terça-feira, 31 de março de 2009

A Petição

Foi posta a circular na Internet uma petição que se dirige à Assembleia da República no sentido de ser publicada legislação (à semelhança, aliás, do que se passa em muitos países desenvolvidos, de que o nosso poder político de turno gosta de imitar apenas algumas medidas, aquelas que mais servem à propaganda e mesmo assim, mal e porcamente, passe o plebeísmo), que visa criar penalizações efectivas para a negligência parental, ou seja, visa responsabilizar efectivamente os pais pela educação dos seus filhos.
Pessoalmente acho todo o cabimento nesta iniciativa, agora que a escola se vê confrontada com funções que até há bem pouco tempo, eram para ela acessórias e parecem ser hoje as suas funções principais.
Refiro-me obviamente à função de custódia, a função de baby ou kid sitting, que conjuntamente com a certificação de graus instrucionais que muitas vezes não correspondem exactamente àquilo que deveriam corresponder, são manifestamente as preocupações dominantes do poder político, pretendendo ir assim, rasteira e demagogicamente, ao encontro da representação de necessidades e de certas aspirações sociais.
Em suma, desde que os “meninos” estejam na escola e passem de ano sem grandes chatices “tá-se bem”; é inegável que a preocupação dos pais pela guarda dos filhos durante o seu período laboral é absolutamente legítima, demais a mais num modelo de sociedade onde e cada vez mais, quem trabalha se vê confrontado com ritmos e horários completamente desajustados de tudo o que é tempo para a família. Mas isso, curiosamente, não parece preocupar o poder político.
Vivemos num paradigma em que a miragem do “sucesso” nos traz no quotidiano o mais real dos insucessos, o insucesso relacional que nos atomiza e nos egotiza num mundo pleno de espaços virtuais, mas cada vez mais deserto de realidade.
A “solução” mais fácil passa por transferir para outrem aquilo que não estamos em condições de fazer, ou pelo menos de fazer bem. Claro que a esta “normalidade anormal” se junta a panóplia das várias disfuncionalidades que afectam a sociedade contemporânea, com especial destaque para a desestruturação familiar e, nesses casos, cometem-se à escola as responsabilidades que as “famílias” não estão em condições de assumir.
Assim, a escola passa a ter que ter ombros de Atlas para suportar todo o peso do mundo e não está também muitas vezes em condições de responder a problemas cuja génese não controla, nem pode controlar: o desemprego, a pobreza, a toxicodependência, a violência doméstica, a negligência parental, etc., etc.
Que faz o poder político? Tende a convenientemente “passar a bola” para a escola, mais concretamente para os professores a quem endossa a responsabilidade pelo “insucesso escolar”, pelo “abandono” e por aí fora, pretendendo, assim, “sacudir a água do seu próprio capote” e desviar de si mesmo o estrondoso fracasso das políticas educativas e já agora, económicas e sociais deste regime saído de uma madrugada de glória, entretanto atraiçoada.
Não estou com isto a querer dizer que as escolas e os professores enquanto agentes educativos não possam, nem devam ter nenhum papel e nenhuma responsabilidade no ataque a estas chagas sociais, mas sejamos realistas, a escola e os professores pouco mais podem fazer de que sinalizar os casos mais evidentes e problemáticos de que também como actores de primeira linha sofrem, até fisicamente, as consequências (e agora parece que todos os “santos” dias).
É claro que pondo as coisas deste jeito, depois a jusante, falha tudo, pois o Estado português não garante aos seus próprios cidadãos os meios efectivos de resolução de problemas de natureza social e opta por “fugir para a frente”, envolvendo tudo num paleio muito post‑modernaço típico do bluff intelectual e do flop sociopolítico que constituem estes, muito fracos, epígonos da “Terceira Via” que são os arautos da nossa auto-proclamada “Esquerda Moderna” que, em boa verdade, não é nem uma coisa, nem outra.
A esta propaganda infrene, ajuda a existência de um arsenal conceptual de uma nova sofística que, na sua versão demótico-popularucha, se traduz numa linguagem que tem vindo a elidir a consciência da responsabilidade de cada um, precisamente o que nos define como pessoas, e que começou pela disseminação telenoveleira do jargão “psi”, nomeadamente das “frustrações” e dos “traumas” e agora já vai nas bandas da “auto‑estima”, que são “conceitos-balão” visto que a sua utilização desadequada dá para tudo e por dentro nada têm.
A isto, vêm juntar-se doses maciças de burocracia e facilitismo e está criado o "faz de conta" que alimenta o actual estado de “circo” e teatro das ilusões, “circo” que se torna mais recorrente na falta de “pão”.
Torna-se óbvio que é preciso responsabilizar as famílias e não as deixar esquecer das suas funções, passando o Estado a assumir de facto as responsabilidades tutoriais por todos aqueles que não estejam em comprovadas condições de o fazer.
É que nisto de Educação (que, como costuma dizer um colega e amigo, arquitecto de formação e professor de profissão, é com o Urbanismo, uma das áreas de que toda a gente percebe, mais que não seja, porque toda a gente, mais ou menos, andou na Escola e toda a gente, mais ou menos, mora numa casa) não pode ser só a caça ao “bode expiatório”.
Mas como o exemplo deve vir de “cima”, convenhamos que cadeiras feitas por fax e diplomas passados ao domingo não ajudam; mas como disse Brecht:
“- Cada povo tem o teatro que merece!”

