco também, ao seu melhor nível, abaixo de cão. Até a "esquerda" conseguiu ficar de esguelha na fotografia com declarações titubeantes e inseguras, arruadas na Baixa à tarde de um abrasador dia de semana e "mobilizações" para debaixo das árvores de Belém, só para picar o ponto.
Curiosamente, ou talvez não, eles quase nem precisam de adversários, são exímios na arte de se enterrarem, pena é que nos tenham enterrado primeiro, a dupla "Passos em volta", "Portas a dentro" como dote, para selar terem voltado aos braços um do outro, prometem concorrer em lista única para o Parlamento Europeu. Depois desta cena à "Maquiavel" de pacotilha será bom recordar Napoleão e um seu, hoje, lugar comum da estratégia com a intemporalidade das grandes verdades: "Nunca interrompas o inimigo quando está a cometer um erro".
O PS só precisa de conseguir retomar o efeito Sousa Franco. Por uma vez, deitem fora os "Vomitais" e as "Estrelas", façam uma lista de jeito e terão mais votos do que eles (leia-se PPD/PSD e CDS/PP) todos juntos.
A profissão de professor é, sem dúvida, das mais expostas e das mais escrutinadas, essa exposição por vezes torna-se uma espécie de "maldição", pois do escrutínio à devassa e à maledicência vai um passo curto demais. Sobretudo numa sociedade com fraco sentido comunitário, muito permeável à velha táctica do "dividir para reinar" que induz as pessoas a só olharem para o lado e raramente para cima e, ainda assim, a preocupar-se demais com a vida alheia ou com aquilo que se projecta como tal, como paliativo e escapatória para a sensaboria da própria.
Os professores como agentes de proximidade, de primeira linha, estão sempre debaixo de mira e é por saber isso que os vários poderes os costumam utilizar como bode expiatório para as suas próprias malfeitorias. Reparem, agora a causa de tudo isto, daquilo que como Salgueiro Maia classificou do "estado a que isto chegou" naquele "dia inicial inteiro e limpo" no genial dizer da mãe do "filho da mãe", não se deve à cupidez e à ganância do capital especulativo, aos negócios ruinosos da banca e das negociatas tóxicas com dinheiros públicos engolidos no turbilhão da "crise"(ainda agora o Banif está a pesar no cálculo do défice a ser pago por "todos"). Nada disto, agora a culpa é dos professores e da sua "intransigência". Então os professores deveriam, se não fossem "egoístas" e "intransigentes", ter oferecido o pescoço para a degola.
Já nos pedem o "sacerdócio" (não certamente o do Abade da Travanca, nem o do Padre Amaro), agora exigem-nos o seppuku (o hara kiri), a aceitação passiva do naufrágio das nossas vidas de cara alegre, através de um imenso coro mediático onde se dizem muitas, muitas mentiras e alarvidades, vindas da má-fé mercenária, da mais crassa ignorância e, as mais das vezes, das duas juntas. Depois de se terem, até ver, calado com "os mais bem pagos da Europa", agora ela é a "excepção das quarenta horas" e "o que são eles a mais do que os outros"? Nesse afã de comparar o que não tem, nem pode ter, comparação, tem-se ido buscar de tudo, desde os médicos e enfermeiros nas Urgências, até às telefonistas que trabalham "fora de horas".
Ora, eu sou filho de uma telefonista e de um contabilista e, bem sei que nessa altura as tecnologias disponíveis não eram propensas ao "tele-trabalho", não me lembro da minha mãe trazer, até porque dava pouco jeito devido ao peso e às dimensões e ainda por cima aquilo tinha imensos fios e "cavilhas", o PBX para casa aos fins-de-semana. Já o meu pai trazia trabalho para fazer em casa e acompanhei-o em muitos "serões" e fins-de-semana de "escritas". Só um "pormenor", não eram para a empresa de que era funcionário, eram trabalhos extra, feitos em horário extra e pagos à parte. Os professores também não apenas estão nas "urgências" nas escolas e no pandemónio social em que estão transformadas (se calhar são os professores que matam pessoas à "naifada" à porta dos estabelecimentos, vá-se lá saber...) como trazem as "urgências" dos seus alunos e não só , também muitas falsas urgências burocráticas a que estão inutilmente escravizados, para casa, com prazos urgentes para as devolver.
