quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Brandos Costumes (I)



No me creo en brujas, pero que las hay, las hay ...

O vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e do BPN, Norberto Rosa, foi ontem assaltado e sequestrado em Odivelas. Em Julho, Rosa foi designado vice-presidente da CGD, juntamente com António Nogueira Leite, para a administração presidida por José Agostinho de Matos.
Tudo terá começado quando Norberto Rosa estava a sair da sua viatura, na Pontinha, já em Odivelas. Terá sido abordado por dois homens que o obrigaram a entrar para o banco de trás do carro, sob ameaça de uma arma de fogo, conta o "Jornal de Notícias", com base no testemunho de uma fonte policial.

"Recuo" II (Fasquias)




A manobra é clássica e pode caracterizar-se como a táctica da "gangrena". Um diabético vai ao médico e este diz-lhe que tem um braço todo gangrenado e que é preciso amputá-lo, o sujeito reage naturalmente com pânico:
- Oh senhor doutor não me diga uma coisa dessas; o senhor doutor não me diga que não há mais nada a fazer?!
- Olhe, volte cá de hoje a oito dias que torno a falar consigo!
(.../...)
- Então senhor doutor, tem novidades?
- Parece que está com sorte, afinal só é preciso amputar a mão!
- Oh senhor doutor, muito e muito obrigado, vossa excelência é um santo.
Os doutores Passos e Seguro e também o Professor Doutor Cavaco (aka "senhor Silva") apostam neste expediente, a diferença é apenas a fasquia. Enquanto, na linha de Sócrates, para a nova (e pelos vistos, frágil) direcção do PS a fasquia que define um "rico" pronto a ser esfolado, é a de um funcionário público que aufira 1500 euros brutos (não esquecer) mensais, já para a actual maioria PSD/CDS é apenas de 1100. Estando em tudo o mais, por exemplo não tocar no pecúlio e nos reais interesses dos verdadeiros ricos, inteiramente de acordo.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

"Recuo" (ou "Os "Ricos" que Paguem a Crise)



O Governo "recuou" no corte dos subsídios dos funcionários públicos e pensionistas e aumentou a fasquia para os 600 euros brutos (nunca é demais recordar) mensais para o corte de um e 1200 para o saque dos dois.
Moral da história: o conceito de "rico" (fiscal é claro) passou dos 1500 euros brutos mensais do costume, para os 1100 o que quer dizer que, ao contrário do que seria de esperar, agora, em plena recessão, há mais gente "rica" (ou seja mais patos para depenar). A "consciência social" do dr. Passos, do dr. Seguro (que aproveitou para fazer notar que a política para ele é isto mesmo: "melhorar a vida das pessoas") e do Professor Senhor Presidente ficou aplacada por mais esta brilhante evolução negocial pois, no fim de contas, é agora que os "ricos" vão finalmente pagar a crise!

domingo, 27 de novembro de 2011

Cruzada Contra os Albigenses



O malfadado governo português está a assumir uma "filosofia" económica do tipo da Cruzada contra os Albigenses.
Arnaud Amalric, comandante das tropas franco-papais, ao ser avisado por um seu lugar-tenente que na cidade cercada de Béziers também se encontravam muitos "bons cristãos", terá respondido:
- "Matai a todos, Deus depois escolherá!"

O Património e as Troikas




Não deixa de ser curioso o fado ter sido proclamado "Património Imaterial da Humanidade" precisamente numa conjuntura em que o que está em perigo é o seu Património Material.
Portugal vai, aliás, bem lançado em matéria de troikas, com o Fado e o Europeu de Futebol, estamos, como muito bem lembrou um amigo meu, quase, quase a restabelecer os célebres três "Fs" da "outra senhora".
Sempre que não há pão, aumenta o circo...

sábado, 26 de novembro de 2011

Convergência




A Selecção Nacional de Futebol foi, após carreira difícil, muito tipicamente "nacional" e no último momento para não fugir à tradição, apurada para a fase final do Euro 2012.
Ainda bem, pois, quiçá pela primeira vez na história da alienação, convergem os objectivos do poder político e da sociedade. Como tristezas não pagam dívidas e ainda menos pagam a "Dívida", o poder político, mais do que quer, precisa que a sociedade se distraia; a sociedade também, mais do que quer, precisa de se distrair do poder político.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