sábado, 28 de março de 2009

O Nacional Playboy




Com mais de cinquenta anos de atraso em relação ao original, saiu a um preço relativamente acessível (3,85€) a edição portuguesa da revista Playboy.
De certo modo fazia falta, pois em tempo de "crise" e consequente depressão generalizada, vem ajudar a levantar o "moral" às hostes de apreciadores e apreciadoras (não esquecer o público "L") do género (do "género" que lá costuma vir magnificamente representado, entenda-se).
Não é que tencione passar a comprar, mesmo não me sentindo ainda no quadro da célebre resposta de Kant à pergunta:
"- Então Mestre, por que é que nunca arranjou mulher? Por que é que nunca se casou?"
O Velho de Koenigsberg respondeu:
"- Porque quando precisava não podia, agora que posso, já não preciso!"
Acho, no entanto, que é positivo sim senhor e ainda por cima, temos uma grande afinidade com o fundador da revista.
É que em toda a minha vida só vi dois homens darem entrevistas em roupão, precisamente Hugh Heffner e o nosso Major Valentim Loureiro.


sexta-feira, 27 de março de 2009

Monumental

O Cinema Monumental não era um edifício belo, mas ainda assim era muito mais bonito e enquadrado no que, na minha modesta opinião, deve ser o casario da zona nobre de uma capital, do que o mono pindérico-maricóide que agora lá está e que lhe usurpou o nome. Era "forte e feio", mas tinha uma excelente qualidade de construção e espaço, "montes"de espaço!
A diferença é tanta, que o actual "Monumental" desde que foi inaugurado em 88, tem estado constantemente em obras e os cinemas com poucos anos de uso, estavam mais degradados que o antigo no fim dos seus dias.
Mas o que quero contar não é a história do "Monumental", é uma história que tem o "Monumental" por "epicentro", digamos assim, e que tem por tema não o "orgulho e preconceito", mas a mais "lusitana" mistura de "ingratidão e preconceito".
O meu tio Manuel, solteirão boémio, pintor, poeta e "intelectual" de avant-garde, era um leitor ávido e um cinéfilo compulsivo e sempre viveu na zona do Saldanha; como "devorava" filmes, era assíduo espectador do Monumental e frequentador do café Monte Carlo, tinha, por isso, uma roda de amizades e conhecimentos nessa zona de Lisboa.
Um desses conhecimentos, não sei exactamente de que tipo, era uma senhora que trabalhava precisamente no Cinema Monumental, já um pouco entradota, mas muito bem arranjada, cabelo, unhas e lábios sempre muito bem pintados, com um ar assim entre a "manicure" um pouco já fanée e uma mulher da pequeníssima burguesia alfacinha e que muito à portuguesa arranjava "borlas" para o Cinema; o meu tio apresentou-me à senhora como sobrinho e como cinéfilo, pelo que passei, também, a beneficiar das ditas "borlas".
Essa senhora trabalhava, mais precisamente, nas casas-de-banho do Cinema e como a sociedade portuguesa era, (e ainda é, se bem que num registo mais sonso) pelo menos em projecção representacional, muito estratificada, as "borlas" que lhe competiam nesse ranking distribuir, eram para o modesto 2º Balcão.
Repare-se que estou a falar do Portugal de meados dos anos 70, de um pouco antes a um pouco depois do 25 de Abril.
Os bilhetes oferecidos eram dois, pelo que comecei por levar um ou outro amigo do Barreiro e um ou outro colega da Faculdade e eles iam entusiasmaddos com a ideia de verem um filme de graça, mas quando percebiam que a minha "amiga" era afinal a empregada dos WC, desatavam, invariavelmente, num gozo alarve.
Se fosse necessária alguma prova de como em Portugal a ingratidão e o preconceito social (aliados, claro está, a uma "monumental" imaginação escatológica) são "unha com carne", eis que estava dada!
Por isso, dado o "histórico" e por que nessas coisas vale mais ser "empirista", nunca lá levei fosse que rapariga fosse (nem colega, nem amiga, nem, por maioria de razão, namorada)!!!