Mesmo dando de barato, o que está longe de ser verdade, que estar muito tempo no local de trabalho equivale a trabalhar, como poderá comparar-se o trabalho de um professor, mesmo com as diferenças entre graus e níveis e disciplinas e as circunstâncias dos respectivos alunos terem ou não terem que prestar provas de exame nacional e outros "detalhes", por acaso ou talvez não, todos amalgamados, muito por obra de governos sempre enroupados na linguagem grandiloquente do "rigor" e da "exigência" para inglês ver, com as quarenta horas de permanência no local de trabalho daquele senhor que está sentado numa secretária à entrada dos Ministérios e das Câmaras Municipais?
Como a "troika" tem as costas largas e parece ter ficado indisposta com a "excepção" dada as professores portugueses, ou pelo menos e como a "pulhítica" também é a "guerra" por outros meios, é essa a "notícia" que alimenta a combustão mediática da campanha negra contra os professores, guindados à categoria de "inimigos públicos" pelos verdadeiros inimigos do público que, como é sabido, são muito "amigos do alheio" e se preparam, se deixarmos, para se locupletarem com os despojos do Estado - proponho um pequeno exercício de apuramento factual da verdade - perguntem aos representantes da "troika" em Portugal, os tais da "missão técnica", quantas horas tem o horário dos professores nos seu países de origem que, se não me engano, são a Alemanha, a Dinamarca e a Etiópia. Irão ver que nem na Etiópia os professores têm horários desses.
Ora, vão mas é "dar banho ao cão" e deixem-nos trabalhar!
A trapalhada criada pelo Governo e promulgada por Cavaco em tempo record (menos de 24 horas) do não pagamento do subsídio de férias a todos os funcionários públicos e pensionistas, é prova de que o, em má hora eleito, Presidente da República, mesmo não admitindo ser chamado de "palhaço", se porta como um autêntico "Faz Tudo", um verdadeiro "factotum" do Governo de Passos. Mancomunados na defesa de idênticos interesses, com desprezo absoluto por Portugal e pela esmagadora maioria dos portugueses, exibindo ressabiamento e uma atitude provocatória de evidente e (pouco) ardilosa retaliação contra os funcionários públicos, os pensionistas e as decisões do Tribunal Constitucional que, na prática, tripudiam. Em suma, atacam as já tradicionais "forças do bloqueio" na expressão consagrada pelo senhor Silva (como o "destratava" o seu correligionário Alberto João Jardim) nos tempos em que ainda não tinha ainda progredido na carreira e se ficava pela analogia fisionómica e em matéria de indumentária (temos que reconhecer que nesse aspecto o homem evoluiu) com os manequins da Rua dos Fanqueiros, hoje improcedente já que são todos chineses. Contas feitas na íntegra, só lá para Novembro, se "deusnósenhor" quiser e a quadrilha (a troika mais o "tandem" português Passos/Cavaco - de Portas abertas ou fechadas, consoante as "luas") deixar. Dizem que não é por falta de dinheiro, o que a ser verdade, e não é seguro que seja, se "justificará" apenas por birra anti-democrática. Mas atenção, cheira-me a "estrangeirinha" - a "promessa" para ser paga no próximo "feriado nacional" : o "dia de S. Nunca à tarde".
Como esta gente é perigosa e usa a mentira como método - são capazes de estar já, e para que ninguém veja sequer a cor do dinheiro, a fisgar outra.
Não foi, enquanto cidadão, professor e pai, de ânimo leve que me decidi por fazer hoje greve ao serviço de vigilância aos exames nacionais para que estava convocado. Foi mesmo com mágoa que o fiz, foi de coração pesado, porque sei o que está em causa para os alunos e suas famílias. Não é o mesmo fazer um exame hoje ou noutro dia qualquer e não dá tranquilidade a ninguém saber se o vamos fazer ou não. Mas o que está em causa é muito, a parada está a um nível muito alto, e quem perder esta oportunidade arrisca-se a perder tudo, até a vida.
A anti-política da quadrilha, a troika mais o (des)governo de Portugal (subserviente e não, com certeza, português), está a destruir, não apenas a escola pública, mas a res publicaou seja, de uma só penada, toda a evolução social conseguida por dois séculos de sangue, suor e lágrimas, ameaçada de sucumbir pela investida global do "lumpencapitalismo". Pelo capitalismo que já nem é sequer de "casino", é antes de "roleta russa". Totalmente improdutivo, vive da mega-agiotagem, da usura desbragada, do total amoralismo e do completo desprezo pelo destino das pessoas, na adoração do bezerro de oiro que exige sempre mais e mais vítimas para um holocausto infrene. Chama "economia" ao saque e ao esbulho financistas, chama "equilíbrio" à rapinagem. Aposta no dividir para reinar, fazendo os seus agentes lembrar Tulius Detritus, o homenzinho verde dos álbuns do Astérix que atirado aos leões no circo romano, conseguia pô-los a comerem-se uns aos outros.