D. Manuel (Ecce Homo)




Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não


Fui esta noite, a convite da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro ouvir o Bispo Emérito de Setúbal, Senhor D. Manuel Martins falar sobre "A Pobreza" no Auditório da Biblioteca Municipal do Barreiro. Sem que de modo algum a minha expectativa se gorasse, não foi sobre a pobreza que falou, falou antes sobre a Riqueza. A riqueza de estar vivo, a riqueza de ser humano, a riqueza de ser solidário, a riqueza de dar, a riqueza de partilhar, a riqueza de construir um futuro de esperança mesmo e sobretudo, em tempos muito difíceis e das virtualidades que estes tempos têm que fazem com que as pessoas se voltem a encontrar.
É um conversador delicioso e durante hora e meia consolou a audiência com uma sabedoria feita de simplicidade, de serviço e de humor. Aproveitou até o facto de ter a seu o lado o Presidente da Câmara Municipal do Barreiro - Carlos Humberto - para dizer que pela primeira vez o conseguia, pois nos vinte e três anos que esteve à frente da Diocese de Setúbal bem gostaria de o ter feito, mas o edil do Barreiro "esquivava-se" sempre.
Claro que os edis eram outros e os tempos também, mas também mais uma vez ficou provado que o tempo é mesmo um grande mestre.

Hors D'Oeuvre (ou "Vão-se Habituando"...)



"A preguiça e a cobardia são as causas de os homens continuarem, todavia, de bom grado menores durante toda a vida."