quinta-feira, 26 de março de 2009

"Educação Financeira"

A propósito da "crise" e do "endividamento", ouvi hoje pela manhã um senhor ligado à mediação imobilária afirmar que "devia haver uma discilina de Educação Financeira nas Escolas e logo no Ensino Básico para que as pessoas aprendam a gerir os seus investimentos".
Ora, desde logo esta afirmação como muitas outras do mesmo jaez parte de, pelo menos, dois pressupostos errados:
O primeiro é o de que tudo (e mais um par de botas) deve ser escolarizado, tudo deve ser "dado" na Escola. Ora, isto a contar com todas as solicitadas novas "disciplinas" que deveriam, nesta lógica, ser "implementadas" e iriam desde as, já vetustas, "Educação Sexual" e "Educação Cívica" até à "Educação Rodoviária," passando pela "Educação para o Consumo" e à "Educação Alcoológica" (eu sei que é "surrealista", mas juro que já ouvi esta proposta).
A serem levadas à letra estas pretensões, isso acarretaria que em vez da já disparatada dezena e meia de Disciplinas e Áreas Curriculares que os alunos do 9º Ano são obrigados a frequentar, o novo currículo teria para aí umas cinquenta e seria, claro, impraticável por absurdo.
A esta impraticabilidade acresce a crença errónea de que a escolarização e, na melhor das hipóteses, o conhecimento resolvem, só por si, problemas da ordem dos comportamentos.
Isso não é, de facto, verdade, a verdadeira questão é a da atitude, quem tem carta de condução, por exemplo, sabe o Código da Estrada, o que não implica que uma grande parte dos condutores não o viole sistematicamente.
Ainda por cima há várias disciplinas e áreas curriculares em que estas noções podem ser abordadas tranversalmente, basta que os Programas assim o exijam .
O segundo é que estes fenómenos, (o "endividamento" por exemplo) ocorram por exclusiva responsabilidade das "pessoas", entenda-se dos consumidores, dos "clientes" e se omita sistematicamente a agressividade das campanhas publicitárias dos Bancos e das empresas comerciais em geral e da própria cultura "consumista" global politicamente estimulada, em particular num país como o nosso em que se arruinou o sector produtivo (a Indústria, a Agricultura, as Pescas) e se investe apenas no sector de Comércio e Serviços, em especial no da Grande Distribuição ("Grandes Superfícies").
Não é por acaso que há em Portugal uma inflação de Hipermercados e Centros Comerciais e um dos ratios mais elevados do mundo de "Caixas Multibanco".
Mais espantosa é a "lata" destes sujeitos que andaram (e andam) a vender "gato por lebre", de virem agora e com um ar contristado, dizer que as "pessoas" são "imprudentes" e que deviam voltar à escola para aprenderem a não cair no "conto do vigário" .
E depois, como é que eles compravam os Ferraris?!

