segunda-feira, 9 de março de 2009

"Portugal Novo"

Os nomes dados a certos bairros e urbanizações costumam ser, em geral, de uma ironia triste.
A operação propangandística, cada vez mais comum, já aliás denunciada por Orwell entre outros, que lhe chamou newspeak, traduz inteiramente a profunda contradição entre a promessa do "nome" e a sórdida realidade da "coisa"; e este fenómeno está longe de se confinar aos autênticos ghettos em que se converteram certos "Bairros Sociais", onde a única lei que parece imperar é a "lei da selva".
Aconteceu ontem domingo, mais um episódio que, pelo menos, de um dos lados da "barricada étnica", parece ter os mesmos protagonistas do tiroteio público e impune (!!!) ocorrido há meses noutro ghetto - a Quinta da Fonte ( mais um lindo nome!!!).
Desta vez foi no bairro "Portugal Novo" às Olaias, novo nome dado à antiga Picheleira*, quando se começou a querer atrair a classe média para lá.
Mas, como por mudarem os nomes não muda, magicamente, a realidade, o que é certo é que, por muito que custe a alguns "rousseauistas" naifs, na maior parte das vezes o "selvagem" não é "bom", demais a mais na "selva" de betão.
Assim, ocorreu mais um confronto público entre duas "comunidades"; que raio, que estranha forma de designar meros grupos, que aliás reflecte bem o paternalismo "politicamente correcto" que é uma forma de racismo por antonomásia. Por certo não estava lá toda a "comunidade" cigana, nem toda a "comunidade" africana, (mais estranho ainda quando no primeiro caso, poderá tratar-se de cidadãos portugueses, espanhóis, romenos, húngaros, etc. e no segundo, de uma infinidade de origens, "tribos", etc.).
Esse confronto implicou uso de armas de fogo pelo menos por uma das partes, armas essas que denunciada a sua localização pela outra, não foram apreendidas pela PSP entretanto chamada ao local, que também não deteve, nem sequer identificou, qualquer dos alegados autores dos disparos (que não terão sido meramente "alegados") e ainda terá agredido à bastonada e com tazers elementos da parte que foi alvo deles, supostamente por "ter medo" da outra .
Ora se analisarmos o motivo (o casus belli) de tudo isto verificaremos que há no nosso país "enclaves" que são autênticas "terras de ninguém" e onde gangs, familiares, étnicos ou não, tentam e pelos vistos, conseguem, impor a sua "lei".
Ou seja, temos nas nossas cidades e até na capital, zonas em que a luta pelo território implica desacatos armados na via pública e as casas de habitação social são "conquistadas" e ocupadas pela força do número e das armas mesmo que estejam habitadas, (parece que neste caso o legítimo inquilino se encontra doente, internado no hospital).
O Estado português deixou de garantir os legítimos direitos dos cidadãos que com ele, mesmo que por interpostas autarquias** ou outras instituições, celebram contratos de arrendamento; a polícia chega e bate apenas na parte queixosa, deixando os responsáveis pelo incidente que, diga-se de passagem, estão habituados a viver fora e acima da lei, completamente impunes e só à espera que o Corpo de Intervenção desmobilize (claro que enquanto lá permanecer, tudo estará na "paz dos anjos") para voltarem ao "ataque".

E ainda dizem mal do PREC e da Guiné!!!


* Quem da minha geração ou anterior não se lembra da carreira de autocarros mais sexy de Lisboa , o célebre 11 da Carris, da Picheleira para a Buraca?!


** A Câmara de Lisboa e a Gebalis certamente que não deram casas aos "amigos" neste bairro, a não ser, talvez, ao cunhado da sopeira ou ao filho do primo do "chófer".

Um comentário:

Anti PS Neoliberal disse...

TóZé

Conheço uma história verdadeira passada no Rio de Janeiro anos 80, estava-se a estudar a forma de entrar numa favela para atacar os traficantes de droga, o comandante perguntou aos seus subordinados como é que eles resolviam a situação, qual era a forma de acabar com o narcotráfico nas favelas, quando um respondeu, arranjava um autotanque cheio de gasolina e passeava pelas ruas derramando o liquido, quando chega-se ao fim deitava fogo, este policia foi expulso das forças policiais, é evidente que eu não concordo com esta solução mas também não posso concordar com a solução dos políticos portugueses, em primeiro ao criarem guetos em segundo desprezarem as populações.

Como tu sabes ao lado existe uma urbanização construída nos fins de 70 para uma classe média alta e que hoje estão a ver o seu património a desvalorizar-se, o que fazem as entidades? assobiam para o lado.