Os professores portugueses estão com esta greve a lutar pela vida, pela dignidade da Escola Pública, pelos direitos dos seus alunos, que acompanham e acarinham como ninguém. Os professores portugueses, muitos com três e quatro décadas de profissão e a quem, através de barreiras administrativas, regras mudadas a meio do jogo e penalizações pecuniárias exorbitantes, não deixam aposentar, barrando na prática e para além de todas as retóricas divisionistas, a entrada de sangue novo no sistema, já andaram de terra em terra, dormindo em quartos alugados, comendo meias doses, separando-se do cônjuge e dos filhos, levando muitas vezes "cada um o seu", sem ganhar mais um tostão que fosse, sem qualquer subsídio de deslocação, que na prática não teve, nem tem limites. Até era célebre o irónico provérbio: "Se queres conhecer Portugal, torna-te professor eventual".
Os professores portugueses já não reclamam pelo confisco de grande parte dos salários e subsídios a que, como muitos dos demais cidadãos, estão sujeitos há mais de dois anos, os professores portugueses que fizeram licenciaturas, pós-graduações, mestrados e doutoramentos, fizeram estágios, relatórios de auto e hetero avaliação, tiveram aulas observadas, acções de formação, grelhas e mais grelhas, actas e mais actas (gostava de saber que outra profissão, jurídicas incluídas, é obrigada sistematicamente a relatar o já relatado, avaliar o já avaliado e "burrocraticamente" - de "burro" e "crato", apesar de ser apenas mais do mesmo - a "chover no molhado") e têm honrado os seus compromissos profissionais até ao excesso, vêm-se agora confrontados com horários de quarenta horas, sabendo-se de antemão que muito mais do que isso já trabalham, perguntando que outra profissão com idênticos vencimentos, leva trabalho para casa até à exaustão para as noites de serão, fins-de-semana e férias roubadas à família e à casa? Agora vêm dizer-nos que, após termos construído uma vida com dignidade e brio profissional, podes estar aos quarenta, cinquenta ou sessenta anos, na iminência de seres despedido sem qualquer justa causa e sumariamente lançado na miséria e na indigência, sem teres sequer direito a mínimas contrapartidas pelos teus muitos anos de descontos e de impostos. Gostava também de saber que raio de sistema educativo vai ser este e onde irá o corpo docente, obrigado no quotidiano a confrontar-se com a energia e a vitalidade naturais de dezenas e dezenas de jovens, nem sempre "fáceis", buscar vigor aos sessenta cinco ou sessenta e seis anos?!
Amigos, neste momento, mesmo perante os enxovalhos e as calúnias de quem lucrou com o regabofe e agora clama por austeridade, de quem promoveu a destruição do aparelho produtivo nacional e agora clama pelo "mar", pela "agricultura" pela "reindustrialização", de quem nos fez embarcar em aventuras que nos hipotecaram a soberania e nos conduziram a armadilhas sem saída, a não ser com custos enormes, os professores portugueses estão irmanados no desígnio ético que proclama a defesa da própria vida como um Dever e não será sem luta que desistirão da sua, da dos seus filhos e da dos seus alunos, futuro de Portugal, para que se constituam elites mais dignas do que estas sanguessugas que agora nos assombram e cidadãos mais cônscios que não deixem que tal se venha a repetir.
A Ministra da, entre outras coisas, Agricultura, Assunção Cristas, deu um enxerto ao FMI proclamando, alto e bom som, que o IVA no vinho não subirá em Portugal como os maricas dos nórdicos "cervejólatras" e o etíope deviam gostar. Fica assim nos treze por cento e não nos gordos vinte e três como esses choninhas pretendiam.
Queriam briga, ora tomem lá seus "coisas" de sabão. Eis uma mulher que tem tudo en su sitio. Uma verdadeira mulher às direitas.
Ah valente !
Pois fiquem vocemessês sabendo que, neste rincão abençoado, o vinho é que induca e o fado é que instrói !!!