sábado, 21 de março de 2009

O "Vital" da Direita

O Professor Freitas, figura incontornável dos últimos regimes e sub-regimes políticos portugueses, andou outra vez nas "bocas do mundo" ( e já agora, no mundo das "bocas").
Depois de descartado como cabeça de lista do PS para o Parlamento Europeu ( talvez por causa das célebres dores nas costas) ou porque o Partido "queimado" pela política de direita do governo e, ainda por cima, com os resultados tornados inúteis por terem sido "torrados" pela "crise", achou por bem virar simbolicamente (mas só simbolicamente) à "esquerda". Agora o PS/Sócrates esteve tentado a propô-lo para Provedor de Justiça, cargo através do qual mantém uma "guerra do tacho" com o PSD.
Ora, depois da "graxa" pública que o Professor Freitas tem dado a Sócrates, seria a mesma coisa que nomear o dr. Pôncio Monteiro Presidente da Comissão de Disciplina ou Reinaldo Teles Presidente do Benfica (é verdade que nesta área nada nos pode espantar, desde que o tal porco foi visto a andar de bicicleta, até o José Veiga e a Carolina Salgado se transferiram para a "Luz").
Tendo em conta o papel do PS/Sócrates como nova "União Nacional", só falta um filme como aquele do António Lopes Ribeiro: "A Revolução de Maio" em que até os mais empedernidos opositores aderem ao Estado Novo, para celebrar estes novos alinhamentos, entre os quais o dos dois eminentes juristas ( e, já agora "valentes" oportunistas), o constitucionalista de Coimbra e o administrativista de Lisboa (a "Lusa Atenas" e a "Lusa Apenas", respectivamente).
Será que Freitas é o "Vital" da "Direita" ou Vital é o "Freitas" da "Esquerda"?!

segunda-feira, 16 de março de 2009

A "Parada da Paródia"

Não é só no âmbito da Segurança Social que o Governo e a Administração Pública por ele tutelada estão a enveredar pela via "humorística para o socialismo", também o fisco dá um ar da sua graça e determina que as Instiuições que beneficiem de donativos resultantes da indicação dos contribuintes de afectação de 0,5% do seu IRS, não irão receber a devolução do IVA.
Chama-se a isto "generosidade" de soma nula e o Estado, neste caso, pretende ficar com a fama sem alijar o proveito; ou seja, pretende "comer o bolo e ficar com ele".
Não pode é perder nada!
E assim se faz demagogia na "República Socretina", em que as luminárias do poder querem fazer dos portugueses parvos e insistem em deitar-nos "areia para os olhos" mesmo que a malandrice "esteja na cara"!
Não lhes passa pela cabeça, por exemplo, cobrar a quem ostenta e não declara, taxar convenientemente as mais-valias provenientes da especulação financeira e deixar de pôr os contribuintes, que são, praticamente em exclusivo, os trabalhadores por conta de outrem, a arcar com os custos dos negócios ruinosos dos aventureiros do capital que quando ganham "empocham" e quando perdem "haja quem pague".

sábado, 14 de março de 2009

"Pierrot le Fou"

O Secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, já nos habituou a "tirar coelhos da cartola" no mínimo hilariantes e isso é positivo, pois em ambiente de depressão generalizada, económica e , por via disso, anímica, o "pessoal" precisa de rir para não chorar.
É o tal rapaz que tinha proposto a entrega de uma modesta prestação retroactiva resultante de um aumento de pensões decidido pelo Governo "tarde e a más horas" e, ainda por cima, a contragosto, em duodécimos, não fossem os velhotes "esturrar" esse "balúrdio" de uma só vez!
Nisso teve uma única voz a apoiá-lo publicamente, a da caridosa tia Maria José Nogueira Pinto (Avillez), que corroborou a posição de Pedro Marques dizendo que: "tudo de uma só vez era mau para os velhos, pois eles gastá-lo-iam em cigarros e cervejas e elas em batons das Lojas dos Trezentos e trapos de feira".
Mas como o clamor público provocado pelo rídiculo (que antigamente chegava a matar) dessas declarações foi enorme, o Ministro Vieira da Silva veio, de imediato, desautorizar o seu jovem subordinado, que sem ponta de vergonha na cara (também não é para isso que lhe pagam e as "oportunidades" são para "agarrar"), não pediu a demissão, apenas emudeceu por uns tempos.
Tem, de facto, pilhéria este jovem e promissor político e é capaz de ir longe na "República Socrática" ( não a do ateniense, mas a do Pinto de Sousa) e, ainda por cima, é do Montijo, que não fica longe das "Áreas de Intervenção Prioritária".
Findo esse "período de nojo" ei-lo que volta ao ataque com mais uma medida de profundo alcance social; desta vez é um projecto para erradicar os "sem abrigo" e passa pela "contratualização" com cada um deles de um "Plano Individual de Inserção" (PII) que será devidamente "monitorizado".
Talvez a melhor maneira maneira de "monitorizar" o cumprimento do PII por parte dos "sem abrigo" seja distribuir um "Magalhães" a cada um e exigir-lhes que enviem Relatórios de Auto-Avaliação semanais pela Internet.
De facto este Pedrinho não pára de nos surpreender!!!

