quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Estudos de Improdutividade


Um dos mais divulgados mitos acerca dos portugueses é o do "desenrasca". Seríamos então especialistas em fazer tudo de "improviso" ou melhor, "à balda" e como "a necessidade aguça o engenho", as nossas soluções instantâneas para problemas complexos seriam autênticos "ovos de Colombo". Porém se observarmos com atenção o comportamento típico do português comum, em todo o espectro social, veremos que não é assim tão pouco racional e falho de sistematicidade.
Na verdade desenvolvem-se aturados, ainda que informais, estudos de improdutividade estratégica, conceito que não tardará a ser acolhido nas melhores escolas de economia e gestão do planeta. A improdutividade estratégica consiste em demorar o máximo tempo possível para produzir o mínimo e verifica-se na mais banal das intervenções públicas e em todos os sectores da sociedade portuguesa, desde os tribunais às autarquias, passando pelas escolas e pelos hospitais, não poupando sequer a endeusada "iniciativa privada", vejam-se os bancos e as seguradoras, por exemplo.
Ainda esta manhã assisti, em tempo real e ao vivo, a uma demonstração prática dessa nossa tão característica competência, como agora se diz. Em frente à minha casa há um olival (não, não moro no campo, é em pleno centro do Barreiro), transformado em "baldio" e que serve, entre outras coisas (vazadouro de entulho de obras partculares, despejo de lixos vários), de bolsa de estacionamento, ia dizer gratuito, mas de repente lembrei-me dos préstimos dos T.P.A. (Técnicos de Parqueamento Automóvel) que têm que ser devidamente compensados com a "moedinha" da tarifa (afinal há que estimular o empreendedorismo). Somos um povo muito pragmático, se o olival estivesse arranjado, enquadrado num espaço verde, com zona de estacionamento marcada, onde é que a malta ia vazar os entulhos e desfazer-se das tralhas?
Ora, à entrada desse espaço estava, há mais de um ano, a abrir-se uma cratera que ameaçava a integridade dos veículos que ali estacionam, pois os serviços municipais usando de elevado sentido de planeamento, não se precipitaram com intervenções precoces, nada disso. Deixaram o buraco ganhar dimensões apreciáveis e ao fim de um ano mandaram tapá-lo. Calhou esta manhã e não se pense que foi "Sol de pouca dura", não senhor, consumiu exactamente o período de trabalho matutino da brigada que veio proceder à obra e aqui percebemos o apurado sentido de gestão das chefias portuguesas, se tivessem vindo mais cedo e apanhado o buraco numa fase insignificante como iriam justificar meio-dia de intervenção? Temos que ser realistas.
Veio então uma retroescavadora, mais meia-dúzia de homens e claro, um encarregado, chegaram por volta das nove, que entram às oito e o Parque de Máquinas ainda fica a um bom quilómetro do local e por volta do meio-dia deram por terminada a obra, que consistiu em tapar com terra um buraco, pois a hora do almoço é ao meio-dia e meia.
E ainda dizem que não sabemos planificar e que fazemos tudo ao calhas!
Fazer o máximo para produzir o mínimo dá imenso trabalho. Para lá chegar é preciso "queimar muito as pestanas" e nem todos os povos demonstram essa capacidade inata.
Quem não inventa "ovos de Colombo", tem que "desatar nós górdios".
Como dizia o outro:
- "É a vida!"

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