A propósito da "crise" e do "endividamento", ouvi hoje pela manhã um senhor ligado à mediação imobilária afirmar que "devia haver uma discilina de Educação Financeira nas Escolas e logo no Ensino Básico para que as pessoas aprendam a gerir os seus investimentos".
Ora, desde logo esta afirmação como muitas outras do mesmo jaez parte de, pelo menos, dois pressupostos errados:
O primeiro é o de que tudo (e mais um par de botas) deve ser escolarizado, tudo deve ser "dado" na Escola. Ora, isto a contar com todas as solicitadas novas "disciplinas" que deveriam, nesta lógica, ser "implementadas" e iriam desde as, já vetustas, "Educação Sexual" e "Educação Cívica" até à "Educação Rodoviária," passando pela "Educação para o Consumo" e à "Educação Alcoológica" (eu sei que é "surrealista", mas juro que já ouvi esta proposta).
A serem levadas à letra estas pretensões, isso acarretaria que em vez da já disparatada dezena e meia de Disciplinas e Áreas Curriculares que os alunos do 9º Ano são obrigados a frequentar, o novo currículo teria para aí umas cinquenta e seria, claro, impraticável por absurdo.
A esta impraticabilidade acresce a crença errónea de que a escolarização e, na melhor das hipóteses, o conhecimento resolvem, só por si, problemas da ordem dos comportamentos.
Isso não é, de facto, verdade, a verdadeira questão é a da atitude, quem tem carta de condução, por exemplo, sabe o Código da Estrada, o que não implica que uma grande parte dos condutores não o viole sistematicamente.
Ainda por cima há várias disciplinas e áreas curriculares em que estas noções podem ser abordadas tranversalmente, basta que os Programas assim o exijam .
O segundo é que estes fenómenos, (o "endividamento" por exemplo) ocorram por exclusiva responsabilidade das "pessoas", entenda-se dos consumidores, dos "clientes" e se omita sistematicamente a agressividade das campanhas publicitárias dos Bancos e das empresas comerciais em geral e da própria cultura "consumista" global politicamente estimulada, em particular num país como o nosso em que se arruinou o sector produtivo (a Indústria, a Agricultura, as Pescas) e se investe apenas no sector de Comércio e Serviços, em especial no da Grande Distribuição ("Grandes Superfícies").
Não é por acaso que há em Portugal uma inflação de Hipermercados e Centros Comerciais e um dos ratios mais elevados do mundo de "Caixas Multibanco".
Mais espantosa é a "lata" destes sujeitos que andaram (e andam) a vender "gato por lebre", de virem agora e com um ar contristado, dizer que as "pessoas" são "imprudentes" e que deviam voltar à escola para aprenderem a não cair no "conto do vigário" .
E depois, como é que eles compravam os Ferraris?!
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