sexta-feira, 13 de março de 2009

"Efectivamente, Gosto de Aparências !!!"


Mesmo perante dados concretos, recentemente publicados, que atestam à saciedade o aumento da criminalidade violenta em todos os domínios: quer a "grande", quer a "pequena", sendo que esta só é pequena para os "teóricos", pois é a que realmente inferniza o quotidiano das populações e transmite mais a sensação, inteiramente justificada, de insegurança e de "faroeste" generalizado; o Governo e os seus próceres mediáticos (o ex-ministro da tutela António Costa, etc.), depois de terem mandado calar o ministro Rui Pereira, que tem tanto jeitinho para lidar com a comunicação social como eu para dançar o Danúbio Azul (não sei se estão a ver?...), só repete o "estafajado" argumento do "aumento de efectivos" das forças de segurança.
Ora, se os efectivos efectivamente (passe a redundância) aumentaram, não se nota nada, pois mesmo no centro das cidades podemos percorrer quilómetros durante horas, sem que se aviste um só polícia e neste particular, o people evidentemente que gosta de aparências!

quinta-feira, 12 de março de 2009

A "Obra" e a Simulação

A oposição de direita está confinada a uma atitude de tentar "forçar a barra" da partilha do poder que, neste momento, mercê da maioria absoluta, é detido praticamente em absoluto pelos "socialistas".
O seu único objectivo é no caso do CDS, impedir a sua reedição e negociar a partilha de "responsabilidades" governativas que logo lhe amansará o radicalismo; é este o desígnio exclusivo de Portas que acena agora com a "triste sina" dos "agricultores", leia-se do pessoal da CAP, ávido de mais e mais milhões da "Europa" /"vaca leiteira".
O caso do PSD é bem mais grave, trata-se de uma situação de torpor
(e estupor) criada pela "elite" que se sente, por uma espécie de droit de sang, como "dona" do Partido.
A "crise de liderança", o posicionamento errático e muitíssimo pouco "assertivo", como agora se diz, não são fruto da "natureza", são antes o resultado de uma operação bem cultivada pelos interesses dominantes no status quo nacional, pelas verdadeiras corporações, (todas pertencentes à poderosa "Irmandade do Cifrão"), que ao ser bem servida pelo PS/"Socretino" decidiu fazer "adormecer" o principal challenger e, para isso, "desfez" Menezes e "recuperou" Santana Lopes, dando-lhe a cada vez mais prevísivel possibilidade de "reconquista" de Lisboa.
Mas no Governo só a "crise" e a esquerda parecem ir tocando perante a deliberada deserção dos "social-democratas" (ou será "sociais"?!).
Post-Scriptum:
Para ajudar à festa só falta mesmo o Dr. António Borges, que entretanto "recalcou" estes desígnios por "inconveniência contextual", tornar a dizer que o PSD quer privatizar a Caixa Geral de Depósitos e a Segurança Social!!!

segunda-feira, 9 de março de 2009

"Portugal Novo"