Immanuel Kant


Os incipientes "distúrbios" ocorridos durante o dia de ontem, no contexto da Greve Geral, são apenas um tímido prenúncio do que está para vir se a "crise", como tudo indica, se aprofundar e os seus efeitos continuarem, como de costume e sobremaneira, a afectar os que, muito justamente, se sentem sem quaisquer culpas no cartório. Demais a mais quando vêem claramente visto que quem armou a bernarda se está a safar dela, endossando a factura aos que nenhumas responsabilidades tiveram (e escusam de vir com a cínica ladaínha de que "os elegeram", quando não terá certamente sido para isso, nem tendo sequer os principais, os "criadores", não as "criaturas", saído de qualquer eleição). Aliás, o Capitalismo e o Liberalismo ("neo" ou "arqueo") são sempre "socialistas" e "intervencionistas" quando se trata de passar danos e prejuízos.
Podemos não estar a chegar ao "fim do mundo", mas estamos por certo a chegar ao "fim de um mundo", do tal mundinho aconchegado dos pobretes mas alegretes que justificou uma das maiores mentiras de todos os tempos, os "brandos costumes". Ao rasgar-se o pacto social que sustentava a ordem estabelecida, que como muito bem entendeu Salazar e nisso teve um enorme, mas discreto, sucesso, assentava num "viver habitual" em que sem grandes ambições manifestas, as expectativas eram em geral bem sucedidas (lá se ia andando). Tanto que permitiram ao filho do operário ser "mangas-de-alpaca" e ao filho deste ser engenheiro, sem ter que sair da sua "zona de conforto" (na expressão pouco convidativa de um Secretário de Estado recente, mas nada decente).
Para que se passe da "bavardage" e do desabafo ao acto, estão convocados os demónios, senão vejamos: uma classe média que vê desmoronar-se num ápice uma vida que levou décadas, pelo menos três gerações, a construir; um "lumpen" (e também as "minorias") que vai seguramente deixar de poder (o que aliás já se nota no disparo da criminalidade violenta) ser aquietado pelo "pocket money" dos "rendimentos de inserção". O leitor poderá achar, tal como eu, que 500 euros mensais são um rendimento muito baixo, mas se fizermos um pequeno exercício verá que pode não ser bem assim: suponhamos que esses 500 euros vêm "sem osso" ou seja, que o resto dos encargos com habitação, água, energia, gás, alimentação, saúde e escolaridade estão mais ou menos assegurados e que esses 500 euros são, afinal "pocket money", para, como canta o Rui Veloso, cigarros e bilhar, mais uma "bejecas" à mistura, e verá que muita gente supostamente mais abonada, que trabalha e paga impostos, não terá essa liquidez.
Mesmo para quem como eu, que só em teoria acredita que "sem tropa, nem polícia a vida é uma delícia" não é difícil prever que os efeitos desta hecatombe do "modus vivendi" tradicional acarretarão graves consequências ao nível da chamada "ordem pública" ou, pelo menos, do entendimento que dela têm os interesses privados que nos trouxeram até esta desgraçada situação. São disso testemunho as escaramuças de ontem, ligeiro choque com as lestas "forças da ordem", lestas sempre que se trata destas coisas com trabalhadores e manifestantes, é raro ver tal prontidão com os arruaceiros das claques, por exemplo. Talvez seja por que estes fazem parte da sociedade do espectáculo que alimenta o "tittytainment" providenciado pela caixa electrónica, cada vez menos ama-seca e mais distribuidora de "leite" envenenado. É unânime que a Portugal sempre faltou uma elite competente e uma opinião pública esclarecida, mas nem sempre deixou de ser enraivecida, demais a mais tendo bastos motivos para isso. Os incidentes de ontem quer com os piquetes de greve, quer com os "indignados" na escadaria de S. Bento, quer os "cocktails molotov" que umas quaisquer "FP 37", que certamente sem terem lido bem "The Anarchist Cookbook", tal a falta de eficácia dos mais do que rudimentares engenhos, lançaram a horas mortas contra algumas Repartições de Finanças, símbolos do esbulho e da exacção a que está sujeita a parte dos portugueses que paga impostos, perante o crónico regabofe devorista através de um iníquo Sistema Fiscal que saca sempre mais e mais a quem já é sangrado (trabalhadores por conta de outrem e poucos além desses) e deixa sempre de fora os falsos pobres e os verdadeiros ricos, os reais interesses das reais corporações e os privilégios da grande corporação do cifrão, bem poderão ter sido apenas os "hors d'oeuvre" do que está para vir.
No dizer de um conhecido político, entretanto "adormecido", é melhor que se vão habituando.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Porque Detesto Aldrabões




Detesto aldrabões por tudo - pelos danos que causam a quem neles confiou, pela falta de carácter, pelo oportunismo, pela tergiversação constante, pela "esperteza saloia" e por mais uma mão-cheia de abominações. Não posso, pois, deixar de assinalar como extremamente falaz a "resposta" do senhor Primeiro-ministro ao Dr. Mário Soares, a propósito da publicação de um "Manifesto", imputando-lhe a tomada de "medidas de austeridade extremamente duras" aquando das duas outras vindas do FMI a Portugal (1977 e 1983).
Talvez por ser ainda muito novo nessa época, pese embora andasse já entretido com a "laranjota", não se lembre muito bem mas a medida de austeridade mais dura que o Dr. Mário Soares, enquanto Primeiro-ministro, tomou foi o corte de 33% do subsidio de Natal a todos os que o receberam em 1983, que ainda assim foi pago em Títulos do Tesouro reembolsáveis a um ano, o que não teve nada que ver com o actual esbulho discriminatório.
A argumentos destes não se pode imputar apenas "desonestidade intelectual", trata-se de desonestidade tout court. Disso a que se chama má fé.
O senhor Primeiro-ministro que diz ter lido "O Ser e o Nada", devia sabê-lo. Mas se quer a minha opinião, acho que também essa foi outra aldrabice.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Vício da Banca




Que a Banca era "tóxica" já se sabia, não admira que também seja toxicodependente, viciada em injecções de capital público em doses cavalares e sempre crescentes.

sábado, 19 de novembro de 2011

Moqueca de Siri (ou que se Lixe o Montesquieu e Queremos de Volta o Padre Frederico)




