terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pão-por-Deus




Hoje é dia de Todos-os-Santos, dia em que a minha rica avó Amélia punha a mesa com iguarias da época: figos, amêndoas, nozes, passas de uva, batatas-doces - que só levantava depois do dia de Reis (6 de Janeiro), vejam lá a "bruteza".
Por essa mesma mesa, pelo S. Martinho, passavam (é o termo, pois não "paravam" lá muito tempo) castanhas e água-pé da legítima, providenciada pelo meu avô Agostinho "Maneta", um "expert", e bagos de romã, simples ou com Vinho do Porto. Mais perto do Natal, apareciam as filhoses, os sonhos e os coscorões, as broas de milho, castelares e de espécie e o delicioso arroz-doce. A minha avó Amélia era mãe da minha mãe, mas a família do meu pai, de Torres Novas, também, por vezes, enviava as deliciosas "broas-dos-santos" e casca de laranja cristalizada, além dos figos pretos típicos lá da terra (quando a gente tinha uma "terra").
No dia de Todos-os-Santos vinham miúdos, geralmente pobres, mas também alguns que não o sendo, eram só mais "descarados", com sacos, bater às portas dos "remediados" (os ricos eram poucos e moravam longe) a pedir o "Pão-por-Deus", um pequeno óbolo, em espécie, dessas iguarias. Por isso os miúdos mais "burgueses" tinham vergonha de sair à rua, muito menos com sacos, nesse dia, para evitar "confusões" em época de alguma crueldade social.
Tenho saudades desses tempos em que "era feliz e ninguém tinha morrido", demais a mais com a perspectiva de no próximo dia 1 de Novembro já não haver "Santos" e muito menos óbolos.

2 comentários:

a Arrábida aqui tão perto disse...

Gostei muito do texto, uma doce realidade na tua pena, parabéns.
Ana Ramalho

imank disse...

Muito obrigado Ana.
Um beijinho.
Tozé