Os nomes dados a certos bairros e urbanizações costumam ser, em geral, de uma ironia triste.
A operação propangandística, cada vez mais comum, já aliás denunciada por Orwell entre outros, que lhe chamou newspeak, traduz inteiramente a profunda contradição entre a promessa do "nome" e a sórdida realidade da "coisa"; e este fenómeno está longe de se confinar aos autênticos ghettos em que se converteram certos "Bairros Sociais", onde a única lei que parece imperar é a "lei da selva".
Aconteceu ontem domingo, mais um episódio que, pelo menos, de um dos lados da "barricada étnica", parece ter os mesmos protagonistas do tiroteio público e impune (!!!) ocorrido há meses noutro ghetto - a Quinta da Fonte ( mais um lindo nome!!!).
Desta vez foi no bairro "Portugal Novo" às Olaias, novo nome dado à antiga Picheleira*, quando se começou a querer atrair a classe média para lá.
Mas, como por mudarem os nomes não muda, magicamente, a realidade, o que é certo é que, por muito que custe a alguns "rousseauistas" naifs, na maior parte das vezes o "selvagem" não é "bom", demais a mais na "selva" de betão.
Assim, ocorreu mais um confronto público entre duas "comunidades"; que raio, que estranha forma de designar meros grupos, que aliás reflecte bem o paternalismo "politicamente correcto" que é uma forma de racismo por antonomásia. Por certo não estava lá toda a "comunidade" cigana, nem toda a "comunidade" africana, (mais estranho ainda quando no primeiro caso, poderá tratar-se de cidadãos portugueses, espanhóis, romenos, húngaros, etc. e no segundo, de uma infinidade de origens, "tribos", etc.).
Esse confronto implicou uso de armas de fogo pelo menos por uma das partes, armas essas que denunciada a sua localização pela outra, não foram apreendidas pela PSP entretanto chamada ao local, que também não deteve, nem sequer identificou, qualquer dos alegados autores dos disparos (que não terão sido meramente "alegados") e ainda terá agredido à bastonada e com tazers elementos da parte que foi alvo deles, supostamente por "ter medo" da outra .
Ora se analisarmos o motivo (o casus belli) de tudo isto verificaremos que há no nosso país "enclaves" que são autênticas "terras de ninguém" e onde gangs, familiares, étnicos ou não, tentam e pelos vistos, conseguem, impor a sua "lei".
Ou seja, temos nas nossas cidades e até na capital, zonas em que a luta pelo território implica desacatos armados na via pública e as casas de habitação social são "conquistadas" e ocupadas pela força do número e das armas mesmo que estejam habitadas, (parece que neste caso o legítimo inquilino se encontra doente, internado no hospital).
O Estado português deixou de garantir os legítimos direitos dos cidadãos que com ele, mesmo que por interpostas autarquias** ou outras instituições, celebram contratos de arrendamento; a polícia chega e bate apenas na parte queixosa, deixando os responsáveis pelo incidente que, diga-se de passagem, estão habituados a viver fora e acima da lei, completamente impunes e só à espera que o Corpo de Intervenção desmobilize (claro que enquanto lá permanecer, tudo estará na "paz dos anjos") para voltarem ao "ataque".

E ainda dizem mal do PREC e da Guiné!!!


* Quem da minha geração ou anterior não se lembra da carreira de autocarros mais sexy de Lisboa , o célebre 11 da Carris, da Picheleira para a Buraca?!


** A Câmara de Lisboa e a Gebalis certamente que não deram casas aos "amigos" neste bairro, a não ser, talvez, ao cunhado da sopeira ou ao filho do primo do "chófer".

domingo, 8 de março de 2009

" Dizes que és pela Raínha"

" De colarinho engomado
Povoando os Ministérios
És dono dos homens sérios
Ninguém te vai aos costados"