Foi aplicada a Duarte Lima a medida de coacção mais gravosa, a prisão preventiva, justificada pelos riscos de fuga e destruição de provas. Já a seu filho, Pedro Lima, além de uma caução de 500.000 euros (oba, minha nossa !!!) foi aplicado o termo de identidade e residência e a proibição de contactar um terceiro arguido. Parece que o magistrado que as decidiu, entendeu que quanto à possibilidade de destruição de provas, o pai, de quem é co-arguido neste processo, nunca lhe terá dito onde guardava as chaves, nem lhe terá ensinado os "cantos à(s) casa(s)", pelo que este as não poderá destruir.
Também me parece uma estranha coincidência, aliás de pronto assinalada por um dos seus advogados (Soares da Veiga), que a Justiça portuguesa só se tenha lembrado de Duarte Lima, após um tão grande lapso de tempo (a esta hora o Isaltino, o Godinho, o Vara e tutti quanti devem estar como o hipopótamo da fábula, a fazer "boca pequena" e a dizer "coitadinho do crocodilo"), quando a polícia e o Ministério Público brasileiros o indiciaram como principal suspeito do homicídio de Rosalina Ribeiro.
Enquanto isto, a Ministra portuguesa da Justiça também dá um ar da sua graça e diz que isso de não haver extradição de cidadãos nacionais para o Brasil não será bem assim...
Bem sei que o estado de necessidade é como que uma serpente que come a própria cauda, ou, em versão mais popular, uma "pescadinha de rabo na boca" - gera-se a partir de muitas promiscuidades e acaba por gerar mais promiscuidade. Mas daí até mandar o Montesquieu às malvas...É que são quase trezentos anos de separação de poderes que se enterram de um dia para o outro, como aliás se está a enterrar o resto da própria democracia. Bem sei que estamos a voltar à Idade Média e ao exemplo de D. Pedro o "Cru", quando pediu a seu primo de Castela que lhe entregasse os "matadores" de Inês de Castro através de uma troca de homiziados. Mas, com os diabos, nunca me passou pela cabeça que pudesse ser tão rápido.
Cá para mim, e pese embora o "leite de moça" seja mais sexy, por aqui cheira a "moqueca de siri" e se isto passa a ser assim, então queremos de volta o padre Frederico!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cantiga para pedir dois euritos...






Vem da serra um infeliz
Vender sêmea por farinha;
Passado tempo já diz:
Esta rua é toda minha.

António Aleixo

terça-feira, 15 de novembro de 2011

"Calamari a la Romana"




Parece que Otelo não foi assim tão "tolo" com a estória do "Golpe de Estado" e até perspectivou algum ganho de causa para os militares (esperemos que não seja do tipo do subsídio que o outro disse querer "segurar"). Aliás, não foi só Otelo, nestas coisas da tropa é preciso fazer pontaria a varrer os ângulos mortos, foram também Vasco Lourenço, Mário Tomé e os dirigentes associativos da "família militar", que pretextando verberar o antigo aspirante a caudilho (só o não terá sido por, segundo as suas próprias palavras, ter deixado passar "o cavalo do Poder" sem lhe saltar para a garupa), lá foram dizendo a mesma coisa de forma um pouco mais "soft", mas sempre com muitos e nem sempre muito subliminares, "innuendos".
O ministro da Defesa, Aguiar Branco, terá agora ponderosos motivos para tentar convencer o "Gasparzinho" a abrir os cordões ao "pré", para que não falte o "rancho" e ainda se arme para aí alguma "bernarda".
A História, pelo menos desde os romanos, aconselha prudência ao poder quando lida com as guardas pretorianas; os imperadores caloteiros costumavam ser no mínimo destituídos e as mais das vezes assassinados, pelos que os deviam proteger.
Afinal, como comentou um grande amigo meu, Otelo falou-lhes ao CU...ração.

