Corre hoje e até às 20 horas de Roma, o último dia do pontificado de Bento XVI. Joseph Ratzinger vai voltar a ser, não o que era antes de 19 de Abril de 2005 mas, algo que desde 1415 nunca mais houvera, um Papa renunciante e parece que Papa Emérito (numa novidade titular absoluta). Para este gesto insólito, a resignação, o Papa alega "cansaço". É crível que assim seja, de facto um homem com oitenta e cinco anos deve sentir-se "cansado", mais ainda cansado de toda a envolvente do cargo.
Joseph Ratzinger quando foi entronizado na cadeira de Pedro, que nesse tempo não deve ter passado de um modesto escabelo, sabia, até por ser um homem de "dentro", ocupava as funções de Superior da Congregação para a Doutrina da Fé, o que o esperava. Não era nenhum eremita como um dos seus poucos predecessores na renúncia, Celestino V (1215 - 1296), qual personagem camiliano da "Queda de um Anjo", fosse surpreendido pela promiscua perversidade da Cúria Romana de si por demais conhecida. Talvez não tenha avaliado bem a sua capacidade de lidar com a dimensão do "problema", uma coisa é a teoria, o conhecimento indirecto, outra a situação no concreto. Ratzinger cansou-se do estado demasiado humano do Estado que se reclama representar o divino, cansou-se da baixa política, da constante intriga palaciana, da permanente guerra de facções, das fugas de informação e roubos de documentos que as punham ainda mais a nu, dos escândalos financeiros, dos escândalos sexuais internos (desde a histórica pedofilia, típica dos ambientes concentracionários, até ao poder do "lobby gay" numa instituição - a Igreja Católica - em que nestas matérias é formalmente interdito o "uso", quanto mais o "abuso"). O teólogo de uma ampla clarividência intelectual, cultíssimo e de grande afabilidade que escreveu dos mais belos textos sobre a Eucaristia:
"Se o pão é o símbolo do que o homem precisa, por seu lado o vinho é o símbolo da superabundância da qual também temos necessidade. Ele é sinal da alegria, da transfiguração da criação. Tira-nos da tristeza e do cansaço do dia-a-dia e faz do estar juntos uma festa. Alegra os sentidos e a alma, solta a língua e abre o coração; e transpõe as barreiras que limitam a nossa existência".
Ferido nos seus sentidos ético e estético, por uma realidade em que a Graça poucas vezes está presente e a vaidade (do latim vanitas, de vanus = vazio) e a vã cobiça demasiadas, acabou por não querer resistir. Fartou-se e vai passar o resto dos seus dias com a Esperança de ter apenas um Único e Absoluto interlocutor.
Assim como assim, o homem continua a ser o único animal capaz de distinguir a água benta da água vulgar, o que nem sempre basta para deixar de cair na tentação de navegar em águas turvas.
3 comentários:
Optimo comentario!!
Muito obrigado meu caro amigo.
Estamos a viver um tempo em que o insólito acontece.
Nós, portugueses da nossa geração, tivemos a felicidade da experiência da "História ao vivo" com o 25 de Abril de 74. Agora estamos a ter a dolorosa experiência da "História ao vivo" do seu contrário.
Talvez tenha razão aquele provérbio que dizem ser chinês (certamente confucionista) que reza: "Deus (ou os deuses) nos livrem dos tempos interessantes.
Um Abraço ,
Tozé
Gostei da forma como Daniel Oliveira tratou João Salgueiro no programa Eixo do Mal. O aconselhar João Salgueiro a ir ele limpar a mata do Monsanto mas no horário nocturno, foi de morrer a rir. Assim, digo eu, as utilitárias da mata do Monsanto, para recomeçar o serviço ao outro dia, quando ali chegassem tinham o látex todo apanhado. As vistas eram outras e era capaz de cativar mais clientela contribuindo com isso para a economia do país. O ministro Álvaro podia promover o local como ponto turístico. Ele, que é rico em ideias e inovações.
Clara de Sousa também fez referência a Camilo Lourenço sobre as declarações que fez dos professores de história: “a economia não precisa de professores de história e que há desemprego porque os jovens têm um canudo que não serve para nada”.
Os doutores portugueses só para limpar as matas é que servem. Nunca se viu tanta asneira em tão pouco tempo. Devíamos usar a frase do Rei de Espanha, para Hugo Chaves, Presidente da Venezuela: Por qué no te calas. Mas no plural:
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