sábado, 16 de outubro de 2010

Rankings - Chave de Leitura


Costuma dizer-se que os rankings "valem o que valem” e sou dos que entendem que, apesar de tudo, valem. São indicadores que não podem ser desprezados, embora não se possa comparar o que não tem comparação e não ser absolutamente de estranhar que muitas, mas não a generalidade, das escolas privadas obtenham melhores resultados do que a generalidade das escolas públicas. Tal decorre das vantagens competitivas das primeiras ao terem a possibildade de escolher os alunos, quer pela selecção económica e social, quer pela não-aceitação e mesmo expedita e sumária expulsão dos "indesejáveis" e de escolherem também o corpo docente contratando directamente os professores, o que para o subsistema público talvez não fosse o melhor dos procedimentos, primeiro teria que se garantir a equidade dos concursos, pois sabemos como no sector estatal esta diminui à medida que aumenta a escala de proximidade e sobretudo não sobrecarregar nem uns, nem outros, com imensa papelada e “palha” burocrática e “carradas” de actividades folclóricas que apenas servem de distractor se o foco estiver centrado nos exames.
É que não se podem misturar “alhos com bugalhos” e exigir à Escola Pública que esteja ao serviço da inclusão social trabalhando com alunos e famílias de sectores desfavorecidos e, ao mesmo tempo, faça entrar dezenas de alunos em Medicina (curso em que a média de entrada é, em geral, a mais alta). Isto já para não falar das zonas de implantação dos próprios estabelecimentos, diferentes se interior ou litoral, central ou suburbana, meio tradicional ou desenraizado e até mesmo em espaços geográficos e urbanos coincidentes, pelo menos enquanto continuarem a acontecer situações como a que passo a descrever:
Há já algum tempo, assisti num canal de televisão a uma "estória" rocambolesca de "roupa suja lavada em público", protagonizada por duas responsáveis (então Presidentes dos Conselhos Executivos) de Escolas Secundárias da mesma zona central de Lisboa, a primeira um antigo Liceu e a outra uma antiga Escola Técnica (Comercial e Industrial). A directora que "pôs a boca no trombone" foi a da antiga Escola Técnica ao contar que os serviços do antigo Liceu tentaram "recuperar" a matrícula de um aluno africano que tinham rejeitado e mandado para lá com o resto do que consideravam ser "lixo", alegando "falta de vagas", quando souberam que era filho de um diplomata de um dos PALOPs.
Ora bem - como a "noblesse oblige" e "gente fina é sempre outra coisa"!
Acreditem, como se todos o não soubéssemos, que esta objectiva e despudorada captura do sistema público de Educação (tal como do de Saúde, e do de Justiça e etc.) por interesses privados de supostas "elites" e respectivas clientelas, mandando a "escola inclusiva" às malvas, não se confina apenas a Lisboa e ao Porto. Existe, à escala, por todo o País e é popularmente designado por factor "C" de "cunha" e "compadrio".
Ora aqui, mas não apenas, está uma das principais chaves para a leitura dos rankings.
Há, é claro, entre estabelecimentos com idêntica composição económica e social, diferenças que radicam em factores de cultura de escola e opções de gestão - há quem prefira o trabalho "puro e duro" e quem privilegie aspectos mais lúdicos e "festivos" e ainda quem não seja capaz de resistir a pressões "inflacionistas" da parte dos já referidos sectores sociais "influentes" que, em linguagem futebolística, tudo fazem para conseguir na "secretaria" o que não conseguem em "campo". Ora, isso paga-se nos rankings que têm, pelo menos, o mérito de, ao aferir classificações, pôr a nu algumas derivas, mas é preciso, em primeiro lugar, elaborá-los com rigor e depois lê-los com cuidado, sem precipitações e generalizações abusivas.

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