Marx chamou "ideologia" à representação da realidade de "pernas para o ar" e até utilizou a analogia com a câmara escura ou seja, recorreu à semelhança com a fotografia que fazia parte da "alta tecnologia" da altura.
Só neste contexto se poderão entender as acusações de "falta de carácter" e de "falta de solidariedade" feitas por alguém como José Lello a Manuel Alegre.
Gostava de saber que "carácter" e que "solidariedade" demonstrou Lello para com o então secretário-geral do PS, Jorge Sampaio, quando no Congresso do Coliseu do Porto, enquanto este discursava, ele com Jaime Gama e Eduardo Pereira em animada conversa de corredor, teciam comentários soezes à sua pessoa, dizendo, por exemplo: " - Deixa-o ladrar! "
Que carácter e que solidariedade mostrou Lello em relação à eurodeputada Ana Gomes (agora parece que "recuperada" pelo efeito "Causa Nossa") quando ela, corajosamente, denunciou a passagem por Portugal dos "voos da CIA"?!
Que carácter e que solidariedade tem manifestado para com posições democraticamente assumidas que sejam fora das "conveniências", este amigo dos "donos da bola", que representa no PS a poderosíssima "ala do encosto"?!
Há manchas que nem o "Restaurador Olex" é capaz de disfarçar!
Post- Scriptum.
"- Ouve lá pá: onde estavas no 25 de Abril ?!"

sexta-feira, 6 de março de 2009

O Voto Ordálio

Por cá a "democracia" está a tornar-se, por um efeito de "sul-americanização" (que aliás, excede de longe, a esfera da política tout court), numa espécie de ordálio pelo voto.
Sempre que se levantam suspeitas sobre os actos de quem quer que seja, de Valentim Loureiro a José Sócrates, passando por Fátima Felgueiras e Isaltino Morais ( para não falar do "eterno" Jardim), estes e as suas falanges de apoio invocam a sua "legitimação democrática" através do voto.
Assim, os resultados eleitorais sancionariam a respeitabilidade destes "actores" políticos ( porque não, "comediantes"? Qualidades não lhes faltam!) e seriam mais do que suficientes para os ilibar e os declarar "sem sombra de pecado".
Mais uma vez me ocorre o génio dos Monty Python na sua rábula ao Rei Artur e aos Cavaleiros da Távola Redonda, em que para dirimir casos de suspeitas, recorriam à prova por ordálio.
Quer dizer: ou a duelos em que a razão era sempre atribuída ao vencedor, ou a outro tipo de "julgamentos" e "mecanismos probatórios" como o de atirar uma mulher acusada de bruxaria a um lago convenientemente amarrada e amordaçada e ao mesmo tempo, atirar também um pato.
Se ela flutuasse e o pato se afundasse, estaria inocente.

terça-feira, 3 de março de 2009

As atribulações de um "socialista"

Ser "socialista" em Portugal é complicado.
Que o diga Sócrates quando após ter anunciado, no discurso de encerramento do Congresso de Espinho, (excelente camarão, um bocado assim para o "carote", mas para este people, não há crise e "um dia não são dias"), uma daquelas medidas que consubstancia a opção pela "esquerda" e as "preocupações sociais" do Partido e do Governo, que é a promessa da "obrigatoriedade da Educação Pré-Escolar para todas as crianças"; logo veio o porta-voz das IPSS, manifestar publicamente os seus receios de que o Estado possa estar a fazer "concorrência desleal".
Ora, para além do rídiculo da opinião de que o Estado possa fazer "concorrência desleal" a quem quer que seja ao assumir as suas obrigações, podem o Sr. Padre Lino Maia e as IPSS estar descansados que o "negócio" não vai acabar. Pelo contrário, como o anúncio não passa de demagogia eleitoralista, tudo irá continuar na mesma, ou seja, aquilo que o Estado nunca fez vai continuar a não fazer e essa "responsabilidade" vai continuar cometida às IPSS e aos "privados" e, até pode ser que nessas "parcerias" empochem mais uns subsidiozitos.
Post-Scriptum:
Posso, a este propósito, relatar a minha própria experiência: a minha filha nasceu em 88 e até aos 3 anos de idade esteve em casa com uma senhora a quem pagávamos o Ordenado Mínimo, pois como trabalhadores não tínhamos horário para ficar em casa com ela.
Quando chegou aos três anos entendemos pô-la num infantário no Pré-Escolar.
Fizemos uma ronda pelo Concelho e inscrevêmo-la em vários : um público ( o único existente) e dois privados ( um de uma IPSS e outro totalmente particular).
Aguardámos chamada para entrevista com as directoras e fomos nelas informados que no único público que funcionava das 9.00 às 15.00 horas, só com "cunha" da própria directora e, como éramos e ainda somos, "ricos" (para efeitos fiscais, claro, ou seja pagamos impostos), iríamos pagar cerca de 50000 escudos (250 euros).
O mais engraçado disto tudo é que iríamos pagar este montante num infantário público por uma criança, com um horário totalmente despropositado por socialmente inútil, enquanto pessoas nossas conhecidas, do tipo pobrezinhos de BMW, por duas crianças pagavam, apenas, 8000 escudos (40 euros).
Na IPSS o autocarro não atravessava a linha dos caminhos-de-ferro, nessa altura não existia o viaduto cardiovascular da Recosta e iríamos pagar perto do mesmo montante, pelos mesmíssimos motivos (abastança por IRS declarado).
Então, optámos por um Colégio totalmente privado mas em que, pelo menos, éramos todos "ricos" e não havia borlas para ninguém.
Ficámos, assim, em 1991, a pagar 50000 escudos por mês para termos uma criança de três anos num infantário com Pré-Escolar de razoável qualidade e com um horário minimamente adequado às nossas necessidades profissionais.
Que estranho país este em que ter uma criança num infantário é mais díficil e mais caro do que ter um filho numa Universidade privada!!!