domingo, 13 de novembro de 2011

Golpes de Estado




Causaram algum "sururu" as declarações de Otelo Saraiva de Carvalho acerca da legitimidade de um "Golpe de Estado" na actual conjuntura. Ora o personagem é deveras idiossincrático ("Otelo, ó talo, ó tolo, Saraiva de Carvalho, dá a mão ao Vasco "Louco" e vão os dois p'ró ......."). Desta vez o homem terá alguma razão - é inegável que estamos perante um Golpe de Estado institucional em que um Governo eleito na base de mentiras (tal como o anterior - não fazem o que dizem, nem dizem o que fazem) está a pôr em prática a subversão total da ordem constitucional e da simples ordem jurídica (hoje "letra morta"), usando o "estado de necessidade" e a "troika" como álibis quase perfeitos para uma enorme regressão civilizacional promovida pela ditadura do capital financeiro que, entretanto, se dá ao luxo de "despedir" sumariamente líderes eleitos (alguns típicos da ópera bufa, mas isso agora não vem ao caso) e substitui-los por homens de mão, tecnicamente mais convenientes, mas sem qualquer legitimação política directa.
Se isto não é um (Mega) Golpe de Estado, o que será?!
Ladrão que rouba a ladrão...

domingo, 6 de novembro de 2011

Dinastias







Os apelidos dos dirigentes políticos gregos são os mesmos, sensivelmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente desde o fim da Guerra Civil da Grécia (1946-49), com o interregno da Ditadura dos Coronéis (1967-74). As famílias Papandreou e Karamanlis (mas também Venizelos e poucas outras) dominam a cena política desde esses tempos e já vão na terceira geração no Poder, oscilando entre o centro-direita da "Nova Democracia" e o centro-esquerda do PASOK (Partido Socialista Pan-helénico), tal como Onassis e Niarchos dominavam as frotas comerciais. Trata-se de autênticas dinastias.
Ora, por muitas semelhanças que possamos ter com os gregos (e estamos a ver-nos como eles), neste particular somos muito diferentes, a nossa idiossincrasia "cultural" nunca permitirá a constituição de dinastias políticas.
Poderá pensar-se que por bons motivos, em nome da "ética republicana", para impedir o nepotismo, o compadrio e o caciquismo que tal situação acarreta como uma fatalidade. Nada disso, tirem o "cavalinho da chuva", o que se passa é que somos demasiado invejosos para permitirmos tal coisa. Nisto somos muito mais "gregos" do que os próprios gregos, mas assim mais para o "clássico", evocando um tirano da Grécia Antiga, o ateniense Pisístrato (600-528 a.C.) que adoptou a famosa "doutrina da seara", que consiste mais ou menos nisto: quando numa seara, uma espiga se eleva acima das demais, o melhor é cortá-la cerce. Na verdade, só por acaso ou por distracção deixamos alguém subir muito alto e quando isso acontece foi por que escapou à vigilância da comunidade (que entretanto só costuma funcionar como tal para coisas como estas). Dizemos logo que "se está a pôr em "bicos de pés": "fogo nesse gajo (ou "gaja)", mas "quem é que ele pensa que é afinal?"; "Por quem se toma?" Isso é que era bom!"
Se for filho de algum político conhecido, pior um pouco, pois ao sujeitar-se a escrutínio público, seria melhor estar quieto (Ai o "filho do papá", ou o/a "menino/a da mamã" ou "onde é que o bebé acha que vai?").
Que o diga João Soares por exemplo, nunca liberto pela sociedade portuguesa da enorme "sombra" tutelar do pai. Já onde as coisas são feitas mais por "debaixo dos panos" - empresas públicas, alta burocracia estatal, forças armadas, universidade, etc.. Aí já "filho de peixe" costuma "saber nadar" e as dinastias vão-se perpetuando sonsa e discretamente, sem que "ninguém" dê por isso. A propósito e apenas como exemplo: Sabem qual é o apelido do senhor que agora deu posse aos membros do Governo?
Pereira Coutinho. O mesmo apelido dos outros senhores, que deram posse aos outros membros dos outros Governos do 25 de Abril a esta parte.
Aquilo que na política e no meio artístico, ou seja nas áreas que têm exposição pública e mediática é um "carrego", em meios mais "discretos" (ou "secretos") pode ser uma "bênção" e não depender em nada do talento. Como, aliás, se comprovou num dos últimos "Prós & Contras" de Fátima Campos Ferreira, em que um dos jovens apresentados como tendo "furado o cerco" do desemprego de jovens licenciados em Portugal e até botou discurso dizendo umas inanidades sobre a "autoconfiança" e mais umas quantas balelas, é, tão só, filho do sócio maioritário de uma das maiores sociedades portuguesas de advogados.
Henrique Santana, filho do grande Vasco Santana, há uns quarenta anos, na velha RTP, acabou por "explicar" esta situação:
"Quando Vasco Santana era pequeno e saía com o pai, que se chamava Henrique, os transeuntes comentavam: Lá vai o Henrique Santana com o filho; quando Vasco Santana se tornou um actor conhecido e saía com o pai já se dizia : Olha, lá vai o Vasco Santana com o pai. Ora de mim nunca ninguém disse: Lá vai o Henrique Santana com o pai; mas sempre mesmo muito depois de adulto: Lá vai o Vasco Santana com o filho".
Por essas e por outras é que quando perguntavam ao meu querido pai "Como se chama?" Ele costumavam responder:
"Não me chamo. Chamam-me João"!