Todos do PC

É curioso como os cabeças de lista das cinco principais forças políticas portuguesas para as próximas eleições para o Parlamento Europeu podem ser do PC ou oriundas do PC:
Se não vejamos, ( confirmados e em hipótese):
PS - Vital Moreira, foi deputado do PC.
PSD - Zita Seabra, foi dirigente e deputada do PC.
CDS - Celeste Cardona, foi da Comissão de Trabalhadores da Lisnave durante o PREC (PC).
PCP - Ilda Figueiredo, é, obviamente, militante e dirigente do PC.
BE - Miguel Portas, foi militante e dirigente do PC.
(I)moral da história:
Como disse Mário Soares, que, por acaso, também foi do PC: "só os burros não mudam de ideias", e a maior parte da "malta" é tudo menos "burra" !!!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Bichanices

O "Bichano", (filho do "Tareco"), Sousa Tavares, considera na sua página do "Expresso" do último sábado, 28 de Fevereiro, não ter sido escandaloso, nem verdadeiramente lesivo da liberdade democrática, a apreensão pela PSP de Braga dos livros que na capa exibem "A Origem do Mundo".
Para sustentar esta tese, argumenta que uma coisa é o quadro de Courbet ser visto num museu ou, e passo a citar: "numa exposição onde as pessoas saibam ao que vão..., não para ser reproduzido, por exemplo, num cartaz de rua ou num anúncio de televisão".
Considera mesmo a exposição de tais imagens em Feiras do Livro como um exercício de "saloismo" e de "falsa liberdade", pois permite "atirar o nu explícito" (não sei o que poderá ser o "nu implícito"), "à cara de quem passa e o não procurou, de um pai indefeso que passeia uma criança pela mão numa inocente feira do Livro".
Ora, não consigo descortinar a razão pela qual uma Feira do Livro terá de ser "inocente", e porque deverá esse tipo de eventos em Braga, ser mais "inocente" do que uma Feira do Livro em Lisboa ou no Porto, onde já vi todo o tipo de capas, incluindo a que motivou o "escândalo" ( que, quanto a mim, não foi a sua exibição pública, mas a sua apreensão totalmente arbitrária e ilegal pela PSP), sem que o agora rendido ao pudor, Miguel Sousa Tavares, tivesse dito o que quer que tenha sido.
Também ainda não o ouvi, nem li, mostrar-se agastado com a exibição pública de quecas, demais a mais, adúlteras, aos domingos à hora do jantar, na série da TVI que tem por base e por título uma obra sua: "Equador" e em que até faz uma "perninha", não uma "pernada", como actor.
Se calhar é porque a TV é consumida em privado e o verdadeiro voyeur gosta de algum recato, mais que não seja, para não se expor.
É claro que um probo "pai de família" poderá sempre mudar de canal, mas mesmo assim, corre o risco de deixar que os filhos vejam a fúria devassa do "Salazar" da SIC!!!