Um Problema a Menos




Em tempos não muito remotos, por altura das últimas intervenções do FMI em Portugal - ainda não da Troika porque ainda não éramos membros da, então, CEE - chegou a estar pinchado naquele viaduto perto do Aeroporto da Portela:
"O Último a Sair que Apague a Luz"!
Ora, hoje temos esse problema a menos, pois quando isso acontecer já a luz deve estar cortada.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Quimera do Euro




A verdade costuma ser como o azeite: vem sempre ao de cima, mais tarde ou mais cedo. Países como a Grécia, Portugal e, passe a diferença de escala, a Espanha e até a Itália, não tinham e não têm dimensão económica e "cultural" (hábitos, controle, disciplina, rotinas e cautelas financeiras, para além da tradicional "arma" da moeda fraca) para fazerem parte de um espaço monetário como a "Eurolândia", com uma moeda (muito pouco) comum, pois se trata do marco renominado e, pior do que isso, revalorizado.
Estes "clubes" são como certas sociedades, ainda que não seja fácil entrar, é sempre muito mais difícil sair. Pelo menos vivo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pão-por-Deus




Hoje é dia de Todos-os-Santos, dia em que a minha rica avó Amélia punha a mesa com iguarias da época: figos, amêndoas, nozes, passas de uva, batatas-doces - que só levantava depois do dia de Reis (6 de Janeiro), vejam lá a "bruteza".
Por essa mesma mesa, pelo S. Martinho, passavam (é o termo, pois não "paravam" lá muito tempo) castanhas e água-pé da legítima, providenciada pelo meu avô Agostinho "Maneta", um "expert", e bagos de romã, simples ou com Vinho do Porto. Mais perto do Natal, apareciam as filhoses, os sonhos e os coscorões, as broas de milho, castelares e de espécie e o delicioso arroz-doce. A minha avó Amélia era mãe da minha mãe, mas a família do meu pai, de Torres Novas, também, por vezes, enviava as deliciosas "broas-dos-santos" e casca de laranja cristalizada, além dos figos pretos típicos lá da terra (quando a gente tinha uma "terra").
No dia de Todos-os-Santos vinham miúdos, geralmente pobres, mas também alguns que não o sendo, eram só mais "descarados", com sacos, bater às portas dos "remediados" (os ricos eram poucos e moravam longe) a pedir o "Pão-por-Deus", um pequeno óbolo, em espécie, dessas iguarias. Por isso os miúdos mais "burgueses" tinham vergonha de sair à rua, muito menos com sacos, nesse dia, para evitar "confusões" em época de alguma crueldade social.
Tenho saudades desses tempos em que "era feliz e ninguém tinha morrido", demais a mais com a perspectiva de no próximo dia 1 de Novembro já não haver "Santos" e muito menos óbolos.